Avançando com a supervisão

Edição 223

 

por Carlos Massaru Takahashi, presidente da BB DTVM

Passados mais de dois anos após a eclosão da crise financeira norte- americana, que culminou em uma das mais severas da história econômica mundial, a pergunta que persiste é se ela já está efetivamente superada.
Se, por um lado, vivemos um período de forte recuperação do crescimento global, entre o último trimestre de 2009 e primeiro trimestre de 2010, com sinalizações positivas de estarmos caminhando para a normalidade; ao longo do segundo e terceiro trimestres deste ano, presenciamos a perda do dinamismo da economia norte-americana e global, a deterioração da situação fiscal da Zona do Euro, dentre outros fatores, elevando os riscos de uma segunda recessão global, com perspectivas de contágio, até mesmo às economias em situação mais confortável.
Para construir uma resposta à questão central, precisamos analisar e assumir alguns pressupostos para os principais desafios do momento.
O primeiro diz respeito ao risco de que a crise fiscal européia, uma crise da dívida soberana e bancária na periferia da Zona do Euro, inicialmente com efeitos em países como Grécia, Irlanda, Portugal e Espanha, exporte outro choque financeiro de alcance global e forneça um entrave para a continuidade da recuperação econômica global. A despeito de tais riscos, que reconhecidamente se elevaram a partir de novembro de 2010, todo o esforço da União Europeia e Fundo Monetário Internacional no intuito de oferecer ajuda aos países em dificuldades, bem como a efetiva aceitação desses pacotes em países como Grécia e recentemente Irlanda, nos levam a crer que este risco não persistirá por um período prolongado.
Superada esta primeira questão, o foco se volta para a fragilidade da recuperação econômica e a possibilidade de um segundo “mergulho” da economia global, sobretudo nos EUA. Neste ponto, é preciso elencar também, duas premissas que nos levam a crer que o mundo poderá retomar a trajetória de recuperação ainda que bastante lenta: a) confiança de que o G-4 (EUA, Japão, Zona do Euro e Inglaterra) conseguirá evitar a contração da economia nos próximos meses, ao manter e até mesmo ampliar as políticas monetárias expansionistas, dado que, apesar de apresentar crescimento modesto, possibilitará a redução da taxa de desemprego e o grau de ociosidade, ainda que traga algum risco inflacionário nesses países; b) a avaliação de que as economias dos principais países emergentes, destacando os BRICS – Brasil, Rússia, Índia e China, reúnem todas as condições de retomar uma trajetória de expansão mais forte do PIB, após também terem se desacelerado em meados de 2010.
Sob as condições acima descritas, uma vez afastada a possibilidade de ocorrência de uma segunda recessão e minimizados os riscos de um novo choque financeiro global advindo de uma deterioração adicional da situação fiscal na zona do euro, o cenário que se desenha para 2011 pode ser considerado positivo.
No entanto, a nova realidade que nos espera não deve ser, pelo menos pelos próximos anos, a realidade que vimos nos anos que precederam a Grande Crise de 2008-09. Menores taxas de crescimento global e, principalmente, norte-americano devem marcar a “nova normalidade” para os próximos anos.
Sob o ponto de vista doméstico, a continuidade da condução dos assuntos econômicos baseada em preceitos técnicos e reconhecida pela ampla maioria do mercado, indicam que continuaremos consolidando o nosso crescimento de forma consistente e progressiva, As recentes medidas de incentivo à participação do sistema financeiro privado no desenvolvimento dos projetos de infra-estrutura, dentre outras medidas, poderá proporcionar o encaminhamento para soluções de financiamento de longo prazo para o setor produtivo, sem comprometimento das finanças públicas e seus fundamentos.
Isto posto, ainda que o delicado momento que a economia global voltou a viver nos últimos meses de 2010 tenha renovado as preocupações quanto a sustentabilidade da recuperação global, é possível acreditar que o mundo consolide a trajetória de recuperação econômica ao longo de 2011, se adaptando à nova realidade e superando as dificuldades presentes ao longo dos dois últimos anos.