Gestores lançam fundos IRFM | De olho nas aplicações dos regimes ...

Edição 217

 

Depois da corrida para lançar fundos indexados ao IMA-B provocada pela Resolução 3.790 do Conselho Monetário Nacional (CMN), agora os gestores começam a oferecer novos produtos para atender às necessidades dos regimes próprios de estados e municípios. Desta vez, as principais asset management que atuam no segmento estão lançando fundos indexados ao IRF-M 1, outro subíndice da família IMA – Índice de Mercado Anbima, da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais. “É uma alternativa que tende a render mais que o CDI no médio e longo prazos, mas que não possui volatilidade tão alta quanto o IMA-B”, explica Luis Roberto Zaratin Soares, diretor de renda fixa da Bram – Bradesco Asset Management.
A asset do Bradesco acaba de lançar dois novos fundos de renda fixa indexados ao IRF-M 1. Um deles concentra 100% dos papéis em títulos públicos, enquanto o outro faz um mix com títulos privados. “São títulos públicos com prazo de no máximo um ano, por isso, a volatilidade não é muito alta”, diz Luís Zaratin. Os títulos públicos são do tipo LTN e LTN-F, com vencimentos entre outubro de 2010 e julho de 2011. Os novos produtos estão voltados para os fundos de pensão e para os regimes próprios de previdência, ainda que o maior apelo seja para estes últimos.
A gestão de recursos dos RPPS vem passando por uma forte reestruturação desde o surgimento da Resolução 3.790, em setembro do ano passado. Mas foi a partir do final de março passado que o impacto das novas regras se fez sentir nos institutos, quando acabou o prazo para enquadramento das aplicações em fundos de renda fixa para produtos indexados aos benchmarks da família IMA. A maioria investiu em fundos IMA-B, mas ficou assustada quando encontrou variações negativas nas cotas logo em abril e maio. “Os regimes próprios ficaram em estado de choque com os primeiros resultados dos fundos IMA-B”, aponta Alberto Correa, gerente executivo da unidade de gestão previdenciária do Banco do Brasil.
Como alternativa ao IMA-B, o mercado de gestores percebeu a oportunidade de criar fundos indexados ao IRF-M 1, um novo indexador lançado pela Anbima em abril passado. A vantagem em comparação com o IMA-B é que o IRF-M deve conseguir melhor rentabilidade em um cenário de aumento das taxas de juros. Ainda mais porque todos os cenários apontam para a manutenção da tendência de subida da taxa Selic, ainda que não haja consenso de até que ponto chegarão os juros definidos pelo Banco Central no final do ano.
Por isso, a asset do Banco do Brasil também pretende oferecer o novo produto indexado ao IRF-M 1 a partir do mês de agosto. A BB DTVM deve adaptar o regulamento e a gestão de um de seus quatro fundos voltados para regimes próprios para colocar o novo indexador. “O fundo indexado ao IRF-M 1 tem maior estabilidade, com papéis de médio prazo, ao mesmo tempo em que atende à resolução de investimentos dos RPPS”, diz o gerente executivo do Banco do Brasil.

