Custódia especializada | Bancos Paulista e Petra crescem na prest...

Daniel Doll Lemos, do Banco PaulistaFernando Fontes, do Banco PetraEdição 265

 

Os bancos Paulista e Petra estão registrando um forte crescimento no segmento de custódia para fundos de investimentos em direitos creditórios (Fidcs). Algumas outras casas de pequeno porte, como a Oliveira Trust e a Planner Corretora, também também estão crescendo, ainda que em menor escala. Juntas as quatro casas citadas somam de 50,6% do total de Fidcs do mercado, segundo dados de agosto de 2014 da consultoria Uqbar, especializadada em informações sobre finanças estruturadas. As quatro instituições saltaram de 121 Fidcs custodiados em dezembro de 2012 para 208, em agosto deste ano, um aumento de 72% em pouco mais de um ano e meio.

O crescimento de casas menores na custódia de Fidcs faz parte de uma forte transformação neste mercado, gerado tanto pelas mudanças nas regras trazidas pela Instrução CVM 531. Fatores do próprio mercado de crédito também geraram rápida mudança desde o início de 2013, provocando uma perda de mercado por parte de grandes instituições como Bradesco, Itaú, Santander, Citi e Deutsche. O perfil dos Fidcs, anteriormente muito concentrados em veículos e consignados, mudou bastante, gerando menor demanda de captação. Atualmente, o mercado verifica maior concentração dos chamados Fidcs de fomento mercantil.
Percebendo as oportunidades, alguns bancos adotaram uma estratégia para desenvolver sistemas adaptados ao novo momento do mercado. O Banco Petra alcançou um forte crescimento no período analisado, saltando de 27 Fidcs custodiados para 69 em agosto passado – aumento de 155%. Agora já está com 80 Fidcs sob custódia e pretende ultrapassar a marca de 100 no primeiro trimestre de 2015. “Procuramos desenvolver novos processos e sistemas adaptados ao novo mercado de Fidcs”, diz Fernando Fontes, sócio-diretor do Banco Petra. O executivo explica que as novas regras dos Fidcs trouxe maior necessidade de especialização dos custodiantes, com novos controles e exigências. São fundos com duplicatas comerciais e CCBs de curto prazo.
O novo mercado de Fidcs gerou a necessidade de maior especialização dos prestadores de serviços. “É uma especialização de nicho que decidimos investir e ganhar espaço. Aperfeiçoamos nossos sistemas e reprecificamos o serviço”, explica Fontes. Ele ressalta que foi uma decisão de fortalecer a atuação na área de custódia para fundos estruturados. “Decidimos fortalecer a custódia para estruturados, que é um mercado que percebemos que podíamos crescer com um serviço customizado e optamos por continuar fora do segmento de fundos líquidos”, diz o sócio-diretor. Ele comenta que no segmento de fundos líquidos é muito mais difícil concorrer com as grandes instituições. O Banco Petra cresceu também em termos de patrimônio líquido custodiado de Fidcs, saltando de 1,8% para 4,4% no período. Em termos de patrimônio, a participação não é tão relevante quanto em termos de número de fundos. É que o tíquete médio dos Fidcs sob custódia do banco gira em torno de R$ 50 milhões, abaixo de outros fundos custodiados por instituições de grande porte.

