Edição 146
A conteceu o que muitos temiam. Depois de um verdadeiro boom de novas assets independentes, durante todo o ano passado, este segmento começa a registrar as primeiras baixas. Duas administradoras de recursos com foco em produtos mais arrojados, como os fundos multimercados, que começaram suas atividades há menos de um ano, estão fechando as portas. São elas: Legacy e Acrux Asset Management. O principal motivo é que estas assets não atingiram a escala mínima necessária para o negócio fazer sentido. Comenta-se no mercado que outras assets que ainda não alcançaram escala estão à venda (detalhe: sem encontrar comprador) ou às vésperas de fechar.
A Legacy começou a funcionar em agosto do ano passado e foi criada por três ex-gestores do banco JP Morgan: Wilson Müller, Eduardo Mafra e Eduardo Favrin. O trio deixou o JP, depois da área de gestão ter sido comprada pelo Bradesco, e resolveu montar o próprio negócio. Segundo Müller, a decisão de fechar ocorreu pelo fato da asset não ter atingido o tamanho esperado. “Não crescemos até o tamanho que precisávamos para ter algum ganho de escala”, diz Müller.
A asset dos três ex-JP Morgan chegou a ter R$ 23 milhões de patrimônio. No entanto, com a turbulência que tomou conta de todos os ativos do mercado financeiro, especialmente nos últimos dois meses, os resgates começaram e o patrimônio despencou para a casa dos R$ 10 milhões. “Nesse momento, decidimos que o melhor a fazer era encerrar o negócio, antes de se transformar em prejuízo para os sócios”, afirma Müller.
O processo, segundo Müller, foi rápido. Reuniram os cotistas, comunicaram a decisão e pediram que resgatassem seus recursos. Ele afirma que foram procurados por outras assets pequenas dispostas a fazer algum tipo de fusão, mas preferiram fechar dado o cenário turbulento do mercado financeiro. “Continuar para quê, já que não estamos nada animados?”, indaga Müller.
A falta de escala também foi o calcanhar de Aquiles da Acrux. Segundo Celso Portásio, um dos sócios da asset, com a queda de patrimônio, aliada aos baixos retornos e excesso de impostos, o prazo para o negócio começar a dar lucro ficava cada dia mais longe. “No início, os planos eram começar a ter retorno em 18 meses. No fim, já não sabíamos mais quando esse lucro viria”, diz Portásio. Diferente da Legacy, a Acrux está negociando com uma grande asset a incorporação do fundo e dos cotistas. A Acrux deve continuar aberta, mas tocando outro tipo de negócio, que ainda não foi definido, e também não mais com todos os sócios originais. Além de Portásio, a Acrux tinha como sócios André Rocha (ex-Fidúcia) e Evaldo Ferreira (ex-Rio Bravo).
A alta volatilidade e o mau humor que contagiaram todos os ativos do mercado – conseqüência de problemas internos e contratempos internacionais – provocaram uma onda de baixos retornos em fundos multimercados de grandes gestores, como Hedging-Griffo, Claritas e Gap, acertando em cheio as assets menores. “Os distribuidores de fundos e mesmo os investidores preferem deixar o dinheiro aplicado nestas assets mais tradicionais, mesmo registrando perdas, mas decidem resgatar das instituições pequenas para minimizar o risco”, diz Müller. No último mês, alguns fundos multimercados chegaram a cair mais de 1,5% em apenas um dia. O investidor precisa ter muito sangue frio para ver isso acontecer sem se abalar ou sequer rever uma parte de suas aplicações.
Antes mesmo desta turbulência no mercado financeiro, a Legacy já tinha passado por mudanças, com a saída de Eduardo Favrin (um dos sócios), que foi ser gestor dos fundos do banco Fator. Müller nega que a saída de Favrin tenha, de alguma maneira, gerado insegurança nos clientes e estimulado os resgates. De qualquer forma, alguns especialistas insistem que a saída de um sócio nunca é vista com bons olhos pelos clientes, ainda mais quando o negócio acabou de começar e tem um perfil mais arriscado, como é o caso dos multimercados.
No último ano, houve uma verdadeira febre de assets independentes. Uma conta rápida mostra que mais de 30 começaram a funcionar desde janeiro de 2003 e a maior parte delas com as mesmas características: oferecem fundos mais arrojados, dirigidos a investidores com mais recursos e apetite por risco. Na época, alguns especialistas já demonstravam preocupação com esta proliferação e questionavam a consistência do trabalho destes novos gestores.