Benefícios da diversificação | Retorno médio na casa dos 50% em 2...

Edição 278

 

Os retornos na faixa de 50% dos fundos de investimentos com ações do exterior ofereceram no ano passado uma amostra clara dos benefícios da diversificação para as entidades, ao minimizar as perdas proporcionadas pela renda variável local, já que a queda do Ibovespa foi de 13,31%. Dois anos após o lançamento dos primeiros fundos de ações globais para institucionais, houve um intenso crescimento na quantidade de produtos e no patrimônio líquido. Agora, os gestores miram novas estratégias e regiões. A alocação por parte das entidades cresceu de forma gradual em um movimento que tende a ser contínuo.
Dados da Previc (Superintendência Nacional de Previdência Complementar) mostram que 85 entidades de previdência complementar fechadas – de um total de 308 – tem uma parcela da carteira em fundos com ativos do exterior. A alocação dessas entidades representava 0,26% dos recursos garantidores do sistema em novembro de 2015 contra uma parcela de 0,12% em dezembro de 2014. Em setembro, os recursos garantidores estavam em R$ 689 bilhões.
Em termos de volume, a alocação no exterior pode parecer pequena, mas em participação é relevante, segundo Guilherme Benites, sócio da Aditus. Ele diz que o câmbio acima de R$ 4 esfriou um pouco a procura pelos fundos de investimento no exterior, mas acredita que quem já alocou nessa classe de ativos com ações dos Estados Unidos, por exemplo, agora vai buscar um segundo nível de diversificação, como ações europeias, por exemplo.
As entidades que já tomaram essa decisão permanecem atentas aos movimentos do cenário internacional e estão selecionando novos produtos. O fundo de pensão Previ Ericsson, por exemplo, tem aprovado na política de investimentos um limite de 8% do patrimônio, que estava em R$ 1,119 bilhão em dezembro, mas hoje aloca 5% desse total em fundos no exterior.
“Começamos a estudar o assunto em 2012 e no final de 2013 fizemos os primeiros aportes, que representavam 0,7% do portfólio. Nos últimos dois anos reforçamos a posição nessa classe de ativos, especialmente em fundos com ações dos Estados Unidos e Europa. Pretendemos continuar alocando neste ano”, diz Rogério Tatulli, diretor-superintendente da Previ Ericsson. O retorno dos cinco fundos na carteira foi positivo, de 92,7%. “Estamos no processo de seleção e verificação de gestores. O retorno compensou o mau desempenho da bolsa, a qual reduzimos a exposição de 16% para 3%”, afirma. Tatulli diz que o investimento no exterior foi um para-choque para outros investimentos e ajudou a entidade a quase atingir a meta atuarial de 16,13%, já que a rentabilidade da carteira foi de 15,93% em 2015.
Quem também está selecionando gestores é a Valia, que começou a investir no exterior em 2015, com um aporte de cerca de R$ 100 milhões em oito fundos de ações, valor que representa 5% do plano de benefício definido proporcional. A exposição foi reduzida para 3% no começo de 2016 por causa do cenário desafiador nos mercados acionários internacionais, puxados pela desaceleração chinesa.
“Olhamos mais para o mercado de ações no exterior, que passa por ajustes. Ele terá peso maior no desempenho dos fundos neste ano na comparação com 2015, no qual o componente forte foi a taxa de câmbio”, afirma Mauricio Wanderley, diretor de investimentos da Valia. Segundo ele, a alocação no ano passado proporcionou um retorno de 11,25% para a carteira do plano, o maior na comparação com outros planos. “Nossa ideia, em algum momento, é alocar 10% da carteira, mas não estipulamos um prazo para isso. Depende muito de como os mercados vão se comportar”, conclui.
Silvio Rangel, diretor superintendente da Fibra (Fundação Itaipu Brasil), conta que a entidade aumentou a exposição a investimentos no exterior de 1% para 2% de 2014 para 2015 em uma estratégia que se consolidou. “Entramos quando o dólar estava baixo e nosso objetivo não era aumento de rentabilidade e sim de diversificação de risco. E isso se confirmou na prática”, diz. Segundo ele, a rentabilidade da entidade foi de 13,5% no ano passado, dos quais 1% é atribuído ao investimento no exterior. Essa experiência, ressalta, quebrou o estigma do investimento no exterior dentro da fundação, principalmente sob o aspecto da governança. “Hoje, os dois ativos na lista de preferência são os do exterior e as NTN-Bs. A alocação deve crescer de maneira gradual, mas devemos evitar aportes em momentos de câmbio elevado. Preferimos aumentar a exposição ao longo do tempo para obter uma taxa média e estamos mapeando os produtos disponíveis”, afirma.

