Edição 248
Seja em assessoria de empresas controladas por fundos de pensão ou em operações de financiamento de dívida da área de infraestrutura, as principais instituições financeiras que atuam no mercado de project finance estão mais próximas dos fundos de pensão. Líder do ranking de assessoria em leilões de concessão em 2012, segundo dados da Anbima, o BNP Paribas alcançou o topo do segmento com uma única operação. O banco foi o assessor do consórcio vencedor do Aeroporto de Guarulhos, liderado pela Invepar – controlada pelas fundações Previ (Banco do Brasil), Petros (Petrobrás e outros) e Funcef (Caixa Econômica), além do grupo OAS.
Já o segundo colocado no mesmo ranking (ver tabela), o Upside Finance também possui atuação próxima das fundações em leilões e agora está preparando operações de financiamento de dívida através de debêntures incentivadas de infraestrutura. Especializada na função de adviser de leilões e operações de financiamento, a empresa está estruturando uma emissão de debêntures no setor de energia e tem expectativa de captar recursos entre os fundos de pensão. Outros players do mercado como a Rio Bravo e a Caixa Geral de Depósitos (CGD), também com foco em projetos de infraestrutura, estão atentos ao aumento do interesse das fundações por ativos com ganhos diferenciados, ainda que o horizonte de liquidez seja de longo prazo.
O BNP Paribas alcançou volume R$ 7,45 bilhões em assessoria de leilão de concessão no ano passado, ficando com a primeira posição do ranking em volume de recursos. O resultado foi obtido graças à assessoria para a Invepar, que ganhou a concessão do Aeroporto de Guarulhos. O BNP Paribas prestou assessoria em outros leilões, porém, não contabilizou os resultados, pois seus clientes não saíram vencedores. A participação no leilão do aeroporto rendeu ainda a assessoria em um empréstimo ponte para o mesmo negócio, no valor de R$ 1,2 bilhão. O volume garantiu a segunda colocação no ranking da Anbima como assessor da categoria, atrás apenas da Lakshore – que registrou R$ 3,54 bilhões.
Quando um grupo vence um leilão, seu adviser ganha a perspectiva de assessorar outras operações para financiar o projeto, tais como os chamados empréstimos ponte, e também outras formas de captação. A emissão de debêntures é um veículo que os especialistas deste mercado apostam em forte crescimento em 2013 e nos próximos anos. “As debêntures de infraestrutura terão um papel cada vez maior na captação de recursos para o financiamento dos projetos. As necessidades de são elevadas e o BNDES já deixou claro que não será a única fonte”, diz Gaétan Quintard, gerente executivo de project finance do BNP Paribas.
O banco foi o assessor da emissão de debênture incentivada (que conta com benefícios de isenção de imposto de renda para pessoas física e estrangeiros) da empresa Montes Claros em setembro do ano passado. “Foi a primeira debênture incentivada que chegou ao investidor privado. É de uma empresa que atua na área de transmissão de energia elétrica”, diz Thiago Sendelbach, gerente executivo de project finance do BNP Paribas. Para o financiamento do projeto do aeroporto de Guarulhos, o banco está participando do desenho do modelo de captação de recursos. “Ainda estamos avaliando junto com a empresa controladora. Não descartamos a opção das debêntures incentivadas para Guarulhos”, diz Sendelbach.
Interesse das fundações – Em busca de alternativas que possam gerar ganhos diferenciados, acima da renda fixa tradicional, os fundos de pensão estão de olho nas debêntures de infraestrutura. “As fundações estão mais abertas às operações mais sofisticadas. Estão considerando a viabilidade de entrar em operações com horizonte de maior prazo, entre 12 a 15 anos”, diz Humberto Gargiulo, sócio-diretor da Upside Finance. A empresa está assessorando uma operação de debênture de infraestrutura, do tipo mezanino – papel de dívida com possibilidade de conversão em participação na empresa. A operação deve resultar na emissão de cerca de R$ 200 milhões em debêntures no segundo semestre de 2013. O prazo de vencimento dos ativos deve girar em torno de 14 anos, com perspectiva de rentabilidade de IPCA mais 6,5% ou 7% ao ano.
A Upside alcançou a segunda colocação no ano passado no ranking de advisers de leilões de concessão, com volume de R$ 4,05 bilhões. A empresa assessorou os grupos que saíram vencedores de leilões de geração e transmissão do setor elétrico – leilões da Copel e Eletrosul- CEEE. O adviser tem o foco em operações do setor de energia, mas também tem atuado em outros segmentos como rodovias e ferrovias.
Como histórico de relacionamento com os fundos de pensão, a Upside assessorou o grupo vencedor do leilão da Usina de Belo Monte, que também conta com participação das três maiores do país – Previ, Petros e Funcef.
“Não apenas as maiores fundações têm interesse em investir em infraestrutura. Temos percebido maior interesse de fundações de médio e grande porte, mas que não estão as cinco maiores, por ativos de project finance”, diz Gargiulo. Ele reforça a ideia que o BNDES tem apresentado suas limitações como a única fonte de financiamento do setor, até por conta do índice de Basileia, por isso, o governo federal e o banco têm incentivado o aumento do “funding” privado.
Na terceira posição do ranking de assessoria de leilões (volume), a Rio Bravo também tem se destacado com a atuação no setor de energia. No ano passado, assessorou grupos que saíram vencedores em dezenas leilões de energia elétrica e eólica. “Temos nos destacado com a atuação no setor energético, porém, nos próximos anos estamos mirando também os projetos de transportes, principalmente rodovias, ferrovias e aeroportos”, diz Sérgio Heumann, sócio-diretor da Rio Bravo Advisory.
“O mercado de capitais brasileiro está cada vez mais diversificado, com maior variedade de veículos e instrumentos. Há interesse maior tanto do lado do originador quanto do investidor em dívidas subordinadas de ativos de maior risco”, diz Maurício Xavier, gerente executivo responsável pela área de financiamento de projetos da Caixa Geral de Depósitos (CGD). O banco ficou com a décima segunda posição do ranking de assessoria de leilão de concessão em 2012. O executivo destaca as oportunidades em projetos de mobilidade urbana, como por exemplo, a expansão do metrô em São Paulo e outras capitais do país.
A CGD estruturou recentemente um fundo de participações da área de saneamento. “É um fundo de participações de R$ 100 milhões para financiar projeto de saneamento na Zona Oeste do Rio de Janeiro”, diz Xavier. Os ativos são debêntures do tipo mezanino – com opção de participação no capital da empresa.