Custódia em nova fase | Depois do boom do ano passado, quando se ...

Edicão 122

Passada a fase mais aguerrida da disputa pelos recursos dos fundos de pensão, encerrada em 31 de dezembro do ano passado quando expirou o prazo dado pela Secretaria de Previdência Complementar (SPC) para que as fundações definissem o nome de seus custodiantes, a movimentação no setor continua grande. A liderança continua com o Itaú, com 27,26% do mercado, mas a adesão da Previ à custódia do Banco do Brasil colocou o banco estatal na segunda colocação, com 16,46% do mercado. Em terceiro lugar fica o Bradesco, com uma participação de 11,67% do mercado (ver quadro).
Para tentar ganhar novas fatias do mercado, os participantes têm investido altas somas em tecnologia e serviços. O líder, Itaú, investe algo entre R$ 15 milhões e R$ 20 milhões por ano na atualização de sistemas. O HSBC, embora prefira não citar números, também está investindo em atualização de sistemas, tendo contratado a YMF para adequar os seus serviços aos padrões internacionais da custódia do banco. “A atualização da área vai significar investimentos pesados em tecnologia e treinamento de pessoal”, diz o diretor de investidores institucionais do HSBC Brain, José Luiz Fagundes.
Também sem declinar os valores investidos, o diretor de custódia do BankBoston, Fernando Cesar Brasileiro, conta que foi instalada toda uma nova área de controladoria para a custódia do banco, com o objetivo de melhor atender os clientes domésticos. Brasileiro, assim como o diretor comercial da custódia do Santander, Láercio Ramos Júnior, acredita que o maior desafio dos custodiantes brasileiros é a busca da qualidade. “Os valores custodiados cresceram muito rápido e não houve tempo para o aperfeiçoamento dos sistemas e serviços”, diz Ramos Júnior.
Mas, apesar da alegada falta de tempo, as mudanças estão chegando para valer. É o caso do código ISIN, recentemente emitido pela Companhia Brasileira de Liquidação e Custódia (CBLC) para papéis custodiados, e que já funciona como um “CPF” do título custodiado. “O processo de padronização ainda vai levar uns dois anos”, afirma o diretor de custódia do Citibank, Pedro Guerra.
Na busca por tornar mais eficientes os seus serviços, o Santander dividiu a custódia em dois segmentos: um operacional, comandado por Oronzo Chiarella (que veio do HSBC), e outro de produtos, sob responsabilidade de Ramos. No Itaú foram contratados dois gerentes para reforçar o time de tira-dúvidas sobre a legislação e sobre o DAIEA, como forma de melhorar a performance junto aos clientes institucionais.
A busca de eficiência é fundamental, nesse segmento onde só se ganha dinheiro com altos volumes. O Itaú, apesar de ostentar 27,26% do mercado, ainda perde dinheiro. “Ainda temos um prejuízo mensal entre R$ 200 mil e R$ 500 mil, mas falta pouco para chegar a um ponto de equilíbrio”, afirma o diretor de custódia do banco, Luiz Eduardo Zago.

Nichos – O novato BBV Banco entrou no mercado de custódia no início deste ano, mas o negócio só tomou fôlego em meados deste ano, quando herdou 40% dos investimentos de assets custodiados pelo Santander, que decidiu abandonar esse tipo de cliente para se dedicar a fundos de pensão, clientes internacionais e corporate. Além do BBV, também abocanharam fatias do R$ 1,5 bilhão das assets liberadas pelo Santander o Citibank, o Itaú e o Bradesco.
Com os novos clientes, o total custodiado pelo BBV saltou de R$ 2,9 bilhões em junho para R$ 4 bilhões em agosto, segundo o gerente de liquidação e custódia do banco, João Batista de Souza. “Em conseqüência desse crescimento, no mês passado tivemos que contratar seis novos funcionários”, afirma ele.

Aquisições – Os custodiantes acreditam que, além dessa busca da qualidade, pode ocorrer um processo de renegociação de preços de taxas com os clientes, ou até de vendas de carteiras de custódia para a concorrência. “Alguns bancos firmaram acordos de custódia, no ano passado, antes de terem acesso ao detalhamento técnico das exigências de cada fundação e agora podem estar tendo prejuízo porque foi necessário um investimento em tecnologia e pessoal acima do esperado”, afirma Brasileiro.
O diretor do Itaú, Luiz Zago, explica que quanto maior o volume maior também é a necessidade de se investir em processos de controle. “Mas, como a busca de volume leva a uma guerra de preços, fica difícil conciliar o aperfeiçoamento do serviço prestado e a lucratividade”, afirma.
Segundo ele, as fundações já estão forçando para uma redução das taxas de remuneração de custódia. “Na semana passada tivemos dois fundos de pensão que nos procuraram para tentar baixar a taxa, mas mostramos a eles que isso seria uma temeridade”, afirma. “Ficaria abaixo do preço de custo”.
Para ele, a compra de carteiras de custódia de outros bancos, preconizada por alguns como forma de elevar rapidamente os volumes e conseguir ganhar dinheiro na área, pode ser uma via bastante complicada. “O Itaú sempre analisa boas oportunidades, mas é complicada essa compra porque, diferentemente das assets managements – que têm clientes pulverizados – em custódia há poucos clientes e altos volume. Com isso, o risco fica mais concentrado”, diz.