Multiplicação dos fundos – Conforme o apetite das fundações aumenta, a indústria coloca nas prateleiras mais produtos e estratégias. Uma pesquisa da Willis Towers Watson revela que o crescimento na quantidade de fundos foi intenso até o terceiro trimestre do ano passado, passando de 42 produtos em dezembro de 2014 para 64 em setembro. O movimento foi seguido pela captação, que ao longo do ano foi de R$ 2,1 bilhões, e o patrimônio totalizou R$ 9,9 bilhões ao fim de 2015.
“Depois de setembro houve uma estagnação no lançamento de fundos. Os gestores devem esperar a alocação pelas fundações, que esfriou um pouco porque atingimos o pico do dólar. Apesar disso, fizemos uma pesquisa com as entidades e verificamos que nas políticas de investimentos de 2016 há intenção de aumentar a alocação por causa de uma piora do risco Brasil”, diz Francisca Brasileiro, consultora sênior de investimentos da Willis Towers Watson.
Depois de uma elevação expressiva na oferta de fundos, a expectativa é que esse mercado encontre um ponto de equilíbrio, já que ao menos 10% dos fundos pesquisados têm um patrimônio muito baixo, de R$ 4 milhões a R$ 8 milhões. “Além disso, identificamos nove fundos de renda fixa no exterior com demanda ainda baixa. Desses, só três tem a proteção do hedge, que é uma operação de custo adicional”, afirma a consultora.
Para os produtos com patrimônio líquido baixo, um obstáculo é a regra que determina que cada entidade só pode alocar até 25% do patrimônio do fundo.
O lançamento de mais fundos com outros ativos do exterior e estratégias de hedge também tem como barreira essa trava, já que hoje é preciso ter quatro entidades dispostas a participar. “Isso limita a escolha e a alocação das fundações”, afirma André Cobianchi, head de vendas para institutionais no Brasil da JP Morgan.
A flexibilização é tema de discussão entre a Previc, Abrapp (Associação Brasileira das Entidades Fechadas de Previdência Complementar) e a Anbima (Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais). Mauricio Wanderley, que também é diretor da Comissão Técnica Nacional de Investimentos da Abrapp, diz que o limite de 25% limita o feeder fund a investir no exterior, o que limita a diversificação e causa distorções em um mercado global de muita liquidez.
“Essa discussão será retomada neste ano porque a fundação também concentra 25% num feeder fund e, assim, em um ativo único. Não é a proteção perfeita. Muitas querem investir, mas não podem por causa do volume, que é gigantesco lá fora”, afirma.

