Edição 158
O Itaú está segregando a sua atividade de administração fiduciária, que estava integrada à área de asset e operava sob a marca Intrag. Com a decisão, essa marca torna-se uma empresa independente e já nasce com uma carteira de R$ 6 bilhões em recursos de outras assets e de fundos de pensão. “Queremos chegar a R$ 10 bilhões até o final do ano”, diz o recém indicado diretor da Intrag, João Estanislau.
Estanislau deixa a superintendência de clientes institucionais do banco para dedicar-se integralmente à Intrag. O seu lugar no banco passa a ser ocupado por Pedro Vellardo, que anteriormente atuava na área de clientes institucionais da asset. “Separamos a área de administração fiduciária do negócio da asset para evitar o conflito de interesses”, diz o diretor de clientes institucionais do banco, Alexandre Zákia.
A decisão de tornar a Intrag independente veio após a publicação da resolução 475 da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), no final do ano passado. Essa resolução, que permite aos fundos de pensão fazerem a gestão de seus próprios fundos exclusivos (desde que seu valor seja superior a R$ 50 milhões), abre uma nova perspectiva para o negócio de administração fiduciária, raciocina Estanislau. “Acreditamos que muitas fundações vão partir para a criação de fundos exclusivos, e queremos participar disso”, diz.
Hoje, dos R$ 6 bilhões adminis-trados pela Intrag, apenas 20% são provenientes de fundos de pensão. A maior parte do bolo pertence a outras assets, normalmente pequenas, que surgiram no boom de 2002, quando assets de maior porte reduziram seus quadros ou se fundiram com outras, dispensando profissionais experientes que abriram suas próprias gestoras a partir de hedge funds. Dessas novas assets, algumas desapareceram mas uma grande sobreviveu e viabilizou a estruturação do novo negócio de administração fiduciária.
A maior empresa dessa área é a Mellon, com R$ 13 bilhões em recursos de terceiros. A empresa chegou a ter quase R$ 30 bilhões no passado, antes do rompimento do contrato com a Petros, que representou uma sangria de nada menos que R$ 21 bilhões da sua carteira. Hoje, a Petros mantém um contrato de custódia qualificada com o Bradesco, que faz a custódia e também um serviço de controladoria dos recursos.
O episódio do fim do contrato entre a Mellon e a Petros, em meados do ano passado, coincidiu com a divulgação de notícias de que o Itaú estaria comprando a área de controladoria fiduciária da Mellon. Essas notícias, entretanto, não foram jamais confirmadas pelas partes. Executivos chegaram a falar, em off durante conversas com jornalistas, que o assunto estava sendo examinado pela direção da Mellon nos Estados Unidos, mas não existia nada de fechado. “Não comento esse tema. O que sei é que essa é uma área que interessa ao Itaú e porisso estamos criando o nosso próprio negócio”, diz Zákia. “Se em algum momento poderemos incorporar uma operação como a do Mellon, essa é uma história que não sei e que prefiro não comentar”.
Tanto para a Mellon quanto para o Itaú, o crescimento do negócio de controladoria fiduciária deve se dar em cima dos fundos exclusivos que as grandes fundações estão criando ou transferindo das assets para suas carteiras. Já as pequenas assets estão em baixa, até porque o volume das aplicações em hedge funds não está crescendo muito, e essas assets dependem desses fundos para deslanchar. “Quando a performance dos hedge funds fica pobre as assets independentes perdem volume, como aconteceu em 2003”, explica Estanislau. “Isso já não foi tão evidente em 2004, mas eles também não cresceram no ano passado”.
A Intrag já existe desde setembro de 2003, integrada à estrutura da asset do Itaú. A partir de agora, com a sua constituição como uma empresa independente, ela passa a disputar mais ativamente esse mercado, assinala Estanislau. Hoje, a empresa emprega oito pessoas, incluindo o próprio Estanislau, além de contar com o apoio logístico das áreas de custódia e compliance do Itaú.
Segundo Estanislau, a segregação dessa atividade não irá representar custos extras para os fundos de pensão. “Ao contrário, acreditamos que eles economizarão em taxas com outros serviços”, justifica. Ele exemplifica dizendo que os fundos de pensão poderão negociar taxas menores com as assets e com as próprias custódias, por conta de terem uma controladoria independente.
Além disso, o fato de ter uma empresa checando a aderência das assets à política de investimentos da fundação, verificando se a compra de um determinado ativo está dentro da banda de preços previamente definida, traz tranqüilidade para o dirigente da fundação. “Nós somos uma garantia contra processos mal feitos, que podem representar problemas futuros”, diz o novo diretor da Intrag.