Em pleno inferno astral | Schroders derrapa na gestão de renda va...

Mendes: histórico de longo prazo é que importaEdição 241

 

O último um ano e meio tem sido terrível para o escritório brasileiro da Schroders, subsidiária da gestora inglesa de mesmo nome que orgulha-se de ser a maior asset independente do Reino Unido e uma das maiores do mundo. Ela também ostenta com orgulho, por lá, seu foco na gestão de produtos de renda variável e hedge-funds e sua vocação para o segmento de clientes institucionais.

Mas por aqui, seu escritório tem vivido um verdadeiro inferno astral nos últimos 18 meses, com poucos motivos para orgulhar-se nos dois aspectos que são a marca da casa matriz. Os seus fundos de investimento em renda variável e multimercados têm performado bem abaixo dos benchmarks e a perda de carteiras de clientes institucionais para a concorrência tem sido frequente.

No ranking Melhores Fundos para Institucionais, que esta revista publica a partir de análise feita pela consultoria Luz Engenharia Financeira, nenhum dos fundos da gestora foi classificado como excelentes nos últimos 18 meses. O desempenho de 12 meses dos quatro fundos da gestora analisados pela Luz nas datas de 30 de junho/2011 (edição atual), 31 de dezembro/2012 (edição 236) e 30 de junho/2012 (edição 230), resultaram em nove classificações como “abaixo do padrão” (fundos vermelhos), apenas três como “adequados” (fundos amarelos) e nenhum como “excelente” (fundo verde).

Em termos de recursos de institucionais o escritório brasileiro da Schroders também não tem o que comemorar. Entre janeiro de 2011 e junho de 2012 o volume de recursos de fundos de pensão sob sua gestão caiu 52,2%, de R$ 2,7 bilhões para R$ 1,29 bilhão, enquanto no segmento de RPPS caiu outros 30,1%, de R$ 189 milhões para R$ 132 milhões. Entretanto, no mercado como um todo o volume de recursos terceirizados pelos fundos de pensão cresceu 4,5% nos 18 meses encerrados em junho de 2012, enquanto no segmento dos RPPS saltou espetaculares 167% segundo pesquisa publicada na edição do Top Asset com as assets.

Segundo o diretor local da Schroders, Eduardo Mendes, a asset ainda mantém uma clientela de cerca de 60 investidores institucionais, sendo metade constituída de fundos de pensão e o restante de RPPS. Porém, pesos-pesados do setor como Sabesprev, Fachesf e Faelba, entre outros, encerraram as carteiras ou os fundos exclusivos que mantinham com a gestora.

Segundo um consultor que não quis se identificar, a asset chegou a ter 60 fundos de pensão como clientes até 2007, quando estava no auge, o dobro do que Mendes reconhece ter hoje. Os deficientes desempenhos dos seus fundos, aliados a um alto turn-over nas suas equipes de gestão e comercial nos últimos anos, encarregaram-se de minar aos poucos os números da asset.

A Fachesf, por exemplo, mantinha uma carteira de cerca de R$ 60 milhões sob gestão da Schroders desde 2003. Mas num processo de reavaliação realizado no ano passado resolveu retirar a carteira da asset. “Seguimos um critério que é de trocar o gestor que apresenta pior desempenho durante dois anos consecutivos”, diz Luiz Ricardo Lima, diretor de investimentos da Fachesf. Na época o fundo de pensão trabalhava com seis gestores para a renda variável.

“Eles (Schroders) eram muito bons, foram premiados várias vezes, mas não tiveram bom desempenho nos últimos dois anos”, explica Lima. Ele conta que em anos anteriores a Schroders tinha sido beneficiada por um outro critério adotado pela fundação, que premia o gestor de melhor performance com aumento de 20% na carteira sob gestão. “Mas isso já faz alguns anos, o resultado recente deles não foi bom”, diz Lima. “O mercado está muito aquecido, tem novos gestores com melhores resultados, não podemos ficar parados”.

A Sabesprev é outro fundo de pensão que mantinha um fundo exclusivo com a Schroders e acabou trocando o gestor no ano passado. Foi durante um processo de reestruturação da carteira de renda variável, realizada a partir de 2010, que a fundação passou a reavaliar os resultados da asset. Como ela já não vinha muito bem, a fundação acabou dispensando-a para dar lugar a gestores mais especializados em alguns dos novos segmentos que pretendia entrar na renda variável – dividendos, small caps e valor (ver matéria).

Eduardo Mendes defende-se e diz que os resultados de uma asset devem ser medidos no longo prazo e não no curto, como alguns institucionais fizeram. Cita como exemplo alguns fundos que, embora tenham ficado abaixo do seu benchmark em alguns anos apresentam resultado positivo quando olhados num período mais longo. É o caso do Alpha Plus FI Ações, por exemplo, que caiu 16,62% no ano passado (ver tabela). Mendes reconhece a defasagem do fundo em relação ao seu benchmark, o IBrX em 2008 e 2011, mas argumenta que em todos os outros anos desde sua criação, no ano 2000, o fundo bateu o índice. “Em alguns anos, os ganhos foram muito superiores aos índices de bolsa”, diz. “Agora, realmente no ano passado o resultado foi bastante ruim, mas isso é justificável quando se trata de um fundo que faz uma gestão mais ativa”.

