Edição 241
Sabe quanto tempo leva para ir de Fortaleza a Porto Velho? São seis horas no mínimo, pergunta e responde Ricardo Junqueira, sócio-fundador da Ático Investimentos. O executivo conta que o trajeto foi realizado em uma de suas 75 viagens realizadas nos últimos 12 meses, a maioria fora do eixo Rio-São Paulo. A afirmação ilustra o esforço realizado pelos executivos da asset em busca da captação de recursos dos regimes próprios (RPPS) para os fundos de investimentos.
O esforço trouxe resultados. A asset alcançou R$ 236 milhões de recursos de RPPS até final de junho de 2012, o que representou um crescimento de 201% no volume de recursos em apenas um semestre. Outros R$ 140 milhões correspondem aos clientes fundos de pensão – crescimento de 41% em 12 meses. Somados os recursos dos regimes próprios com fundos de pensão, representam 72% do total de recursos sob gestão da asset – total de R$ 536 milhões, segundo dados do Top Asset referentes a junho de 2012.
Mas nem sempre foi assim. Até 2008, os investidores estrangeiros representavam 30% da origem da carteira da Ático. Outros 70% eram provenientes de investidores domésticos, a maioria era pessoas físicas ou empresas. Praticamente não havia institucionais na carteira da asset, que tem como carro-chefe os FIPs (fundos de participações) de energia e reflorestamento, além dos fundos de renda fixa e imobiliário (FII). “Percebemos que os estrangeiros ficaram muito retraídos depois da crise de 2008. Por isso, passamos a focar nos institucionais, principalmente nos institutos de previdência”, revela Junqueira.
Os sócios Junqueira (ex-Brascam) e Gustavo Magalhães (ex-Multiplic) formaram uma equipe comercial e levaram Leonardo Iespa (ex-Citibank e ex-Ágora corretora) para coordenar o trabalho. O executivo tinha atuado como gestor de recursos de sua própria asset, a Globalsight, nos últimos anos. “Precisávamos de um profissional com viés comercial, mas com uma boa capacitação técnica”, comenta Junqueira. Ele explica que na época já tinha colocado no plano de metas da empresa o crescimento com os investidores institucionais.
“Tem semanas que visito de três a cinco cidades diferentes. Virei uma espécie de caixeiro viajante versão atual”, diz o diretor comercial. Apesar de contar com uma equipe de mais três contatos comerciais, Iespa também divide as visitas com os outros dois sócios-fundadores da Ático.
Além da formação de uma equipe comercial, a Ático promoveu um processo de reestruturação para disputar o mercado de institucionais. Criou uma empresa distribuidora em 2011 (DTVM) e estruturou uma área jurídica. Também adaptou os sistemas contábil e de TI (Tecnologia da Informação). Antes disso, Junqueira e Magalhães formaram a empresa de asset em 2008, a partir de uma segregação ocorrida a partir da Ativa Corretora.
Regimes próprios – Atualmente os RPPS representam 46% dos recursos sob gestão da Ático. Com um crescimento mais acentuado no primeiro semestre de 2012, a asset tem aproveitado o espaço de crescimento em um nicho ainda pouco explorado pelos gestores de fundos estruturados. “Até bem pouco tempo atrás, os maiores gestores de fundos de participações ainda não prestavam muita atenção aos RPPS. Nós procuramos nos posicionar um pouco antes deles”, diz Iespa.
Ele conta que o nicho de regimes próprios era dominado ou pelas grandes instituições de controle público, ou contava com a participação de pequenas assets. “Éramos um dos poucos gestores de médio porte que tinha produtos estruturados adaptados aos RPPS”, diz o diretor comercial. Com o ciclo de corte das taxas de juros e a necessidade de novas alternativas de aplicações para os regimes próprios, a asset conseguiu emplacar dois FIPs para este público.
Os dois fundos, o Florestal e o Geração de Energia, contou com a participação majoritária dos institutos de previdência. Dos 20 cotistas do FIP Ático Geração de Energia, 12 são regimes próprios, que concentraram 70% da primeira emissão – R$ 150 milhões. “Um dos diferenciais de nossos fundos é que investimos em ativos já performados. Por isso, o risco é menor que outros produtos estruturados”, explica Ricardo Junqueira. São exemplos de institutos que investiram nos fundos da Ático os RPPS de Blumenau (SC), Joinville (SC), Palmeira (PR) entre outros.
Aproveitando o relacionamento com os regimes próprios, a asset lançou também fundos de renda fixa atrelados ao IMA-B. Os fundos abertos da Ático chegaram a R$ 193 milhões em junho deste ano, com crescimento de 33% em 12 meses. O próximo passo da asset será o lançamento de um fundo de ações na categoria de small caps, também voltado para os regimes próprios de previdência.
Resta saber se o gestor continuará crescendo no mesmo ritmo, agora que o nicho de RPPS está muito mais disputado por gestores de todos os portes. “Hoje em dia você vai nos congressos e eventos de regimes próprios e encontra todos os principais gestores de pequeno, médio e grande porte. A concorrência está mais acirrada, mas acredito que continuaremos crescendo com produtos cada vez mais diferenciados”, prevê Iespa.