A aposta do Fator | Banco contrata executivo de fora do mercado f...

Edição 137

Onde muitos estão vendo uma crise, o Banco Fator está vendo oportunidades. A instabilidade do mercado brasileiro, que fez com que várias instituições financeiras deixassem o País nos últimos anos, abriu novas e promissoras perspectivas de crescimento para o banco. De um pequeno banco voltado exclusivamente para o mercado de atacado, o Fator quer transformar-se num banco de médio porte com presença em vários mercados. Para isso contratou um especialista em crescimento, o executivo Manoel Horácio Francisco da Silva, para assumir a sua presidência.
Embora tenha ingressado no banco no início deste ano, ele já vinha trabalhando com o Fator desde o ano passado, ajudando na sua reestruturação societária. A engenharia de negócios que permitiu a compra da parte dos três sócios pelo quarto sócio, o executivo Walter Appel, foi montada em grande parte por ele, que trabalhou como consultor no processo. Finalizada a compra das cotas dos três sócios por Appel (um dos ex-sócios, Sylvio Bresser Pereira, era irmão do ex-ministro da Fazenda do governo Sarney, Luiz Carlos Bresser Pereira), Francisco da Silva foi convidado por Appel para dirigir o banco.
Na verdade, é a segunda vez que ele recebe um convite de Appel para assumir a direção do Fator. A primeira vez foi em 1993, quando ele estava na Ficap, uma empresa da área de fios e cabos elétricos. Naquela época, ele organizava a fusão de quatro companhias em uma só, sendo uma delas a própria Ficap e as outras três a Siemens Cabos, a Alcan Cabos e a Marven, e acabou declinando do convite. “Era um trabalho muito interessante, de fusão de quatro companhias, então tive que recusar o convite do Walter”, diz. “Mas ele entendeu, na época”.
É assim mesmo, pelo primeiro nome e com um certo informalismo, que ele chama o hoje único dono do Banco Fator. “Somos amigos a trinta anos”, relembra. Essa amizade, certamente, será valiosíssima nos momentos em que algumas decisões mais arrojadas precisarem ser tomadas, com o objetivo de dar ao banco maior exposição, mais clientes e maior volume de recursos. “Quero multiplicar por cinco o volume de dinheiro do banco, num prazo de cinco anos”, diz. “Para isso, vamos ter que ser agressivos e ousados”.
A marca de Francisco da Silva já começou a ser colocada no Fator. O banco comprou, nos últimos meses, três corretoras, a Lemmon (ex-Patagon), a Investa (ex-Itaú) e a Comercial. As duas primeiras são operações de home-broker e trouxeram para o banco nada menos do que 8 mil clientes ativos e um cadastro de outras 16 mil pessoas físicas que, em algum momento, já fizeram negócios com elas. A última atua no mercado de atacado, com destaque na Bolsa de Mercadorias & Futuros (BM&F). Com as aquisições, o negócio de corretagem do banco cresceu entre 2 vezes e 2,3 vezes desde o início do ano, somando R$ 4,1 milhão apenas no mês de junho. “O nome do jogo é volume. Ou você compra ou é comprado, porque o movimento e as taxas de corretagem caíram muito nos últimos anos”, diz Francisco da Silva. “E nossa vocação não é ser comprado”.
No momento, ele está negociando uma parceria com uma corretora de Wall Street, para poder negociar papéis de empresas brasileiras naquele mercado. Uma das possíveis parceiras, com quem o Banco está mantendo conversações, é a Multitrade. “Mas ainda não temos nada fechado com ela, pode ser ela ou outra”, desconversa Francisco da Silva. Sua contrapartida na parceria com a norte-americana seria uma estrutura de research que está entre as mais completas do País, com dez analistas setoriais e acompanhamento de 90 empresas brasileiras listadas nas bolsas.

