Edição 230
A indústria de gestão de recursos provou ser resistente nos dez anos desde os ataques terroristas de 11 de setembro de 2001, apesar de as coisas jamais terem voltado a ser as mesmas de antes. É o que diz um artigo publicado pela Pensions&Investments. Segundo a reportagem, mesmo as gestoras mais abaladas sobreviveram e prosperaram.
Entre elas estão a Fiduciary Trust Co. International e a Fred Alger Management, dizimadas pela perda de 97 e 35 funcionários, respectivamente, quando seus escritórios localizados no World Trade Center foram destruídos. Ambas vão homenagearam seus funcionários por conta do décimo aniversário dos ataques de 11 de setembro.
Ainda assim, a indústria de gestão de recursos não escapou ilesa da tragédia. Os ataques deixaram como herança uma sensação permanente de vulnerabilidade e mudaram para sempre a forma como o mundo pensa a respeito dos investimentos. “Aquele 11 de setembro alterou fundamentalmente a confiança do mundo e passou a nos dar a impressão de que estamos sempre à beira de uma crise”, afirma J. Tomilson Hill, presidente e CEO da Blackstone Alternative Asset Management. Ele completa que, antes dos ataques de 2001, havia o consenso de que os governos, incluindo os bancos centrais, seriam sempre capazes de encontrar soluções para qualquer problema. “No entanto, chegamos muito perto de ver todo o sistema financeiro global ruir. O 11 de setembro contribuiu para a noção de que as intituições com as quais contamos não estão sempre no controle e para a percepção de que a vulnerabilidade afeta tudo – mercados, instituições financeiras e decisões pessoais”, completa o executivo. De acordo com fontes ouvidas pela Pensions&Investments, essa percepção de vulnerabilidade mudou drasticamente a perspectiva de participantes do mercado.
“Não há dúvida de que os ataques exerceram um impacto permanente no sentido de mudar a forma com que olhamos para o mundo”, concorda Andrew W. Lo, professor de finanças do Instituto de Tecnologia de Massachusetts e presidente da gestora de hedge funds AlphaSimplex. Apesar de não ter sido o primeiro incidente que teve como consequência um movimento de flight to quality de longo alcance, “o 11 de setembro marcou a chegada de uma era em que a globalização começou a adquirir a forma pela qual a conhecemos hoje”, completa ele. Lo observa que desde então houve inúmeros casos em que variadas classes de ativos se tornaram altamente correlacionadas, o que mudou a maneira de se pensar sobre riscos e investimentos.
Mais risco – “O mundo, especialmente os Estados Unidos, passou a ser um lugar muito mais arriscado desde 11 de setembro de 2001. Tem havido um crescimento quase permanente nos prêmios de risco porque os ataques adicionaram um risco que nós não tínhamos antes”, opina Robert Doll Jr, da BlackRock. Ele ressalva que não há, no entanto, uma indicação sobre a magnitude desse incremento, uma vez que é impossível quantificá-lo. O executivo revela que a nova organização mundial surgida após 11 de setembro de 2001 o convenceu a incorporar os fatores de riscos geopolíticos aos seus processos de investimento. “Quais são os curingas? Todos estão mais cautelosos e conscientes de que esses eventos de risco podem acontecer inesperadamente, mas ninguém é capaz de antecipar quais eles serão, ou quando ou onde eles vão acontecer”, atesta Doll, vice-presidente, diretor e CIO de ações globais da BlackRock.
O “curinga” 11 de setembro abalou as estruturas de gestores de recursos e investidores institucionais na mesma medida em que suas carteiras estavam desprotegidas de uma ampla gama de ameaças que vai além do terrorismo, incluindo desastres naturais e problemas causados pelo homem tais como greves e interrupções no serviço de energia.
“A percepção mais tangível depois de 11 de setembro foi justamente sobre o quanto as corretoras de Wall Street e as gestoras de recursos estavam despreparadas para um acontecimento daquele tipo. Os ataques não fizeram com que os mercados deixassem para sempre de subir, mas mudaram a forma com que todos nós fazemos negócios”, diz Stephen Potter, presidente da Northern Trust Global Investors. O executivo comenta que os acontecimentos de 11 de setembro revelaram novos e perigosos riscos operacionais e de investimentos, além de gerarem uma percepção geral de que os sistemas de controle de riscos, os planos de continuidade de negócios, os processos de recuperação após desastres e os sistemas de backup precisavam passar por um aprimoramento significativo.
