Fundações adiam contratação | Mesmo os grandes fundos de pensão e...

Edição 106

Os custos altos da contratação da custódia centralizada estão fazendo com que os fundos de pensão protelem ao máximo o fechamento do contrato e algumas fundações ainda torcem por um novo adiamento, em particular as de menor porte, com patrimônio inferior a R$ 100 milhões.
Apesar do prazo cada vez mais apertado e embora estejam com o processo praticamente fechado e a instituição escolhida, grandes fundações como Previ, Valia, Fapes, Aerus e Centrus ainda não assinaram seus contratos.
A estratégia de adiar a oficialização dos contratos tem o objetivo de transferir para o ano que vem os gastos com a contratação dos serviços. “Os custos são bastante altos e o adiamento representa uma economia significativa”, afirma Alberto Brandão, diretor financeiro da Fundação Souza Cruz (Fasc).
Pelos seus cálculos, uma fundação com volume a ser custodiado de cerca de R$ 200 milhões tem gastos anuais de aproximadamente R$ 40 mil por ano com a contratação da custódia centralizada. A Fasc fechou o contrato com o Banco Itaú.
Embora as fundações que ainda não fecharam seus contratos ainda torçam pelo adiamento, o fato é que a maioria das instituições financeiras não apostam que a Secretaria de Previdência Complementar (SPC) adie, mais uma vez, a contratação dos serviços. “Dificilmente haverá novo adiamento”, diz Pedro Guerra, diretor de custódia do Citibank.
O diretor de custódia do ABN AMRO, Hamilton Souza Andrade, também não aposta em novo adiamento dos prazos. “A partir do início de janeiro do ano que vem, os fundos de pensão devem entregar o seu primeiro DAIEA (Demonstrativo Analítico de Investimento e Enquadramento das Aplicações) já sob as novas regras da Resolução 2829, que exige a centralização da custódia e a nova política de investimentos”, diz.
Os bancos entendem, entretanto, que a situação dos fundos de pensão de menor porte, com patrimônio inferior a R$ 50 milhões é bastante complicada. Segundo o diretor do Citibank, Pedro Guerra, o mercado estuda encontrar uma saída para essas fundações.
Uma delas seria adiar o prazo para quem optasse pela migração para um fundo multipatrocinado. Luiz Navarro, diretor de custódia do Unibanco, que vem concentrando seus esforços para a contratação de grandes fundos de pensão, também aposta na migração das fundações menores para os fundos multipatrocinados ou ainda para os PGBL.
Segundo estimativas do mercado, cerca de 40% das fundações tem patrimônio inferior a R$ 50 milhões.

Demanda para o risco – Adiada ou não, a contratação dos serviços de custódia está impulsionando a procura pelos serviços das consultorias de risco. Os bancos também estão aprimorando seus serviços de risco internos, criando áreas específicas ou contratando as consultorias externas para atender a essas novas demandas (ver box).
Na hora da contratação dos serviços da custódia, as instituições oferecem à fundação a opção de escolher a consultoria com a qual querem fazer a gestão do risco dos seus recursos. Segundo o gerente financeiro do Prebeg, fundo de pensão do Banco Estadual de Goiás, Marcos Antonio Urcino, o ABN AMRO ofereceu aos seus clientes os serviços das consultorias de risco Barra, da Risk Office e da RiskControl.
Sérgio Malacrida, consultor senior da Rabbat, Prandini & Associados (RPA), recomenda que os fundos avaliem bem os custos antes de contratar os serviços dos bancos. “Em alguns casos pode ficar mais barato contratar uma consultoria externa”, analisa.
De acordo com ele, ao contratar uma consultoria externa o cálculo do Value at Risk (VaR) é feito diariamente, enquanto que num banco o cálculo do VaR normalmente é feito apenas uma vez por mês.
A diretora do RiskControl, Eduarda de La Rocque, entende que os serviços de risco fornecidos pelos bancos “são uma solução interessante, porém arriscada”, já que estão atuando fora do seu core business.
“Além disso, os bancos podem não estar preparados para entregar os serviços com qualidade e nos prazos requeridos”. Segundo ela, as recentes trocas de custodiantes e o cancelamento de contratos pelas fundações demonstram isso.

Sul América cria alternativa
O Sul América Investimentos optou por criar internamente a sua área de consultoria de gestão e risco para fundos de pensão, onde oferece desde a elaboração da política de investimentos, acompanhamento do risco da carteira e os seus limites de enquadramento até a análise de gestores e da indústria de fundos de investimentos.
A nova área faz ainda avaliação de cenários e sugestão de macroalocação dos ativos, auxilia na gestão dos recursos visando o passivo atuarial do fundo de pensão, e oferece análise da relação risco/retorno de fundos abertos.
Segundo o consultor de risco da nova área, Ronaldo Caselli, o banco cobra taxas diferenciadas de acordo com o serviço contratado. A fundação pode contratar apenas um dos ítens ou um pacote com diversos serviços.
Em meados do ano passado, o banco oferecia apenas o serviço de controle do risco.
Com uma equipe enxuta – três pessoas – a nova área atende 12 clientes, entre empresas e fundos de pensão, como o fundo de pensão dos funcionários da Açominas (Aços); a Fundação Faelce, da Companhia de Eletricidade do Ceará (Coelce); a Bases, dos funcionários do Banco do Estado da Bahia (Baneb), e o Prebeg, fundo de pensão dos funcionários do Banco do Estado de Goiás (BEG).