Concorrência – Com cerca de R$ 11 bilhões sob gestão somente de clientes do tipo regimes próprios, o BB é líder no segmento. Mas a concorrência está aumentando. O crescimento acentuado do patrimônio dos RPPS e as novas exigências para as aplicações dos recursos estão atraindo a entrada e o investimento das assets privadas em um segmento dominado ainda pelos bancos de controle estatal. “Os regimes próprios exigem uma gestão cada vez mais ativa, e isso está provocando um aumento da concorrência entre os gestores”, opina Alberto Correa.
Um exemplo de gestor de recursos que vem focando os regimes próprios é a BNP Paribas Asset Management. Além dos fundos indexados ao IMA-B e de ações voltados para RPPS, a gestora está adaptando agora o regulamento de outro produto indexado ao IRF-M 1 para oferecer a este tipo de cliente.
“Já tínhamos um fundo que seguia gestão indexada ao IRF-M 1 e estamos apenas terminando a adaptação do regulamento para oferecer aos institutos”, adianta Eduardo Loverro, diretor de investidores institucionais da BNP Asset Management.
O gestor explica que a asset tem investido na atuação no segmento de RPPS há cerca de dois anos e meio, mas foi a partir do final do ano passado que começou a colher os resultados. “Saímos do zero, montamos equipe e começamos a concorrer com grandes bancos de varejo, mesmo sem contar com capilaridade de rede de agências”, conta. Mas foi com a exigência de aplicação em fundos indexados ao IMA que se abriram novas oportunidades de aumentar a captação de recursos. “Com os novos fundos IMA a gestão ficou mais ativa e complexa e vimos crescer nossas possibilidades”, explica o diretor de investidores institucionais do BNP.
As taxas de administração também ficaram mais atraentes para as assets. Se antes a maior parte das aplicações dos RPPS estava concentrada em fundos DI, agora, com os investimentos em fundos da família IMA, as taxas sofrem um acréscimo natural, devido à necessidade de uma gestão mais ativa. “São fundos de outra categoria. É a mesma diferença entre comprar um carro 1.0 ou um modelo 1.6. São custos distintos”, compara o diretor do BNP.

Casamento com passivo – Os fundos indexados à família IMA trazem uma mudança na cultura de gestão de recursos dos RPPS. Se até pouco tempo os regimes próprios estavam acomodados com as altas rentabilidades dos fundos DI, agora precisam se acostumar com a volatilidade dos novos fundos. Mais que isso, se torna necessário diversificar as aplicações de acordo com os compromissos atuariais. “É importante conhecer o passivo do regime próprio. Com base nisso, ele pode alocar uma parte em fundos IMA-B, outra em IRF-M e até em demais modalidades de aplicações”, comenta Luis Zaratin, da Bram.
Apesar das vantagens de se investir em fundos indexados ao IRF-M devido à perspectiva de abertura da taxa de juros básica, o IMA-B continua sendo uma boa alternativa para o longo prazo. “Os fundos IMA-B são uma excelente opção para o longo prazo, pois são constituídos por papéis do tipo NTN-B, com duration média de três anos, mas com vencimentos que vão até no máximo 2050”, aponta o diretor da Bram.
Em compensação, são fundos que registram volatilidade alta – para alguns gestores, porém, os regimes próprios devem aprender a conviver com essa oscilação. “Por ser um investidor de longo prazo, o regime próprio pode lidar com uma volatilidade mais alta. É um processo que os fundos de pensão passaram no passado e que agora os RPPS precisam enfrentar”, defende Renato Ramos, diretor de renda fixa do HSBC Global Asset Management.
Ele explica que os fundos DI não possuem volatilidade, mas que estão totalmente descolados das metas atuariais dos fundos de previdência. “Não dá mais para ficar apenas em fundos DI, pois não é possível fazer relação deste indexador com as metas atuariais”, conclui o diretor do HSBC (leia mais nas páginas 48 e 49). Os fundos de previdência possuem compromissos atuariais baseados no pagamento de benefícios que muitas vezes começam daqui a 20 ou 30 anos, por isso, não tem sentido permancer com um indexador de curto prazo.
Além disso, a utilização dos benchmarks da família IMA aproximam a gestão de recursos no Brasil dos padrões praticados pelos principais mercados internacionais. Em países com mercados de capitais mais desenvolvidos, os títulos públicos não funcionam com prazos inferiores a um ano. “É mais vantagem para o gestor que pode replicar o benchmark”, explica Luís Zaratin. Já o CDI não pode ser replicado, pois quase nunca possui variação negativa, ou seja, é um benchmark que sempre sobe e não é possível estabelecer parâmetros para avaliar a gestão.