Diversificação dos fundos – Os gestores que lançaram produtos há mais tempo agora miram em estratégias regionais. Este é o caso da Bradesco Asset Management, que tem um fundo de BDRs desde 2011, com patrimônio de R$ 360 milhões (em dezembro de 2015). De lá para cá, a casa lançou mais cinco produtos: um fundo exclusivo de ações europeias (com PL de R$ 90 milhões), de Australásia (R$ 23 milhões), de América Latina (R$ 6,7 milhões), de ações globais (R$ 23 milhões) e, em 2015, um de Japão (R$ 5 milhões).
“A regionalização da estratégia é o tema atual e o interessante é que há países que saem do período de estímulos monetários, e outros que continuam plenamente nessa fase, que é o caso dos países da Europa, a Inglaterra e o Japão. A desaceleração da China e a queda nos preços das commodities serão negativas para o Brasil, mas representam um bônus adicional para a Europa, que conseguirá gerar resultado com os preços mais baixos”, explica Cristiano Picollo, especialista em portfólio na Bradesco Asset Management (BRAM).
Ele diz que isso permite uma diversificação à carteira em setores e segmentos que não estão presentes na bolsa local, e também em regiões promissoras do globo. A perspectiva da BRAM é que a taxa de câmbio se desvalorize 20% neste ano, fechando em R$ 4,70 ao final do período.
Para Marcelo Pacheco, gerente executivo de fundos multimercado e offshore da BB DTVM, nada indica que o dólar tenha uma queda de forma consistente. “A dúvida é se vai subir pouco ou muito”, avalia. Apesar da realização de lucro na bolsa americana neste início de ano, há perspectivas positivas de valorização, principalmente a reboque da recuperação da economia norte-americana, que deve impactar os resultados das empresas.
A BB DTVM distribui sete fundos com ações do exterior que têm patrimônio líquido total de R$ 1,318 bilhões, segundo dados de 20 de janeiro. Os de maior volume são os lançados em 2013 e de ações globais da BlackRock, com R$ 413 milhões, da JP Morgan, com R$ 237 milhões e da Schroders, com R$ 225 milhões. Os demais são da Aberdeen (R$ 180 milhões), Nordea (R$ 167 milhões), UBS (R$ 117 milhões) e de ações europeias da Schroders (R$ 63,5 milhões), lançados em 2015.
Fernando Cortez, diretor comercial da Schroders, diz que a estratégia de investir em empresas europeias faz sentido diante do potencial de crescimento gerado pelo afrouxamento monetário na região, que deve continuar até 2017. “Os resultados corporativos tem surpreendido positivamente e isso mostra uma recuperação que deve continuar nos próximos trimestres”, afirma. A Schroders é o único gestor que mantém parceria com a BB DTVM com dois fundos no exterior, um deles de ações globais e outro, mais recente, de bolsas europeias.
Além do fundo distribuído pela BB DTVM, a JP Morgan também tem outros cinco produtos com propostas diferentes, como o de ações globais, um destinado ao mercado americano, renda variável europeia, dívidas corporativas com classificação high yield e indexado à Libor. O sétimo produto foi lançado no ano passado, um multimercado que busca retorno em juros, moedas e renda variável em qualquer lugar do mundo, que inicialmente não era voltado para o institucional. O produto, que tem hedge, está sendo reformulado para que possa permitir aportes dos fundos de pensão, segundo Cobianchi.
Outro tipo de estratégia que segue no pipeline de gestores é a renda fixa no exterior. Pacheco, da BB DTVM, diz que pretende lançar, no futuro, um produto de renda fixa global com crédito corporativo de empresas europeias e norte-americanas, mas ainda aguarda um ciclo de aperto monetário mais maduro nessas regiões.
Quem saiu na frente nesse sentido foi a Franklin Templeton, com o lançamento de um fundo de renda fixa global, como ativos soberanos e crédito corporativo. O produto tem patrimônio de R$ 37 milhões e posição em ativos da Coreia, Uruguai, Austrália, México e países nos quais o gestor busca valor, em qualquer lugar do mundo. “É um fundo com gestão ativa, que pode ter títulos com grau de investimento ou não. Tivemos durante 2008 posição na Irlanda, durante a reestruturação do país, quando a taxa de juros estava elevada e o retorno foi espetacular”, diz Luiz Pedrinha, head de vendas institucionais da Franklin Templeton.
No Brasil, o produto é hedgeado por causa do custo de carregamento alto do CDI, que é o benchmark. No ano passado, a Franklin Templeton também lançou um fundo de ações globais em parceria com a Sul América, com patrimônio de cerca de R$ 100 milhões, de olho nas entidades de previdência fechada que ainda não alocaram recursos em fundos no exterior. “Temos a expectativa de trazer estratégias diferentes para o institucional. O mercado desmistificou o investimento no exterior e há um leque de opções fora do Brasil. A internacionalização dos investimentos é um movimento que veio para ficar”, conclui o executivo.

 

Estratégias ganham relevância com menor efeito do câmbio

As entidades que já alocaram no exterior e, mesmo as que pretendem começar neste ano, deverão analisar mais o ativo e a estratégia do fundo do que o câmbio – até mesmo para evitar o efeito retrovisor. É importante lembrar que o dólar respondeu por pelo menos 48,62% da rentabilidade dos fundos de investimento no exterior em 2015. 

Isso é ainda mais importante diante de um cenário mais turbulento nas bolsas no exterior neste início de 2016, que foram afetadas fortemente pela desaceleração da economia chinesa. “O câmbio foi tão predominante no retorno passado que até dificulta uma análise comparativa da rentabilidade dos fundos, pelas suas estratégias”, afirma Guilherme Benites, da Aditus.
O difícil momento pelo qual passa a economia brasileira, que reflete diretamente nos ativos locais em renda variável, fortaleceu o dólar ante o real de forma que a performance dos fundos no exterior dependeu basicamente disso em um período de 18 meses e de 24 meses, segundo Rodrigo Noel, especialista de portfólio da Itaú Asset Management, que hoje oferece três produtos aos institucionais, dos quais o mais antigo, lançado em julho de 2013 é de ações globais, com um patrimônio de R$ 382 milhões em dezembro.
“A alta do dólar amplificou a demanda por esse produto nos últimos anos. O problema é que distorce a percepção de valor da classe de ativo. Dada a desvalorização do real nos últimos 18 meses não é razoável esperar, mesmo com novas deteriorações no cenário macroeconômico, que isso se repita. A consequência natural de uma desvalorização menor do câmbio é que a performance será muito menos interessante do que foi no passado recente”, avalia.
Segundo Noel, o investimento no exterior proporciona ao portfólio exposição a outros ciclos econômicos e de política monetária. Isso aumenta a quantidade de fatores não correlacionados ao Brasil na carteira e ajuda a diminuir o risco dela.
O especialista da Itaú diz que a expectativa é que o câmbio se desvalorize em um ritmo menor em 2016, principalmente por causa da piora nos termos de troca no Brasil, o que pode diminuir a demanda por dólares no país. Se houver uma melhora nos termos de troca e na política fiscal, ele diz que há um risco maior de queda do dólar neste ano em relação ao ano passado.