• Fundação Cesp
A carteira de ações da Fundação Cesp está custodiada no Banco Itaú. O serviço foi implantado em junho deste ano e o montante global da carteira de renda variável é de cerca de R$ 1 bilhão. Os recursos de renda fixa, que totalizam cerca de R$ 3,2 bilhões e são totalmente terceirizados, são custodiados pelos próprios gestores da carteira. Já a consolidação dos investimentos é feita internamente.
Até o final de novembro a Fundação Cesp pretende efetivar a contratação do auditor independente de gestão, antes mesmo do prazo dado pela SPC, que vai até o final de dezembro.
Segundo o responsável pela área de processamentos e controle de investimentos da fundação, Temóteo Roberto Brito de Miranda, a política de investimentos, em elaboração, será encaminhada à SPC e divulgada aos participantes nos prazos estabelecidos pela Resolução 2829.

• Previnor
O fundo de pensão dos funcionários das empresas do Pólo de Camaçari (BA), o Previnor, mantém desde o final de 1999 a custódia dos seus ativos centralizada no Itaú. O diretor financeiro, Moacir Henrique Martins Vaz, explica que, para simplificar a gestão, a fundação já vinha adotando a política de manter os seus recursos apenas em fundos exclusivos, e centralizar os ativos num único custodiante.
Atualmente, a fundação mantém apenas oito fundos exclusivos, mas pretende reduzir ainda mais esse número. A meta é operar com no máximo seis. O total custodiado é de R$ 200 milhões. Em junho deste ano, a fundação resolveu entregar a análise do risco dos seus ativos também ao Itaú.
Em novembro, a Previnor pretende submeter ao Conselho de Administração a nova Política de Investimentos, já sob as atuais exigências da SPC.

• Eletra fica com ABN AMRO
O fundo de pensão Eletra, dos funcionários da Celg (Companhia de Eletricidade de Goiás), também participou do processo de seleção feito em conjunto entre Prebeg e Previsan, mas esperou mais um pouco para decidir-se e acabou escolhendo individualmente o seu custodiante central.
Segundo o diretor financeiro da fundação, Amadeu Gustavo de Faria, depois de ficar entre dois bancos (ABN AMRO e HSBC) na fase final, a Eletra bateu o martelo, no dia 9 de outubro, também com o ABN. “O banco ofereceu o pacote com o maior número de serviços e o menor preço”, disse. O total custodiado foi de R$ 60 milhões e a taxa foi equiparada à das fundações Prebeg e Prevsan: 0,017% ao ano.

• Prebeg e Prevsan escolhem ABN AMRO
Após quase cinco meses da abertura da licitação para a escolha de seus custodiantes, os fundos de pensão dos funcionários do Banco do Estado de Goiás (Prebeg) e da Companhia de Saneamento de Goiás (Prevsan) escolheram, no final de setembro, o ABN AMRO para custodiar seus ativos.
As duas fundações se uniram para agilizar o processo de seleção do custodiante central e, principalmente, reduzir custos. Segundo o gerente financeiro da Prebeg, Marcos Antônio Urcino, a taxa para contratação dos serviços de custódia, controladoria e análise do risco caiu significativamente. “De 0,020% ao ano sobre o patrimônio reduzimos para 0,017% ao ano.
Com isso, em vez de pagar R$ 64 mil ao ano pelos serviços, a Prebeg vai pagar R$ 54,4 mil anuais. “É uma economia significativa, especialmente para a Prevsan, que tem o patrimônio menor”, diz o analista da Prebeg.
O total de ativos custodiados da Prebeg é de
R$ 320 milhões e o da Prevsan, de R$ 80 milhões, o que vai representar um custo anual de R$ 13,6 mil, contra R$ 16 mil ao ano caso a taxa ficasse
em 0,020%.

• Faelce
A Faelce, fundo de pensão dos funcionários da Companhia de Eletricidade do Ceará (Coelce), fechou o contrato de custódia com o Itaú, um volume de aproximadamente R$ 200 milhões. Também foram contratados os serviços de controladoria, que incluem cálculo de cotas, elaboração de relatórios diários e consolidação dos ativos. Em junho, a fundação contratou os serviços da Sul América Investimentos para análise de risco e elaboração da Política de Investimentos da área de gestão e risco.

• Celpos
O Celpos, fundo de pensão dos funcionários da Companhia de Eletricidade de Pernambuco (Celpe), contratou, em meados de setembro, os serviços de custódia do Banco Santander. A fundação Celpos é o 88º colocado no ranking Top Atuarial, com ativos totais de R$ 208 milhões.

• Infraprev
O fundo de pensão dos funcionários da Infraero, o Infraprev, fechou o contrato de custódia com o ABN AMRO. O banco vai prestar também os serviços de análise de risco e de controladoria para a fundação. O volume custodiado é de R$ 305 milhões.