“Os ataques aumentaram a consciência sobre a possibilidade de eventos inesperados e aceleraram definitivamente o caminho do mercado rumo à gestão de riscos e a uma melhor análise de cenários. Naquela época, um número muito pequeno de gestores incorporava o terrorismo ou acontecimentos geopolíticos aos seus sistemas de controle de riscos”, concorda John S. Griswold, diretor executivo da Commonfund. Na asset, os gestores de riscos são uma parte importante de todo o processo de investimentos.
Backup remoto – Os planos anti-desastres de gestores de recursos dos mais variados portes incluem agora múltiplas e remotas estruturas de backup totalmente funcionais – próprias das empresas ou providas por terceiros – que são totalmente capazes de replicar os sistemas das companhias em pouco tempo. A informação é de Sameer Shalaby, CEO of Paladyne Systems, que presta serviços de tecnologia integrada para a indústria de gestão de recursos. Ele diz que o local em que essa estrutura está instalada é totalmente confidencial. “A segurança dos data-centers é extremamente importante e do maior interesse para os gestores porque o senso-comum acredita que o próximo grande ataque terrorista será virtual. Os gestores de recursos estão preocupados tanto com os cyber ataques quanto com os ataques físicos, uma vez que ambos vão despedaçar seus negócios”, alerta Shalaby. Ele completa que hoje em dia os investidores institucionais fazem uma due diligence mais profunda em seus gestores de recursos no que se refere a planos de contingência e para recuperação pós-desastres. Também está aumentando a demanda por documentos e evidências de que esses planos realmente funcionam.
O Public School & Education Retirement System of Missouri (fundo de pensão do serviço público de educação de Missouri) é um desses investidores. “11 de setembro foi absolutamente o evento que nos fez recordar o tamanho da nossa vulnerabilidade”, indica Steve Yoakum, diretor executivo da entidade cujo patrimônio soma US$ 30 bilhões. Ele lembra que os professores de Missouri são totalmente dependentes do fundo de pensão para receber seus benefícios porque não são cobertos pela seguridade social. A maior parte dos pagamentos desses benefícios é feita eletronicamente, o que leva o sistema da entidade e de todos os seus fornecedores a ser obrigatoriamente a prova de desastres. “Nós conduzimos processos bastante rigorosos de due diligence nos sistemas e planos de backup em todos os prestadores de serviços, incluindo gestores de recursos e custodiantes, assim como qualquer instituição com que fazemos negócios”, confirma Yoakum.
Desde 11 de setembro, o fundo de pensão transferiu suas instalações de backup para um data-center seguro debaixo de uma montanha, de onde toda a sua operação pode ser captada em poucas horas. “Além da ameaça do terrorismo, tivemos inundações e um tornado devastador na região. Precisamos estar preparados para qualquer tipo de desastre, natural ou feito pelo homem”, considera o diretor.
Impacto econômico – Determinar o tamanho do impacto que os ataques de 11 de setembro exercem sobre o ambiente econômico até hoje é um ponto que gera divergências. Alguns especialistas argumentam que o acontecimento não deve ser visto como um fator econômico decisivo. Por exemplo: os gastos que podem ser diretamente relacionados com o 11 de setembro – os mais de US$ 1 trilhão gastos no Iraque e no Afeganistão – são ofuscados pelas despesas destinadas a impedir que os Estados Unidos entrassem em recessão desde o fim de 2007, aponta Gary Shilling, presidente da companhia de consultoria econômica A. Gary Shilling & Co.
Há, no entanto, quem acredite que o efeito cascata do 11 de setembro continua acontecendo e que no fim das contas provará ser considerável. “Os ataques de 11 de setembro efetivamente sugaram trilhões de dólares do setor produtivo para os gastos do governo, incluindo despesas com a segurança nacional”, argumenta Robert D. Arnott, presidente e CEO da Research Affiliates LLC.
“Se os efeitos indiretos do 11 de setembro – como o pronunciado ponto de inflexão que concentrou a atenção em riscos geopolíticos e as despesas diante de sérios problemas econômicos no país – são somados aos consideráveis custos diretos no Iraque e no Afeganistão, é razoável ver os ataques como um sério fator contributivo, senão um fator primário, por trás da perspectiva de dificuldade econômica nos Estados Unidos”, conclui Christopher J. Brightman, diretor e líder de gestão de investimentos da Research Affiliates.