Numa parede da sala de reuniões da Cultinvest, a gestora de recursos criada há nove anos pelo ex-diretor da área de clientes institucionais do Itaú, Alexandre Zakia, um pôster exibe algumas das mais famosas garrafas de vinho do planeta. Os conhecedores de vinho costumam falar com entusiasmo de marcas como o Tâche Grand Cru 2000, da Domaine de La Romanée-Conti, o Sangiovese Toscana 2006, da Soldera, e o Sauternes 2001, da Château d’Yquem. Zákia não é diferente, ele sabe quase tudo sobre marcas, safras, preços, paladar, regiões produtoras, produtores, estoques e valorização dos famosos bordôs.
Quando deixou o Itaú, nove anos atrás, e criou a Cultinvest, a idéia era ter uma asset dedicada a produtos diferenciados, como o fundo de vinhos que abriu em 2010 e manteve por alguns anos mas foi obrigado a fechar quando chegou à conclusão que os custos não se pagavam. O Bordeaux Wine Fund Multimercado era direcionado a clientes do mercado private, com investimento mínimo de R$ 1 milhão, dando aos cotistas a exclusividade de participar de um fundo que investia em vinhos de excelentes safras. A valorização dos ativos poderia ser acompanhada na London International Vintners Exchange, uma bolsa de valores que acompanha as oscilações de preços dos 100 principais vinhos pelo planeta. O risco do fundo era uma queda prolongada das cotações, mas nesse caso o resgate sempre poderia ser feito em espécie e degustado. “Era um fundo muito líquido”, brinca Zákia.
Segundo ele, fundos de vinho não são indicados ao mercado de varejo, pois os cotistas não conhecem os riscos desse mercado e assustam-se facilmente com sua volatilidade. O Vintage Wine Fund, por exemplo, com sede nas Ilhas Cayman, tinha 110 milhões de euros (US$ 117 milhões) em ativos em 2008 mas foi fechado cinco anos mais tarde quando um mau desempenho dos vinhos nos quais investia causou fuga dos cotistas. O mesmo ocorreu com o Noble Crus Wine Fund, de Luxemburgo.
Ao encerrar a carreira do Bordeaux Wine Fund Multimercado, não por sua volatilidade mas por falta de cotistas, Zákia optou por resgatar suas cotas em espécie. Abre até hoje, em ocasiões especiais, uma ou outra garrafa. O mercado de exclusividades, embora fascinante, segundo ele ainda não tem força para um produto desse tipo no Brasil. Hoje a Cultinvest se dedica a produtos mais corriqueiros, como Fundos de Investimento em Direitos Creditórios (FIDCs), Fundos de Participações (FIPs) e fundos de ações. Quando discorre sobre eles aos investidores, na sala de cerca de 15 metros quadrados mobiliada com uma mesa de 8 lugares e um pôster de garrafas de vinho na parede lateral, ele sabe que fez a coisa certa ao fechar o Wine Fund.
Meta de crescimento – São os novos produtos, mais corriqueiros, que estão trazendo crescimento à Cultinvest. A asset terminou de contratar Flávio Pires, ex-superintendente de clientes institucionais do Itaú, para tocar a área comercial, respondendo pelo relacionamento com clientes e distribuidores e atuando também na originação de produtos, principalmente Fundos de Investimento em Direitos Creditórios (FIDCs). Trouxe também Pablo Canezin, ex-DGF e Citi, portfólio manager que há seis meses está cuidando da área de ações.
São as duas áreas na qual Zakia acha que há espaço no mercado para crescer, com a queda de juros que deve levar os investidores a buscar mais alfa para as carteiras, tanto em crédito privado quanto em renda variável, nos próximos anos. A Cultinvest tem três FIDCs e um fundo de ações, que representam 10% dos seus R$ 3,8 bilhões sob gestão, mas o objetivo de Zakia é que tenham um papel predominante na expansão dos próximos doze meses. Os outros 90% estão em Fundos de Participações (FIPs) exclusivos, de propriedade de investidores estrangeiros, que usam esses veículos para aproveitar as oportunidades de investimento no Brasil. Quando essas surgem, investem e desinvestem via FIPs.
Nos próximos 12 meses, a meta de captação da Cultinvest é de R$ 1,2 bilhão, com uma expectativa de alcançar a marca de R$ 5 bilhões em meados do ano que vem. “Queremos entrar com novos FIDCs e expandir a atuação do nosso fundo de ações, que hoje ainda é muito pequeno”, diz Zakia. Os FIDCs serão sempre com um único cedente, que goze da confiança do mercado, e estruturados com sólidas garantias jurídicas.Para o CEO da Cultinvest, as garantias jurídicas são a coisa mais importante de um FIDC. Ele estava no Itaú na época em que o banco montou o FIDC da Parmalat, um dos primeiros do mercado. Quando a empresa italiana de lácteos entrou em concordata em 2004, na Itália e no Brasil, o mercado voltou os olhos para esse FIDC do Itaú, a espera do que aconteceria com os cotistas. “Não houve prejuízos para ninguém, o fundo pagou todos os cotistas, a sólida estrutura jurídica garantiu que os pagamentos dos recebíveis da Parmalat fossem direto dos devedores ao fundo, sem passar pela empresa concordatária”, explica.
Mercado de ações – Embora o fundo de ações da gestora seja ainda muito pequeno, menos de R$ 10 milhões aplicados basicamente pelos sócios da empresa, Zakia acha que ele tem um campo de crescimento promissor nos próximos anos. Ele recorre a uma comparação para mostrar que a Bolsa, apesar do rally do último ano, ainda está barata. “Se você pega o Ibovespa e corrige pelo dólar, o índice ainda tem muito espaço para andar”, diz. “Com os juros baixos, no Brasil e no resto do mundo, a bolsa brasileira ainda tem muito espaço para subir”.
A única preocupação, segundo ele, é com a disparidade entre as taxas de juros de longo prazo, que atualmente são maiores para dois anos do que para dez anos. “Isso pode indicar uma recessão”, pontua. “Tem que ficar atento aos indicadores”.
FIPs exclusivos – Embora FIDC e ações sejam os veículos nos quais ele espera crescimento nos próximos anos, não descuida dos FIPs exclusivos, um segmento no qual montou uma rede de relacionamentos importantes nos anos recentes. “Vamos continuar atuando nesse mercado, o crescimento do Brasil traz oportunidades para os investidores estrangeiros e a montagem de FIPs é uma boa opção para participar desse crescimento”, diz.
Zakia garante que o time da Cultinvest, de pouco mais de 10 pessoas, está afinado e preparado para enfrentar um ciclo de novas captações e para bater a marca dos R$ 5 bilhões até meados do ano que vem. São sete sócios que atuam em áreas estratégicas e alguns executivos ainda júniors. Vários são oriundos do Itaú. “As vezes parece uma sucursal do Itaú”, diz olhando para o pôster na parede.