Consultores ouvidos pela reportagem, porém, dizem que as dificuldades da gestora não se restringiram apenas aos resultados do ano passado. “Claro que o problema básico foi de performance de 2011, mas o desempenho já não era consistente desde a crise de 2008. O resultado do ano passado foi o estopim que disparou movimento de resgate de recursos pelos fundos de pensão”, diz um desses consultores que aceitou falar na condição de não ter seu nome revelado.

Mudanças no mercado – Para Eduardo Mendes, além dos resultados ruins dos seus fundos, a redução das carteiras deve-se também a uma mudança estrutural que está ocorrendo no segmento de renda variável dos fundos de pensão. Algumas das principais fundações do país estão em processo de reestruturação das suas carteiras de ações, trocando carteiras e fundos exclusivos indexados ao Ibovespa e ao IbrX por estratégias descorrelacionadas de tais índices. Segundo ele, isso vem ocorrendo desde a crise de 2008, e com maior intensidade, a partir do final de 2010. Fundações como a própria Sabesprev, Fachesf, Fusan e Funcef, entre outras, saíram dos mandatos indexados ao IbrX e adotaram estratégias de dividendos, valor e small caps.

Segundo ele, a Schroders não tinha fundos e mandatos alinhados com estratégias mais defensivas de bolsa. Sua especialidade era a gestão ativa para bater os principais índices de bolsa, o que era realizado muito bem até antes da crise de 2008. Mas quando o mercado de institucionais começou a mudar as fundações passaram a procurar outras assets, algumas especializadas e outras ligadas a grandes instituições financeiras, que estavam posicionadas em dividendos, valor e small caps.

Para o diretor de gestão da Schroders, Beto Scretas, que deixou a asset em meados do primeiro semestre, “o mercado passou por uma transformação nos últimos anos, com o crescimento dos fundos de ETF e também forte incremento de carteiras não referenciadas”. “A Schroders não estava preparada para isso”. Beto trabalhou na Schroders durante 18 anos, coordenando o escritório brasileiro até 2009 posteriormente como principal gestor de renda variável. Ele assume ter realizado algumas apostas erradas nos últimos anos, que prejudicaram a performance dos fundos e carteiras da asset nos últimos anos.

“Fomos penalizados por apostas que fizemos em algumas empresas do setor de construção civil”, diz. Ele cita as posições assumidas em Gafisa e PDG, que despencaram na bolsa em 2011. “Apostamos em empresas de valor, mas as únicas que se salvaram na bolsa o ano passado foram as ações mais defensivas, que não tínhamos na carteira”, comenta. “Mas, assim como ganhamos muitos anos seguidos, perdemos em 2011. Mas agora essas mesmas ações estão se recuperando”, diz.

Com 50 anos de idade, o executivo garante que se aposentou do mercado financeiro e que pretende, a partir de agora, dedicar-se ao terceiro setor. “Tenho 25 anos de mercado financeiro, metade de minha vida, e já estava planejando um novo rumo para minha carreira”. Ele está trabalhando agora em parceria com uma  ONG chamada Instituto de Cidadania Empresarial. “Estamos disseminando um novo modelo de financiamento para empresas sociais”, conta o executivo.

Peso da equipe – Beto fez parte da primeira equipe da Schroders no Brasil. Comandada por Walter Mendes (ex-Itaú e atual Cultinvest), a equipe era composta também por Adriano Koelle (atual Goldman Sachs), Beto Screttas e Eduardo Mendes, sendo que esse último é o único que permanece. Também passaram pela casa nomes conhecidos do segmento de institucionais, como Peterson Paz (atual Goldman Sachs), Heitor de Souza Lima (atual Franklin Templeton) e Fábio Oliveira (ex-Itaú e atual GPS).

Apesar da permanência de Eduardo Mendes e Beto Screttas, que deixou a empresa apenas há alguns meses, a alta rotatividade entre gestores e analistas nos últimos anos é apontada como um dos elementos de perda de competitividade da gestora na disputa das carteiras de institucionais.

Eduardo Mendes não acredita que isso possa ter provocado problemas para a empresa. “A rotatividade faz parte de nosso mercado. Como surgimos primeiro e nos destacamos no segmento, era natural que formássemos bons profissionais e que alguns fossem para outras assets, mais novas”, diz. Ele diz que os profissionais que saíram foram substituídos por outros, todos de primeiro nível do mercado financeiro.

No lugar de Beto Scretas assumiu Marcos de Callis (ex-Citibank e ex-HSBC),  como diretor de gestão. Outros contratados recentes são Eduardo Carlier (vindo do Santander), que se junta a André Spolidoro e Adriano Casarotto na equipe de renda variável. Na gestão dos multimercados da casa está Gilberto Kfouri Jr. (ex-BNP Paribas), enquanto José Carlos Seixas (ex-HSBC e ex-Bram) comanda a gestão de renda fixa.

Outra mudança importante foi o retorno de John Troiano para comandar os escritórios da Schroders na América Latina. O executivo tinha participado da implantação da unidade brasileira da asset, no final da década de 90. Depois saiu para cumprir outras funções na matriz, retornando agora no início de 2012 para retomar a coordenação dos negócios da América Latina. Ele tem visitado com frequência o escritório brasileiro nos últimos meses. Em sua última visita, em julho passado, ajudou a definir a reestruturação da equipe da Schroders, com a promoção de Marcos de Callis como diretor de gestão.