Liderança – O Banco Paulista detém a liderança do segmento em termos quantitativos, com a custódia de 29,4% do total de 411 Fidcs. Eram 121 fundos sob custódia ao fim do mês de agosto de 2014, o que representava um aumento de 40,7% quando comparado aos 86 fundos que custodiava em dezembro de 2012. O banco teve 29 novos fundos que iniciaram a operação com direitos creditórios sob sua custódia. No período analisado, o Paulista perdeu um mandato e outros cinco fundos foram liquidados. “Desenvolvemos um novo sistema e um novo portal que são capazes de rodar um grande volume de informações com agilidade e bom nível de controle”, explica Daniel Doll Lemos, diretor de recursos de terceiros do Banco Paulista.
Os Fidcs do Paulista têm um tíquete médio baixo, em torno de R$ 35 milhões. Cada operação movimenta em média R$ 4 mil. São liquidadas cerca de 1000 operações por dia. “É um mercado que não interessa muito para as grandes instituições. Por outro lado, para nós é um nicho importante”, diz Lemos. O executivo revela que a área de custódia é a segunda mais importante do banco em receita, perdendo apenas para a área de câmbio. Ele acredita que os grandes bancos não possuem agilidade e interesse para atuar no segmento de custódia para Fidcs. “Tivemos a migração de vários Fidcs que vieram de grandes instituições. Não é um mercado tão relevante para os maiores, mas para nós é um negócio promissor”, diz o diretor. Lemos comenta ainda que um dos fatores que gerou a mudança na composição do mercado foi o novo perfil dos Fidcs estruturados desde o ano passado.
Anteriormente, havia maior número de Fidcs utilizados para captação de recursos pelos bancos médios como o Cruzeiro do Sul, o Panamericano, o BMG, entre outros. Alguns desses bancos foram liquidados e outros incorporados. Por isso, um grande número de Fidcs também foi extinto. E o que se tem verificado desde o início de 2013 é o aumento dos Fidcs voltados para ativos comerciais para fornecer capital de giro para as empresas.

Redução – Os dois custodiantes que mais reduziram o número de fundos foram Deutsche Bank, que tinha 56 fundos custodiados no final de 2012, e chegou a 41 em agosto deste ano. Esta mudança se deu após a perda de cinco mandatos de custódia e o encerramento de 13 fundos. O Bradesco teve redução de 16,9% no número de fundos em relação aos 65 sob sua custódia em dezembro de 2012. Neste caso, a redução ocorreu em função da perda de apenas dois mandatos, enquanto que os fundos encerrados chegaram a marca de 23. No período, o Santander perdeu dezesseis mandatos, chegando a 35 fundos custodiados.
Já o Citi teve a perda de dez mandatos. Em compensação, registrou o acréscimo de nove novos mandatos. O Citi teve a redução de 35 para 30 Fidcs sob custódia, porém, em termos de patrimônio líquido, cresceu de 10,5% para 12,8%. “Não houve uma redução de nossa participação no mercado. Na verdade, houve um processo de adaptação às novas regras e condições do mercado”, diz Aecto Pinto, diretor de serviços a investidores locais do Citibank. O executivo explica que houve uma introdução de novos custos do serviço devido ao aumento das exigências de controle. “Hoje analisamos o potencial de um novo Fidc em termos de volume e de apetite de colocação”, diz o diretor.
O coordenador do comitê de Fidcs da Anbima e superintendente de produtos da Bram, Ricardo Mizukawa, explica que o novo mercado de Fidcs abriu espaço para atuação de casas mais focadas na prestação de serviços financeiros. “Hoje vemos casas mais especializadas. O mercado exige maior controle e especificidade nos serviços e sistemas”, diz. Ele explica que é uma questão estratégica de negócios, e que o mercado de Fidcs não tem tamanho para atrair os investimentos dos grandes bancos para o serviço de custódia. Ele acredita que as instituições de pequeno e médio porte têm condições de oferecer um serviço de qualidade para os gestores de Fidcs. “Não quer dizer uma queda na qualidade, ao contrário, geralmente a qualidade é maior pois o serviço é mais focado”, diz o coordenador do comitê da Anbima.
Apesar de aprovar a qualidade dos players menores, Mizukawa defende que seria saudável para o mercado contar uma avaliação de rating para os serviços de custódia. “O mercado deveria desenvolver o rating para os prestadores de serviços, assim como existe para os bancos e gestores”, diz. Ele acredita que o mercado deve caminhar nessa direção nos próximos anos. Enquanto isso não ocorre, a recomendação aos investidores é que pesquisem e realizem due diligence para verificar a qualidade e a segurança dos prestadores de serviços. Apesar da queda do número de fundos custodiados, os grandes bancos ainda se destacam no volume de recursos. O Bradesco tem o maior PL de Fidcs sob cutódia, com 32,4% do mercado, seguido pelo Santander com 13,2%.