Edição 267
O ano de 2014 foi um período de mudanças relevantes para os principais players que atuam no mercado de custódia no país, sendo que algumas das transformações registradas até novembro devem se cosolidar no fechamento do ano e ainda causar bastante impacto ao longo de 2015. A liderança do mercado, que ao final de 2013 estava com o Itaú Unibanco, voltou ao Bradesco em novembro de 2014 (últimos dados disponibilizados pela Anbima até o fechamento desta edição), que pela primeira vez ultrapassou a barreira do R$ 1 trilhão. Além da troca de lugares entre os dois líderes, outra alteração de posições no bloco dos dez primeiros se deu com a subida do Safra para a décima colocação ultrapassando o BNY Mellon que caiu uma posição, para a décima primeira colocação.
Ao mesmo tempo em que algumas casas perdem espaço na custódia de terceiros, outras instituições de porte têm se preparado para disputar espaço nesse nicho, como é o caso do Banco do Brasil e do BNP Paribas, o que tende a acirrar ainda mais a disputa por clientes nos próximos meses. Outro evento que gerou reflexos importantes para esse mercado no ano passado foi a implementação da Instrução 531 da CVM que elevou as exigências da custódia para os FIDCs, abrindo um espaço que tem sido preenchido por players de menor porte que têm procurado se especializar em nichos específicos.
No Bradesco, a primeira colocação se deu por conta de um crescimento de 6,8% entre novembro de 2013 e o mesmo mês de 2014, levando os ativos totais sob custódia do banco ao patamar de R$ 1,003 trilhão segundo a Anbima. Logo em seguida vem o Itaú Unibanco, que cresceu 5,3% no mesmo período, para R$ 990,5 bilhões.
O mercado doméstico do Bradesco foi impulsionado pelos ativos proprietários do banco, que aumentaram 14,4%. Na custódia de terceiros a instituição também apresentou evolução, de 3,6%, o que correspondeu a cerca de R$ 10 bilhões em novos negócios até novembro de 2014. Desse total, aproximadamente R$ 4,8 bilhões vieram de dez entidades de previdência complementar, o que manteve o banco como o maior custodiante de fundos de pensão nos 11 meses de 2014, crescendo 9,3% para R$ 212 bilhões nesse segmento. Outros R$ 4,6 bilhões entraram na custódia do banco via novas parcerias com assets. “Foi um crescimento baseado em ativos de renda fixa”, pontua André Bernardino, diretor de ações e custódia do Bradesco.
Embora sempre atento a possíveis novos negócios, com a chegada de novos players para atuarem no mercado, a maior preocupação do Bradesco ao longo de 2014 foi a de manter os grandes clientes que já estavam com ele. “Os entrantes terminam provocando alguma pressão, mas não perdemos espaço para os novos players. O Brasil tem tamanho para a entrada de novos concorrentes, e quem está atuando precisa fazer ajustes em seu processo e demonstrar que segue capacitado”, afirma Bernardino. “Não temos como estratégia baratear o preço para prestar serviço”.
Uma das perdas sofridas pela custódia do Bradesco em 2014 foi de uma carteira de FIDCs de R$ 4 bilhões do Banco BMG. O Itaú adquiriu as operações de crédito consignado do BMG, e no ano passado optou por encerrar antecipadamente os fundos que estavam custodiados na concorrência.
O mercado de FIDCs, ressalta o diretor do Bradesco, não foi fácil nos últimos meses, tanto por conta do desaquecimento do crédito na economia, como também pela implementação da Instrução 531 da CVM que entrou em vigor em fevereiro do ano passado. “As exigências por parte do regulador são importantes, mas trouxeram uma carga de informação, de maiores controles, que antes não existia. Isso acabou nos afastando um pouco desse mercado, houve uma retração nos processos, por conta também de uma dificuldade com as adaptações”, nota o executivo.
Pelos dados da Anbima, o mercado de FIDCs apresentou uma retração de 11,7% até novembro do ano passado, de R$ 75,6 bilhões para R$ 66,8 bilhões.
Especializadas – Embora o mercado de FIDCs tenha ficado menos atrativo para os grandes bancos, pelo aumento no nível de controles e exigências, algumas casas de menor porte tem conseguido atrair boa parte desses recursos ao se especializar e investir nesse tipo de negócio.
A Oliveira Trust DTVM é um desses casos; os ativos sob custódia da instituição aumentaram de R$ 3,2 bilhões em 2013 para R$ 6,2 bilhões até novembro de 2014, incremento de 93,7%. Outro exemplo é o da Planner Corretora, que viu os ativos sob sua custódia crescerem de R$ 3,2 bilhões para R$ 5,8 bilhões, alta de 81,2% no mesmo período. Nessa mesma linha, o Banco Paulista aumentou os ativos sob custódia para R$ 5,6 bilhões, incremento de 96%, e a Petra registrou aumento de 71,4%, para R$ 5,06 bilhões.
Banco do Brasil – O Banco do Brasil, que se prepara para atuar no mercado de custódia de terceiros com uma estrutura proporcional ao seu tamanho como banco, obteve um crescimento relevante em onze meses do ano passado, de 55% entre os ativos de outras instituições. E esse aumento se concentrou justamente no mercado de FIDCs, liderado por um grande fundo de R$ 20 bilhões da Petrobras que estava com o Itaú.
Ao longo de 2014 o Banco do Brasil focou no aprimoramento de seu arcabouço tecnológico e de sistemas, e em 2015 deve aumentar seu quadro de pessoal para lançar sua nova área de custódia para terceiros. “Estamos trabalhando firme para conquistar novos clientes. Os concorrentes vão sofrer com a força e o dinamismo do banco”, afirma Humberto Miranda, gerente executivo do Banco do Brasil.
