Edição 267
O índice de dividendos (Idiv) supera com ampla vantagem os retornos obtidos pelo Ibovespa e IBr-X em períodos mais longos nos últimos dez anos. Se considerados os fundos de ações de dividendos com gestão ativa, a superioridade fica ainda mais patente. O retorno anualizado do Idiv desde 2006 alcança 12%, enquanto o IBr-X 100 fica em 8% e o Ibovespa 5%, segundo levantamento da Vinci Partners. Se considerado período desde 2010, o Idiv fica com 4% anualizado, contra 1% negativo do IBr-X 100 e 6% negativo do Ibovespa. Mesmo com a recente queda do Idiv, que amargou 18% negativos em 2014, gestores e dirigentes de fundos de pensão apostam na viabilidade de fundos de dividendos para melhorar o desempenho das carteiras de renda variável.
“Aproveitamos a forte queda da bolsa nos últimos dois meses para aumentar a alocação em dois fundos de dividendos, já que as cotas estavam mais baratas”, diz André Rocha Marinho, diretor financeiro do instituto de previdência de Jundiaí (Iprejun). O regime próprio alocou mais R$ 10 milhões em um fundo da Vinci Partners (alcançando R$ 31,8 milhões) e outros R$ 10 milhões, em um da Geração Futuro (chegando a R$ 33,0 milhões). Além dos dois fundos, o instituto mantém ainda um terceiro fundo de dividendos com o BTG Pactual, com R$ 16,7 milhões.
Atualmente, as posições nos três fundos de dividendos respondem por 50% dos investimentos em fundos de ações do RPPS de Jundiaí. “Os fundos de dividendos são importantes para nós porque apresentam baixa volatilidade e pagam periodicamente dividendos que podem ser reinvestidos, aplicados em outros fundos ou usados como fluxo de caixa para pagamento de benefícios”, diz Marinho. O instituto tem cerca de 29% do patrimônio alocado em renda variável.
O instituto de Jundiaí pode ser considerado uma exceção entre a maior parte dos regimes próprios. A maioria dos RPPS não possuem uma alta exposição à renda variável e poucos possuem alocações em fundos de dividendos. Outra exceção é o Ostrasprev (Rio das Ostras-RJ) que realizou alocação em um fundo de dividendos do BTG Pactual (ver matéria), porém, não são numerosos os institutos estaduais ou municipais que conhecem e acreditam no produto. Mesmo os fundos de pensão (entidade fechadas) que possuem em geral, maior experiência e diversificação nas carteiras, os fundos de dividendos ainda não representam uma parcela expressiva da renda variável.
“A alocação em dividendos para fundos de pensão ainda é muito baixa e isso não faz muito sentido. São ações de empresas bem protegidas da inflação, maduras e, por isso, apresentam menor volatilidade”, explica Fernando Lovisotto, diretor da Vinci Partners. O especialista explica que desde a época em que era consultor (foi sócio da Risk Office), ele recomendava a alocação em fundos de dividendos que são mais adequados para as necessidades de ALM (Asset Liability Management).
“É uma tese de investimentos adequada para fundações, pois apresenta boa aderência às necessidades e metas dos planos de benefícios”, reforça Marcelo Rabbat, sócio da Vinci Partners. Ele explica que os fundos de dividendos e o próprio Idiv, em geral, além de melhor retorno, tem apresentado menor índice sharpe que o Ibovespa e o Ibr-X.
Não há dados consolidados do setor de fundos de pensão que apontam a concentração exata em fundos de dividendos. Segundo dados da Abrapp, cerca de 15% dos recursos totais das fundações estavam alocados em fundos de ações na metade de 2014. Desse total, segundo estimativas de especialistas, menos de 5% estavam concentrados em fundos de dividendos.
Os gestores da Vinci Partners, que possuem um fundo de dividendos voltado para institucionais, defendem a gestão ativa neste segmento. “Claro que defendemos a gestão ativa. Desde que seja bem feita vale a pena pelo retorno”, defende Rabbat. O fundo Vinci Gas tinha patrimônio de R$ 450 milhões no final do ano passado e presença de 15 fundações como cotistas. Alguns dos “cases” de bom desempenho do fundo são as ações da Cetip e da Duke Energy, entre outras. O Vinci Gas teve rentabilidade de 10% em 2014. Desde 2006, o fundo registra retorno anualizado de 18% e acumulado, de 338,3%.
Sabesprev – O fundo de pensão da Sabesp (Sabesprev) mantém um fundo exclusivo que segue estratégia de dividendos de cerca de R$ 35 milhões. “É uma estratégia que tem minimizado o impacto da volatilidade da bolsa no período mais recente, com um comportamento parecido com a renda fixa”, diz César Soares Barbosa, diretor financeiro da Sabesprev. O diretor explica que o fundo tem a vantagem de apresentar baixa correlação com os índices tradicionais da bolsa, o Ibovespa e o Ibr-X, que não têm performado bem nos últimos anos. É por isso que o fundo de pensão tem procurado aumentar a diversificação das estratégias da carteira e dos fundos de renda variável para não ficar concentrado apenas nos principais índices da bolsa doméstica.
A Sabesprev mantém o fundo exclusivo de dividendos há cinco anos, mas não tem intenção de aumentar a alocação agora. “É um momento ainda de indefinição, estamos eperando para definir uma tendência mais clara para a bolsa”, disse Barbosa em entrevista no final do ano passado.
A mudança que ocorreu recentemente foi a troca de gestor deste fundo exclusivo. O novo gestor contratado foi a Vinci Partners – o antigo não teve o nome revelado. “O gestor anterior sofreu um pouco mais com o desempenho de ações do setor elétrico e decidimos trocar”, revela Barbosa.
Fundação CEEE – O fundo de pensão da CEEE (Fundação CEEE) decidiu alocar R$ 50 milhões de sua carteira de renda variável em um fundo exclusivo de dividendos. Os recursos vieram de outros fundos exclusivos, que possuíam estratégia ativapara superar o IBr-X. A direção do fundo de pensão avaliou que os resultados não eram satisfatórios e os gestores acabaram destituídos. “Estávamos pagando taxas de gestão ativa, mas os resultados eram muito fracos”, diz Valdomiro Santana, gerente de investimentos Fundação CEEE.
Com isso, a direção da fundação decidiu abrir três fundos exclusivos com novos gestores. Além da estratégia de dividendos, também se optou por mandatos de pipe e smid caps (small e mid). O novo desenho da carteira de renda variável foi realizada com a consultoria de Carlos Salani, profissional especializado na gestão de recursos de fundos de pensão. O gestor contratado para o fundo de dividendos foi o Credit Suisse Hedging Griffo (CSHG). O gerente explica que a estratégia de dividendos tem característica mais defensiva, que é importante para enfrentar um ambiente de maior volatilidade. “A carteira tem menor volatilidade e ao mesmo tempo conta com alta liquidez”, diz Santana.