Governança é prioridade | Custodiantes que atuam no mercado exter...

Edição 356

Ainda que o seu volume de recursos sob custódia tenha ficado ligeiramente abaixo do ano anterior no ranking da Anbima, o Citibank viu seu market share subir de 66,1% em março de 2022 para 68% no mesmo mês deste ano, o que assegurou um novo avanço e a manutenção de uma posição firme na liderança dos serviços de custódia de recursos para os não-residentes no Brasil (Resolução 4.373). “Tivemos nesse período um número maior de abertura de contas do que os concorrentes, o que mostra a preferência dos clientes pelos nossos serviços. Ainda que a volatilidade do mercado continue alta no Brasil, houve um número expressivo de ingresso de novos fundos entre abril do ano passado e março deste ano. Foram 1.006 novos códigos CVM, ou seja, novas contas de fundos”, afirma Roberto Paolino, diretor de securities services.
Segundo Paolino, a maioria dessas novas contas vêm do mercado dos EUA e opera em bolsa – cerca de 65% do portfólio total contra 35% aplicados em títulos públicos.
O banco enfatiza seus esforços em governança, com um trabalho regular para que os investidores não-residentes possam participar cada vez mais das assembleias e votar. “Temos trabalhado muito nisso desde que a B3 viabilizou o modelo de voto eletrônico e estamos buscando que os clientes participem mais das assembleias. Para isso, melhoramos constantemente as técnicas e o processo de comunicação com a B3 para o eventual cancelamento de votos”, explica.
Entre os aspectos para aprimorar esse processo no País ele destaca a necessidade de que seja obrigatório oferecer a opção do voto eletrônico também nas assembleias extraordinárias (por enquanto a obrigatoriedade é apenas para as assembleias gerais ordinárias). “Temos discutido o assunto com a Anbima, a CVM e a B3 para demonstrar que isso seria importante para os clientes. Se houver uma mudança na companhia, por exemplo, o voto eletrônico viabilizará a participação desses investidores nas decisões”, afirma. “Também seria importante reduzir de sete dias para três dias antes de cada assembleia o prazo para que o investidor manifeste sua vontade de votar”.
Citi participa ainda, no Brasil, do projeto para a criação do Real digital. “Temos discutido um projeto que prevê a emissão de títulos tokenizados, e que possam ter liquidação imediata. O Banco Central gostou da ideia e há discussões sobre a emissão, pelo Tesouro, de um título tokenizado que seria liquidado apenas por meio da moeda (Real) digital”, diz. Não é um projeto para hoje, admite Paolino, mas há uma expectativa de conclusão da sua prova de conceito até junho de 2024. O modelo é novo no mundo, embora haja um projeto semelhante na Suíça, por exemplo, mas o Brasil estaria na vanguarda global, explica o diretor de securities services do banco.
Outro ponto relevante, discutido pela instituição junto aos investidores em seminário recente que organizou nos EUA, é o projeto de mudança do prazo de liquidação na bolsa nos EUA e Canadá. A liquidação nesses mercados, que ocorre dois dias depois da negociação, passará a ser feita em D+1 a partir do dia 28 de maio de 2024. Na mesma linha, a bolsa mexicana implantará a mudança em setembro do próximo ano. “No Brasil ainda não há uma data definida, mas já temos conversado muito sobre o assunto com a B3 e acompanhamos de perto sua evolução”, diz. Ele lembra que os investidores estrangeiros respondem hoje por 40% da liquidação da bolsa aqui, então qualquer falha será um problema. “Como aqui no Brasil somos o beneficiário final, isso diminui os riscos de liquidação e esse projeto não deverá ser para 2024”, observa. Mas a mudança deverá ocorrer no futuro e os custodiantes terão que fazer adaptações em sistemas e tecnologias.

O BNP Paribas, terceiro maior custodiante para contas de não-residentes, segue na toada de crescimento desde 2018/2019 e obteve alguns grandes mandatos no ano passado, o que ajudou a reforçar sua posição. “O nosso foco não é chegar ao topo do ranking mas obter mandatos relevantes nesse mercado. Para isso tem sido fundamental garantir a qualidade da entrega no dia a dia e monitorar de perto o relacionamento de longo prazo com os clientes”, diz Antonio Nascimento, diretor de securities services no Brasil.
Ele explica que em cinco anos o crescimento foi de 200% no total de ativos sob custódia, saindo de R$ 30 bilhões em 2015 para os quase R$ 90 bilhões de 2022. O total sob administração também cresceu nesse período, saltando de R$ 32 bilhões para R$ 125 bilhões. “No ano passado tivemos mandatos novos em custódia e clearing, mas a maior preocupação é com a seletividade porque queremos os clientes estratégicos, em que possamos agregar valor”, afirma.
A área de custódia do banco no País começou em 2010, com a incorporação de serviço de administração fiduciária em 2015 e o de clearing a partir de 2018. Nascimento explica que desde então tem aumentado a receita da área, que hoje representa entre 15% e 20% do banco no Brasil, enquanto em outros países esse percentual é de 5% a 10%.
A lucratividade média dessa área no mundo fica em média em 20% mas no Brasil essa margem sobe acima de 30%. “Isso ocorre porque há maior eficiência graças a um controle de custos muito forte, até porque essa é uma plataforma global e não precisamos fazer novos investimentos em tecnologia”, afirma. Os clientes institucionais – gestores, seguradoras e outros custodiantes internacionais, entre outros, representam a maior parte do volume, com o segmento corporate em segundo lugar. O banco não atende as pessoas físicas.
A ferramenta global, aproveitada para uso local, é um dos diferenciais, assim como a customização dos relatórios. A plataforma é 100% Swift, com pouquíssima intervenção manual, o que é bom para o fluxo. “Além disso, o sistema é maleável e permite estabelecer parâmetros e rotinas porque o próprio usuário pode definir seus padrões e isso cria uma parceria com os clientes. Gostamos muito de receber as sugestões deles porque a partir daí elaboramos novas soluções, Então, é um ganha-ganha”, diz Marcos Figueiredo, head de produtos e projetos da área. Com 60% de market share em ETFs (fundos de índices), a casa também explora o know-how com esses produtos em sua oferta de securities services.
Os ETFs, em sua maioria de renda variável, sofreram mais com a volatilidade mas a aposta na classe é forte, explica Fabio Arnoni, responsável pela área de fundos e ETFs. “Em 2022, foram lançados 36 novos fundos ETFs no Brasil, sendo que o BNP Paribas foi responsável por 12 deles e vemos um crescente interesse pelo segmento de renda fixa”, diz. A partir de outubro, o novo marco regulatório dos fundos deixará o mercado brasileiro mais parecido com o que existe hoje em Luxemburgo, explica Arnoni. “Para o investidor estrangeiro isso é muito importante, ele ganha segurança ao saber que a estrutura aqui é mais parecida com a do exterior, então à medida que fica mais transparente, a tendência é atrair mais investimentos”, acredita.
Embora os não-residentes continuem a ser o core-business, o banco começa a discutir também o relacionamento com novos clientes domésticos, mas a implementação ficará apenas para 2024, diz Nascimento. “O mercado doméstico é interessante porque já há muitos gestores globais aqui, queremos continuar a desenvolver o trabalho para novos nomes mas somos muito seletivos também para os fundos locais”, assegura.

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