De volta ao jogo | Depois de enxugar sua grade de fundos e reestr...

Edição 287

 

Quando vendeu sua participação na Neo Investimentos, em meados de 2014, Wagner Murgel tinha a intenção de usar o seu conhecimento sobre negociações empresariais para atuar na reestruturação de empresas em dificuldades, agregando a elas uma boa dose de gestão e, quando fosse o caso, também um pouco de capital. Com isso, esperava trazê-las de volta à rentabilidade e ser remunerado pelo sucesso. Em meados deste ano, quando encontrava-se em Miami analisando a situação de uma empresa problemática da área de biodiesel, seu telefone tocou. Era o presidente do Banco Fator, Marco Antonio Bologna, sondando seu interesse em assumir a direção da FAR – Fator Administração de Recursos.
Murgel ficou um pouco surpreso, já que estava há dois anos longe do mercado de investimentos e não tinha planos de voltar. Respondeu que precisava pensar no assunto. Após negociar com Bologna por dois meses e meio, no início de outubro ele bateu o martelo. Aceitava o emprego, seu objetivo seria ajudar a FAR a trilhar novamente o caminho do crescimento, após vários anos de declínio dos volumes. No final de 2010 a gestora tinha R$ 7,72 bilhões sob gestão, valor que despencou para R$ 3,69 no final de 2015, praticamente o fundo do poço. Em meados deste ano o total sob gestão já tinha crescido um pouco, para R$ 3,87 bilhões, e no final de outubro batia novamente em R$ 4 bilhões, representando uma captação líquida de pouco mais de R$ 300 milhões no ano.
Pode não ser muito, mas Murgel viu naqueles números o início de um processo de reversão de tendências, que já havia começado. Quem estava comandando a asset desde a saída de Fábio Moser, ocorrida em meados do ano passado, era Antônio Conceição. Vindo da área de fundos de terceiros do banco, Conceição tinha feito um bom trabalho em termos de reestruturar a grade de fundos e aproveitar melhor a equipe, mesmo com a redução de pessoas. Agora, com a chegada de Murgel, ele permanece como diretor de investimentos, e Paulo Gala como estrategista, diretor de renda fixa e multimercados.
O primeiro objetivo de Murgel é acelerar o crescimento da captação, principalmente junto aos institucionais, que são o principal foco da FAR. Para isso, o time de distribuição que estava restrito exclusivamente a uma única pessoa, Fábia Barbosa, foi reforçado com a contratação de Nair Kobayashi, vinda do Safra. Nair vai atuar junto com Fábia na gerência de distribuição.

Sinergia – A experiência de Murgel na Neo Investimentos, uma gestora focada em multimercados e fundos de private equity, será muito relevante para acompanhar o desempenho do fundo Sinergia V, lançado recentemente. A família Sinergia, nascida no final dos anos 1990, é composta por fundos de governança, um tipo de fundo fechado que investe em empresas médias listadas em bolsas com o objetivo de participar de seus conselhos e ajudar em seu processo de crescimento. Os três primeiros fundos da família Sinergia foram um sucesso, com uma rentabilidade acumulada de 1707% até o Sinergia III, contra um Ibovespa de 520%. Já o Sinergia IV, que atravessou um período de juros altos, busca de NTNBs por parte dos investidores e desvalorização das bolsas, chegou ao seu período de encerramento com rentabilidade negativa e muitos cotistas querendo sair. A saída seria adiar seu encerramento, esperando um período mais favorável para vender o portfólio.
Foi o que fez a FAR em meados do ano passado, assim como também a SulAmérica com o Expertise, outro fundo de governança que vencia em períodos próximo. Embora a maioria dos investidores tenha apoiado a decisão, alguns cotistas interessados em vender renda variável para rechear os portfólios com mais NTNBs, não receberam bem a notícia do adiamento. “Mas acho que foi a melhor saída, o mercado estava horroroso e ninguém queria comprar Bolsa, encerrar naquele momento seria muito pior”, analisa o sócio da Aditus Consultoria Financeira, Guilherme Benites. O fundo foi encerrado só neste ano, aproveitando a valorização da bolsa.
Agora no comando da FAR, Murgel terá a missão de fazer deslanchar o Sinergia V, que já conta com patrimônio de R$ 110 milhões e investe em 9 empresas listadas em Bolsa. Segundo ele, os fundos de governança como é o caso da família Sinergia nunca são a primeira opção de renda variável para os investidores, que primeiro vão buscar os ganhos mais óbvios da Bolsa, através das ações mais baratas e com mais liquidez. Só depois, quando essas ações começam a rarear, é que os fundos de governança começam a fazer sentido para os investidores.
Os fundos de governança, na verdade, combinam características dos fundos de private equity com a listagem em bolsa, por isso nos Estados Unidos são chamados de Pipe. Para Murgel, sua vantagem em relação aos private equity tradicionais é que permitem uma saída mais rápida através do próprio mercado, sem depender de IPO ou da entrada de um sócio estratégico no negócio, como acontece com os fundos PE.
Segundo Benites, o perfil de investimento do Sinergia está mudando, o que fica evidente no caso do Sinergia V. De acordo com ele, hoje esse fundo investe num portfólio bem mais líquido, com uma carteira menor e num desenho diferente dos fundos anteriores. “Acredito que está mais adequado ao cenário vivido pelo mercado atualmente”, diz. “Acho que está voltando a ter espaço para fundos desse tipo, de governança fechados”.

Racionalização – A estrutura de fundos da FAR também tem sido racionalizada nos últimos anos, para se adequar ao perfil do investidor institucional, enfatiza Murgel. A gestora conta atualmente com fundos multimercados, fundos de renda fixa com crédito privado, fundos de ações ativos, fundos imobiliários e fundos de fundos, sendo esses últimos segregados numa estrutura a parte. Conta também com debêntures incentivados, para clientes private.
O enxugamento na estrutura de fundos da FAR, assim como a racionalização das equipes de gestão e comercial, também é um ponto positivo apontado por Benites. Segundo ele, o grupo Fator promoveu uma restruturação em várias unidades, inclusive na FAR, e isso é visto como positivo pelo mercado. “Os nossos clientes fundos de pensão têm hoje uma percepção mais positiva da FAR, eles acham que a casa foi arrumada”, diz. “Agora, em que medida isso vai trazer de volta o crescimento ainda tem que ser demonstrado”.
De acordo com Murgel, a asset conta hoje com 20 pessoas incluindo as áreas de gestão e de risco, além de outras duas pessoas na área comercial que atendem a asset embora pertençam à estrutura funcional do banco. Essa estrutura, segundo ele, é adequada à grade de produtos disponíveis no momento e poderá crescer, por contratação ou realocação, se houver o lançamento de novos produtos que ainda estão em discussão.

Expectativas – De acordo com o principal executivo da FAR, existe uma expectativa positiva atualmente em relação ao Brasil por causa das mudanças avançadas pela nova equipe econômica do governo. Murgel espera que essa expectativa favorável se transforme em fatos da economia real no ano que vem. “Vamos ter um aumento da exposição ao risco do investidor ao longo do ano que vem”, avalia. “O investidor vai retomar o apetite de risco, porque os ganhos mais óbvios já aconteceram, tanto na Bolsa quanto no fechamento do IMA”.
Ainda de acordo com ele, a FAR trabalha com as seguintes expectativas para o final de 2016: Ibovespa vai a 60.000 pontos; dólar fecha a R$ 3,20; Selic encerra em 13,5%.