Carona na bolsa americana | Regimes próprios entram em fundos com...

Edição 267

 

Mesmo impossibilitados de investir em fundos com ativos no exterior, ou em produtos com BDRs (Brazilian Depositary Receipts) conforme esclarecimento do Ministério da Previdência Social (MPS) através da nota técnica (07/2014), os regimes próprios encontraram uma opção para aproveitar as boas perspectivas da bolsa americana (ver pág. anterior). RPPS como o de Vitória (ES) e Rio das Ostras (RJ), entre outros, entraram recentemente em fundos que têm o objetivo de seguir o índice S&P 500, o principal da bolsa americana, mas que não investem em ativos estrangeiros e nem possuem risco cambial. Fundos de gestores como BTG Pactual e Banestes DTVM, entre outros, procuram replicar o S&P 500 apenas com operações de títulos públicos e contratos futuros.
Bem que os gestores tentaram captar recursos dos RPPS para fundos de BDRs. Porém, o MPS acabou publicando uma nota técnica esclarecendo que os institutos não podem aplicar em tais fundos (ver matéria na página anterior). Percebendo a demanda por ativos no exterior, alguns gestores passaram a oferecer fundos que conseguem captar a rentabilidade da bolsa americana, porém, sem investir diretamente em ativos internacionais nem em BDRs.
O Instituto de Previdência de Vitória (Ipamv) foi um desses investidores que entraram em fundos desse tipo. O regime próprio, que tem patrimônio de R$ 295 milhões, investiu R$ 2 milhões no fundo capital protegido II da Banestes DTVM em dezembro passado. Com pouco apetite para renda variável, o instituto tem preferido a alocação em fundos de capital protegido.
O Ipamv já tinha alocado recursos em um fundo de capital protegido da Banestes DTVM, lançado em parceria com a XP Investimentos no final do primeiro semestre de 2014. Com o objetivo de seguir a rentabilidade de ações de empresas de tecnologia como Google, Facebook e Apple, o fundo teve rentabilidade de 14% entre maio e dezembro do ano passado. “A vantagem é que o fundo tem capital protegido e ainda tem condições de aproveitar o bom momento de crescimento da economia americana”, diz Herickson Rangel, diretor administrativo e financeiro do Ipamv.
No final do ano, a Banestes DTVM lançou um segundo fundo de capital protegido, desta vez, sem nenhuma parceria. O novo fundo tem o objetivo de replicar a rentabilidade do S&P 500. Apesar de seguir um dos principais índices da bolsa americana, o fundo não realiza operações com ações. O produto está estruturado com títulos públicos e opções do índice negociados na BM&FBovespa. “Lançamos o fundo porque percebemos a oportunidade de captar o crescimento da economia americana, ao mesmo tempo que sentimos a demanda dos investidores no primeiro fundo”, diz Vítor Lopes Duarte, diretor presidente da Banestes DTVM.
O executivo conta ainda que a asset fez uma consulta ao Ministério da Previdência Social para esclarecer se os regimes próprios poderiam investir neste fundo. A dúvida existia porque o fundo está atrelado a um índice de ações do exterior. “Consultamos o ministério e nos deram sinal verde para captar com os institutos”, comenta Duarte.
O fundo fechou o período de captação ainda em dezembro, com R$ 35 milhões. Deste montante, R$ 10 milhões são provenientes de seis regimes próprios do estado do Espírito Santo, e o restante de clientes pessoa física. “Tivemos forte demanda pelo fundo, pois o S&P 500 é um índice amplamente conhecido e que tem condições de captar o bom crescimento do setor privado da economia americana”, diz o diretor da Banestes DTVM.

