Edição 211
Os investimentos que o Brasil precisa fazer em infraestrutura para acabar com os chamados “gargalos” da economia não são conversa recente. Pelo menos nas últimas duas décadas a questão é apontada por economistas, empresários e pela sociedade civil como essencial para que o País consiga se desenvolver. Com a notícia de que o Brasil será sede da Copa do Mundo de 2014 e o Rio de Janeiro dos Jogos Olímpicos de 2016, os investimentos em estradas, portos, aeroportos e saneamento básico, entre outros setores, devem ser ampliados. Segundo economistas, no entanto, não será em 2010 que isso ocorrerá de forma intensa, mas nos anos seguintes.
Na opinião de Marcelo Mello, vice-presidente da SulAmérica Investimentos, o fato de o País sediar os eventos esportivos não significa que os projetos vão sair rapidamente do papel. “Ainda não se sabe como será o formato dessas estruturas de investimento, suas garantias. Até agora, não houve muitos projetos que saíram do papel junto aos fundos de pensão porque eles não se sentiram confortáveis para fazer essa alocação em termos de arcabouço jurídico”, analisa. O executivo explica que, apesar de existir apetite por parte das fundações – que precisam atingir suas metas atuariais em meio a um cenário de juros mais baixos – , as dúvidas em relação às garantias desses projetos bilionários em parceria com o poder público são grandes.
“Se os agentes de mercado junto com o governo conseguirem estruturar produtos que ofereçam essas condições, existe espaço para crescer. Mas isso é um ponto que comentamos todo ano e que até agora não conseguiu deslanchar principalmente por conta da questão do arcabouço jurídico”, declara. De acordo com o executivo, assim como já ocorreu em países como Portugal e Chile, esse investimento público-privado precisa ser bem amarrado juridicamente para que dê alguma garantia para o investidor final. Mello acrescenta que existem muitas discussões nas fundações brasileiras em relação a esses projetos, e muitas tentativas de estruturar produtos ligados a infraestrutura. “Mas nunca vimos nenhum deles tomar uma dimensão maior. Vemos apenas a vontade dos fundos de pensão em investir em produtos alternativos, como fundos de private equity”, completa. “O grande desafio é começar a ver estruturas de fundos com risco de entidades públicas. São projetos maiores, de bilhões de reais, e só quem poderia dar o funding são as fundações.” Adalto Lima, economista-chefe da Western Asset, endossa que essa discussão ocorre há anos. “É claro que como há eventos específicos, em algum momento vão ter que começar a fazer. Agora, o que vemos é que, quando o setor privado está envolvido, os investimentos em infraestrutura funcionam mais rápido”, diz. Segundo ele, os investimentos do setor público ainda são muito tímidos quando mensurados pelo percentual que representam do PIB. “Neste ano, por ser eleitoral, alguns projetos podem sair, mas não acredito que aqueles relacionados à Copa e às Olimpíadas sejam iniciados em 2010. Devem ficar mais para frente, de 2011 em diante”, avalia.
Atração de capital – Já do ponto de vista de Paulo Veiga, da Mercatto Gestão de Recursos, a infraestrutura vem atraindo investimentos no Brasil.
De acordo com ele, a comunidade internacional sabe que o País tem deficiências nesse setor, especialmente em logística e transporte (portos, rodovias). “Existem vários espaços a serem ampliados e cobertos, além dos programas de energia, que precisam ser mantidos. É um tipo de investimento que não pode ser postergado”, diz. Para o executivo, existe a necessidade de reforma na natureza dos gastos públicos. “Hoje não se gasta mais um ou dois bilhões de dólares, e sim mais de 15. Esses projetos demandam uma tecnologia financeira de que não dispomos no Brasil. Financiar um projeto desses não é como no passado, com imposto inflacionário. Tem que ter um projeto financeiro crível. E tirando o BNDES, no Brasil o mercado de financiamento de longuíssimo prazo é quase inexistente”, afirma.
A expectativa de Eduardo Yuki, da BNP Paribas Asset Management, é de que a taxa de investimento atinja em torno de 19% do PIB até o final de 2010. “E deve continuar subindo nos próximos anos. Vemos um cenário otimista para investimentos, principalmente com a recuperação da economia brasileira, que foi de forma rápida e vigorosa”, acrescenta. Ele ressalva que essa retomada se deu também por conta do estímulo monetário e fiscal, mas, segundo o executivo, existe uma alta demanda reprimida, já que as parcelas mais pobres da população passaram a consumir mais.