Aposta nos institucionais – Outra área onde o Fator pretende crescer é na gestão de recursos. Com cerca de R$ 2,3 bilhões sob gestão, o Fator pretende fechar o ano na casa dos R$ 3 bilhões. Conta, para isso, com o desempenho dos seus fundos e o avanço que deverá vir na área de institucionais com a reforma da previdência. “Nossos fundos estão performando muito bem”, diz Francisco da Silva. “No ano passado, no episódio da marcação a mercado, eles mostraram consistência enquanto muitos outros fundos do mercado perderam dinheiro”.
Na verdade, os fundos do Fator tiveram um desempenho totalmente diferente da tesouraria do banco. Enquanto a última estava posicionada em papéis do governo de longo prazo, sofrendo perdas expressivas com a marcação a mercado, os fundos do banco estavam com poucos títulos governamentais de longo prazo. Portanto, apesar do bom resultado dos fundos, o banco fechou o ano passado com um prejuízo de R$ 3,7 milhões.
Estancar as perdas, eliminar os riscos e voltar ao lucro foi uma das primeiras ações de Francisco da Silva. Ele optou por reduzir drasticamente o estoque de títulos governamentais de longo prazo do banco, de R$ 400 milhões para R$ 110 milhões, um corte de 72,5%. No caso de um novo cenário de stress, a posição do banco está mais sólida.
A área de fundos também está buscando costurar novas parcerias para distribuir os seus produtos, tanto com bancos de rede quanto com aconselhadores financeiros para investidores private. Além disso, tem investido em ampliar a cobertura que dá aos clientes institucionais, tendo inaugurado recentemente o escritório de Curitiba, para cobrir a região Sul. A responsável pelo atendimento dos institucionais passa a ser Mariana Costa, que veio do Global Invest.
“Nossa cobertura de clientes institucionais já era boa em São Paulo e nas regiões Norte e Nordeste, mas tínhamos uma deficiência na região Sul”, lembra Francisco da Silva. “Com a abertura do novo escritório, sanamos essa deficiência”.
Uma das apostas do banco na área de institucionais está sendo nos institutos de previdência de estados e municípios, que com a reforma da Previdência devem se transformar em fundos de pensão. “Há muito patrimônio a ser administrado nessa área,e vai crescer ainda mais depois da reforma da Previdência”, diz.
Outra aposta do banco vai na direção das operações com empresas, nas áreas de fusões, aquisições e reestruturações. O Fator foi um dos bancos que atuou mais fortemente no processo das privatizações do governo Fernando Henrique Cardoso, tendo preparado inclusive a operação de privatização do Banespa, que foi comprado pelo Santander. Mas, com a diminuição das estatais privatizáveis e a decisão do governo de Lula de suspender o processo de privatizações, o banco está buscando novos rumos.

Fusões no setor privado – A ordem é voltar-se para as operações com empresas do setor privado. O Fator está estruturando a operação de fusão da Varig com a TAM, um dos mais importantes negócios do mercado brasileiro se vier a ser concretizado. Além disso, está participando de cerca de outros vinte projetos com empresas de pequeno e médio porte. “São todos projetos com empresas da iniciativa privada”, diz Francisco da Silva.
Aliás, ele irá utilizar muito de sua experiência acumulada no setor privado para alavancar o crescimento do Fator. Francisco da Silva contabiliza 18 operações de fusão, aquisição ou reestrruturação das quais já participou na sua vida profissional. Nos últimos anos, após ter terminado a fusão das quatro empresas na Ficap, ele assumiu a Sharp, um ano após a trágica morte do seu fundador, o empresário Mathias Machline, num acidente de helicóptero nos EUA em 1994. Ficou apenas dois anos na empresa. “A administração da empresa era uma coisa complicada, por causa
da interferência dos filhos de Machline”, diz . Mas, quan-
do saí, o perfil de endividamento da empresa tinha melhorado muito”.
Da Sharp ele foi para a Vale do Rio Doce, onde junto com o principal acionista, Benjamin Steinbruch, comandou o processo de compras de empresas e posteriormente do descruzamento das ações da Vale com a CSN. Deixou a CVRD para assumir a direção da Telemar, uma operação de unificação de 17 empresas adquiridas pelo consór-
cio Garantia Participações, Andrade Gutierrez, La Fonte
e fundos de pensão durante o processo de privatização
das teles.
Nesses empregos todos ele ganhou a fama de ter um dos salário mais altos do país. Comenta-se que estaria ao redor de R$ 1 milhão por ano. “Não falo sobre esse assunto”, despista. “Mas garanto que valho o que me pagam”.