BTG Pactual – Outro gestor que está oferecendo um produto indexado ao S&P 500 voltado para regimes próprios é o BTG Pactual. A asset lançou no final de janeiro, o fundo Index Bolsa EUA Institucional que segue a variação diária ao CDI mais S&P 500, sem exposição ao câmbio. O gestor já tinha um fundo semelhante que era oferecido para pessoas física e que rendeu 29,79% em 2014. Agora lançou o novo fundo adaptado à resolução 3922 dos RPPS. Para os fundos de pensão, o fundo entra no segmento estruturado. “É um fundo que busca aproveitar o bom momento da economia americana. Com os juros baixos nos países desenvolvidos, está ocorrendo forte migração de recursos para as bolsas dos EUA, gerando boa performance do índice S&P 500”, diz Bernardo Guimarães, gestor do BTG Pactual responsável pelo fundo.
Ele explica que o fundo é a única alternativa da casa voltado para os RPPS que pretendem aproveitar o movimento dos mercados internacionais sem investir diretamente no exterior. Para tirar qualquer dúvida, o gestor consultou o ministério, que deu permissão para captação de recursos junto aos RPPS. Para as entidades fechadas, o diferencial do fundo é que não apresenta exposição ao câmbio. O fundo já possuía quatro institucionais como investidores, entre RPPS e fundos de pensão, com compromisso de aplicação.
Um desses investidores é o regime próprio Ostrasprev (Rio das Ostras-RJ), que aplicou R$ 4 milhões no fundo. “É um fundo que aposta na recuperação da economia americana e ao mesmo tempo, está enquadrado à resolução 3922, pois não entra como investimento no exterior”, explica Leonardo Rosa, diretor financeiro do Ostrasprev.

Vitória procura Fidcs abertos e outras opções para diversificar carteira

Além dos fundos de capital protegido, o regime próprio de Vitória (Ipamv) está procurando FIDCs (Fundos de Investimentos em Direitos Creditórios) para alocar mais 4% de seu patrimônio em 2015. Atualmente, o instituto conta com 6% do patrimônio aplicado em FIDCs e pretende elevar essa carteira para 10% durante o ano. “Estamos buscando FIDCs com rating duplo A para cima, mas o mercado tem oferecido poucas opções nos últimos meses”, diz Herickson Rangel, diretor do Ipamv. A última alocação nesta carteira ocorreu ainda no primeiro semestre do ano passado, quando o regime próprio aplicou R$ 5 milhões no FIDC da Casan, da Caixa Econômica.
Outra opção almejada pelo Ipamv são os fundos imobiliários (FIIs). O RPPS tem atualmente 1,5% do patrimônio alocado em FIIs e pode chegar a até 4% de acordo com política de investimentos para 2015. O último investimento realizado na categoria foi em um fundo do Banco do Brasil com gestão da Rio Bravo. Foram alocados R$ 2 milhões neste fundo que tem a estratégia de adquirir CRIs (Certificados de Recebíveis Imobiliários). “O fundo teve um pequeno problema, é que não conseguiu adquirir CRIs nos primeiros meses e acabou comprando LCIs, o que prejudicou a rentabilidade no período”, diz o diretor financeiro do Ipamv. Ele acredita que o problema será corrigido em breve para que o fundo possa alcançar melhor rendimento.
O regime próprio de Vitória está finalizando um estudo de ALM (Asset Liability Management) de seu fundo previdenciário, que tem cerca de R$ 260 milhões. Com o término do estudo, que é realizado pela consultoria Risk Office, o fundo pretende rever sua política de investimentos. O mesmo estudo já foi realizado para o fundo financeiro, que tem R$ 35 milhões. O diretor do Ipamv lamenta que a legislação dos RPPS não contempla a possibilidade de investir no exterior.
“É um contrasenso em relação às últimas tendências das regras de investimentos”, diz Herickson Rangel, que também é diretor da Aneprem – Associação Nacional das Entidades de Previdência Estaduais e Municipais. O dirigente revela que através da associação pretende elaborar propostas para enviar ao ministério para reformular a resolução 3922. “Vamos defender que os regimes próprios maiores e com bom nível de governança tenham maior flexibilidade para diversificar suas carteiras, inclusive com opções no exterior”, diz Rangel.