De volta ao jogo | Os fundos de governança, com gestores nos cons...

 Os fundos de governança, que estiveram sob ataque do mercado há cerca de dois anos por causa da baixa rentabilidade e falta de liquidez, começam a voltar à tona. O Sinergia 4, da Fator Administração de Recursos – FAR, que em meados de 2015 registrava rentabilidade de -12,8% em 12 meses e -24,87% em 24 meses, foi encerrado em junho do ano passado praticamente no equilíbrio, com rentabilidade de -0,4%, enquanto o Sinergia 5, da mesma gestora, acumula ganhos de 14% até o final de setembro.

Os Expertise 1 da SulAmérica Investimentos, com resultados também bastante negativos em meados de 2015, será encerrado em fevereiro do ano que vem e acumulava rentabilidade de 25,0% até o final de setembro. Já o Expertise 2, da mesma gestora, está negativo em 36% no acumulado até setembro, mas no ano de 2017 o fundo apresenta rentabilidade de 35,7% nos primeiros 9 meses (contra 26,6% no mesmo período).
Para o gestor de investimentos da
SulAmérica, Philipe Biolchini, que assumiu o cargo em maio último com a saída de Fernando Tendolini da empresa, o processo de queda das taxas de juros combinado com o início da recuperação econômica tendem a favorecer esse tipo de fundo, que são fechados e adotam uma estratégia de investir em small e middle caps nas quais possam participar dos conselhos e influenciar em seus rumos para tornar seus resultados melhores. No passado, foram justamente as condições de juros altos e retração econômica que os desfavoreceram, pois essa classe de empresas foi muito prejudicada. Compartilha dessa opinião o CEO da FAR, Paulo Gala, que também assumiu o cargo recentemente, substituindo Wagner Murgel, que deixou a empresa em agosto último.
Segundo Gala, situações como a recuperação do Sinergia 4 e Expertise 1 começam a resgatar a confiança dos investidores nesse tipo de fundo e inclusive estão levando alguns cotistas do Sinergia 5, que vence em dezembro de 2018, a sugerir sua prorrogação. Só que os motivos que levam esses investidores a pedir essa prorrogação são justamente inversos àqueles que levaram a FAR e a SulAmérica a adiar o encerramento do Sinergia 4 e Expertise 1 em meados de 2015.
Naquele momento, os cotistas desses fundos não viam a hora deles chegar a data de vencimento para resgatar os recursos e redirecioná-los para a renda fixa, que estava pagando prêmios excelentes com a Selic a 14%. Apesar disso, devido ao mau momento vivido pelas bolsas, com o Ibovespa na casa dos 50 mil pontos, resgatar naquelas condições seria o mesmo que queimar dinheiro. Foi o que defenderam as gestoras, conseguindo em assembleias que o Sinergia 4 fosse prorrogado em um ano, com o vencimento passando para junho de 2016, enquanto o Expertise ganhou mais dois anos de vida, com o vencimento passando para fevereiro de 2018.

Situação distinta – Hoje a situação é bem diversa. Além das oportunidades na renda fixa serem escassas, as bolsas estão subindo (o Ibovespa está na casa dos 75 mil pontos) e os investidores voltaram a olhar com bons olhos as small e middle caps, além de valorizarem o papel ativista dos fundos de governança. Porisso esses fundos começam a voltar à tona.
De acordo com Gala, embora a proposta de prorrogação do Sinergia 5 feita por alguns cotistas não esteja sendo considerada, a FAR estuda tornar esse fundo aberto a partir da data do seu vencimento. Dessa forma, ele devolveria os recursos aos cotistas que quisessem sair e se manteria como um fundo aberto para aqueles que quisessem ficar. “Claro que , nesse caso, iremos rediscutir as taxas com os cotistas, pois a taxa de um fundo aberto tem que ser diferente de um fundo fechado”, diz.
Além disso, a FAR deve lançar em breve o Sinergia 6, nesse caso já como um fundo aberto. De acordo com Gala, até o Sinergia 5 a família desses fundos era formada só por produtos fechados, com prazo de 7 anos e meio de resgate. “Mas a continuidade da família Sinergia acontecerá através de fundos abertos”, explica. De acordo com o executivo, a estratégia de selecionar empresas menores nas quais a gestora possa ter uma atuação mais ativa nos Conselhos, que criem valor para a empresa e para o fundo, será mantida. Mas, diferentemente do modelo do passado, serão menos empresas na carteira, não mais do que 7 ou 8 na carteira do Sinergia 6 contra quase 20 dos anteriores.
Além disso, a seleção de empresas seguirá um critério mais defensivo, que permitirá que numa conjuntura de mercado desfavorável o valor do fundo não caia tanto. “O processo de seleção de ativos foi aprimorado, o controle de risco será maior”, explica Gala. Segundo ele, outra mudança é que as empresas poderão ser vendidas a qualquer momento, desde que faça sentido para a rentabilidade do fundo, ao contrário da estratégia anterior que só vender as empresas próximo ao vencimento do fundo.

Ajuste necessários – Para Biolchini, da SulAmérica, embora essa classe de fundos de governança comece a retomar prestígio junto aos investidores, terá que passar por alguns ajustes principalmente em relação à liquidez. “Se quisermos manter o interesse do investidor nessa classe de fundos teremos que combinar rentabilidade com liquidez”, diz.
Segundo ele, o diferencial desse tipo de fundo deve continuar a ser a capacidade da gestora de encontrar boas empresas e de ter influência sobre seus rumos, gerando governança para o fundo e valor para os cotistas. A saída de Tendolini da gestora, na sua avaliação, não prejudica a capacidade da SulAmérica de continuar atuando nesse nicho de mercado. “Inclusive, temos alguns fundos exclusivos nessa área que estão indo muito bem”, afirma.
O Expertise 1 tinha patrimônio de R$ 338 milhões em dezembro de 2016, sendo que nos nove primeiros meses do ano já foram amortizados R$ 308 milhões e o patrimônio restante é de R$ 48 milhões, que devem ser liquidados até seu encerramento em fevereiro de 2018. O fundo tem uma rentabilidade acumulada de 25,80% desde sua criação, em fevereiro de 2011, e acumula valorização de 38% desde fevereiro de 2016, quando o encerramento foi adiado em 2 anos. Já o Expertise 2, com encerramento marcado para junho de 2018, tem hoje um patrimônio de R$ 220 milhões e uma rentabilidade negativa de 36,7% desde sua criação, em junho de 2013.

Um só passarinho não faz revoada

Para o consultor da Luz Soluções Financeiras, Edivar de Queiroz, a influência que gestores ativistas podem fazer numa empresa ainda precisa ser comprovada. “Geralmente eles são apenas mais um dentro de um Conselho, acho que podem ajudar a empresa mas não acho que definem uma direção”, diz. “Um só passarinho não faz revoada”.
Queiroz acha que as bolsas brasileiras, atualmente no patamar de 75 mil pontos, ainda tem espaço para alta. Na crise de 2008 o Ibovespa desceu a 42 mil pontos, valor que se atualizado daria mais que os 75 mil pontos do Ibovespa hoje. “Com a queda da taxa de juros deve haver uma migração grande da renda fixa para as bolsas”, analisa. “Agora, se será sustentável não sei”.
De acordo com o consultor, a sustentabilidade das bolsas vai depender do crescimento econômico, que ao elevar as vendas das empresas gera lucro corporativo e alta no preço das ações. “Esse aumento do consumo ainda não está acontecendo, o crescimento nas vendas de automóveis foi gerado por compras de empresas de locação”, diz.