A instituição trabalha com metas ousadas; prevê, em cinco anos, ter em torno de 22% de market share do mercado de custódia no país, o que o colocará na disputa pela ponta com Bradeso e Itaú – hoje o Banco do Brasil tem uma fatia de 15% nesse segmento, enquanto o Bradesco, na liderança, tem 23,1%, seguido pelo Itaú, com 22,8%.
Para fazer frente a sua projeção, a área de custódia do banco, que no segundo semestre do ano passado tinha cerca de 100 pessoas, já conta hoje com 180 funcionários, e novas contratações ainda devem ocorrer. O banco também fechou contrato com duas fornecedoras de tecnologia do segmento, a Totvs e a Senior Solution. “Não temos um prazo para a nova estrutura entrar no ar, mas vai ser ainda em 2015”. Ainda estão em estudos a criação do status de diretoria para a nova área de custódia, e também alguma possível parceria para impulsionar o negócio. “Por enquanto não temos nada de concreto, mas é uma das vertentes que vamos reforçar em 2015, vamos estudar oportunidades na área”, diz Miranda.
Em um primeiro momento, o BB irá focar como seu público-alvo os fundos de pensão e RPPS, com quem já têm relacionamento estabelecido há um bom tempo. Em uma segunda etapa o banco irá partir para as gestoras independentes, quando a briga com os concorrentes ocorrerá de forma mais agressiva. “Nesse último caso teremos de fato uma briga com os outros players do mercado. Trata-se de um mercado consolidado, então vai ter muito rouba monte, não tem como crescer nessa área sem isso”, fala Miranda. “Terão também novos negócios, a área de infraestrutura vai trazer muito recurso”, diz.
A busca por novos clientes não se dará via guerra de preços, como ocorreu recentemente no mercado doméstico com a chegada de alguns entrantes, ressalta o gerente do BB. “Não participamos de guerra de preços, e ainda bem que os dois maiores players também não entram nessa, até porque entendemos que entrar por esse viés é dar tiro no pé”, diz o executivo.
Caixa – Um dos principais concorrentes do BB na disputa pela custódia dos institucionais, principalmente dos RPPS, é a Caixa, que há pouco tempo também entrou nesse mercado. Em 2014, até novembro, a Caixa cresceu apenas 4,8%, para R$ 133,3 bilhões, crescimento alavancado pelos ativos de terceiros – até por ter uma base ainda pequena, a alta nos ativos de terceiros foi de 57,4%, para R$ 1,6 bilhão, enquanto a de proprietários avançou 4,4%, para R$ 131,7 bilhões.
Os novos players que chegaram a esse mercado nos últimos anos têm gerado uma pressão entre os demais agentes, que têm buscado otimizar seus resultados com novas estratégias, diz Renato Silva Nunes de Siqueira, gerente nacional de controladoria de ativos e passivos e custódia da Caixa. “Algumas casas passaram a fazer ajustes em suas políticas de desconto e público alvo, abrindo mão de clientes com patrimônio baixo e também de clientes que se beneficiavam de descontos”, afirma o executivo.
BNP Paribas – Além do Banco do Brasil, outro player importante que o mercado de custódia de terceiros terá a partir de agora no país é o BNP Paribas, que em novembro de 2014 ocupava a décima segunda posição no ranking da Anbima, com R$ 26,2 bilhões sob custódia, mas sendo apenas R$ 98,4 milhões de terceiros do mercado doméstico. “Em outubro de 2014 lançamos uma plataforma de custódia local para fundos locais para terceiros. Com isso, esperamos para esse ano um forte crescimento desses ativos”, afirma Antonio Nascimento, head comercial de clientes locais do BNP Paribas.
A razão pela qual o BNP Paribas resolveu lançar a plataforma, explica o executivo, decorre da dinâmica recente desse mercado de custódia para terceiros, que tem alguns players que não estão satisfazendo os clientes com a qualidade dos serviços prestados. “Na história recente os competidores tiveram de se posicionar e adequar a estratégia à nova realidade, e com isso enxergamos que existe uma clara janela de oportunidade. Tem muitos clientes hoje que estão sendo mal atendidos e que estão em busca de parceiros”.
A nova plataforma do BNP Paribas já conta com dois grandes gestores como clientes, e são quase 20 outros que estão em processo de abertura de conta. Somando os que já entraram e os que estão para entrar, o executivo calcula que os ativos custodiados devem alcançar o patamar de R$ 3 bilhões. “A projeção em termos de valores é mais para o longo prazo, para 2015 estamos trabalhando mais em número de clientes, não tanto o total de ativos sob custódia”, comenta Nascimento. Para este ano, a meta é conseguir até 50 novos clientes, e até 2018, o BNP Paribas que ter de 8% a 10% do mercado – hoje tem 0,6%.
A estratégia para captar clientes, explica Nascimento, será a de usar a marca global do banco para atrair investidores que já trabalhem com a instituição em outras regiões. “A gente vai buscar atender os clientes globais que estão entrando nesse mercado”, diz o executivo. Além dos clientes globais vindo ao país, o banco irá focar também nas gestoras locais que começam a olhar mais para mercados fora das fronteiras domésticas. “Hoje percebemos um mercado local um tanto estagnado, com a bolsa de lado ou caindo, então percebemos uma demanda muito forte de gestores locais querendo diversificar seu investimento no exterior”, afirma David Rodrigues, head comercial de clientes estrangeiros do BNP Paribas.