Edição 211
É difícil prever. Essa é a frase que mais se ouve de especialistas do mercado financeiro quando instados a fazer suas previsões sobre câmbio.
Isso porque um sem-número de fatores diferentes embaçam a visão do economista quanto maior for o horizonte a ser analisado, tornando espinhosa a tarefa de estabelecer possíveis cotações futuras para a moeda brasileira. Contudo, apesar das dificuldades em arriscar uma previsão exata, agentes do mercado financeiro ouvidos por Investidor Institucional para dar suas opiniões a respeito desse tema para 2010 concordam em um ponto: não haverá grandes oscilações. Pode variar um pouco para cima, um pouco para baixo, mas o Real deverá se manter nos mesmos patamares em que se encontra atualmente.
Seguindo essa linha, Marcelo Mello, vice-presidente da SulAmérica Investimentos, prevê um cenário de neutralidade para o câmbio neste ano, por conta da apreciação pela qual a moeda nacional já passou, e por uma atuação do governo para não prejudicar os exportadores. “O que estamos projetando para o final de 2010 é algo em torno de R$ 1,70 ou R$ 1,80 por dólar, um número próximo ao atual. Não estamos vendo fortes movimentos de valorização ou desvalorização.” Já Eduardo Yuki, economista-chefe do BNP Paribas Asset Management, ressaltando a dificuldade em estipular um número exato, espera uma pequena valorização adicional do real em 2010. Ele explica que vai haver um ingresso de capital no País, gerando aumento de reservas, que por sua vez pressionará essa apreciação. “É difícil prever em quanto vai ficar, mas deve permanecer em algo em torno de R$ 1,60 e R$ 1,65”, avalia.
E quando um palpite se encontra muito abaixo ou acima da cotação atual, ele está fadado ao erro. “Depois de tanto tempo na ativa, aprendemos que quando o mercado está calmo, a melhor previsão de câmbio para um ano é o preço em que ele está hoje. Arriscar mais é que nem jogar no bingo”, diz Paulo Roberto da Veiga, sócio-diretor da Mercatto Gestão de Recursos. Tendo isso em vista, e por não enxergar indícios de que a moeda brasileira esteja fora de preço, o executivo acredita que o Real permanecerá nos atuais níveis. “Claro que os exportadores vão dizer que o Real está barato, mas é sempre assim”, acrescenta.
É o que diz também Alexandre Póvoa, diretor do Modal Asset Management, em seu artigo “O câmbio e o caráter competitivo do Brasil”, publicado nesta edição (pág. 30), em que traça os desafios na política cambial daqui para frente. “Historicamente, ‘faz parte do show’ a reclamação de empresários acerca da variável câmbio. Os exportadores sempre acham que o ‘Real está demasiadamente valorizado’, tornando menos rentáveis as vendas para o exterior”, explica, antes de apresentar números que desmentem essa tese. De acordo com Póvoa, entre 2003 e 2008, período no qual o real saiu de R$ 3,50/US$ para R$ 1,60/ US$, as exportações tiveram um crescimento médio de 24% ao ano. Já entre julho de 2008 e o final do ano passado, a média da taxa de câmbio esteve na casa de R$ 2,00/US$, e ainda assim as exportações caíram 14% ao ano, graças à crise financeira, que “levou a uma generalizada queda de demanda por qualquer tipo de produto no mundo, inibindo as nossas exportações”.
O diretor do Modal Asset ainda aponta algumas medidas simples para atenuar no curto prazo a preocupação com o câmbio, como desestimular a entrada de divisas e facilitar a saída de recursos, citando, por exemplo, a reintrodução do IOF sobre aplicações estrangeiras em renda variável e fixa. Contudo, ele afirma que tais ações são pontuais, e não podem ser tratadas como soluções de médio/longo prazo. “As variáveis de juros e câmbio reais são resultados de políticas econômicas (bem ou mal-feitas).
Governos podem até querer determinar voluntariosamente juros e câmbio nominais, que não significam muita coisa em termos macroeconômicos.
Porém, se os governantes querem realmente buscar um caminho sério para desvalorizar o câmbio real, o caminho mais sustentável é através de uma profunda reforma fiscal”, escreve Póvoa em seu artigo.