Resgate recorde em 2013 | Fundos abertos sofreram com turbulência...

Alfredo Lalia Neto, do HSBCCrescimento da previdência complementarEdição 256

 

O cenário turbulento para os mercados em 2013 não deixou marcas negativas apenas na previdência complementar fechada, com rentabilidades distantes da meta atuarial, e a extensão no prazo para seus equacionamentos devidos. O impacto causado na previdência aberta também não foi pequeno. A maior flexibilidade proporcionada por essa indústria, que tem crescido em um ritmo bastante superior em comparação com a fechada, por vezes leva a movimentos erráticos de seus participantes, seja pela própria maior liberdade que lhe é permitida, ou mesmo por uma eventual falta de educação financeira.

“No ano passado a previdência aberta teve o maior volume de resgate da história”, afirma Alfredo Lalia Neto, CEO da área de Insurance do HSBC. “A incerteza gera aumento nos resgates”, emenda o executivo. De janeiro a novembro do ano passado, a diferença entre as arrecadações e os resgates registraram saldo positivo de R$ 28,508 bilhões, o que representa uma queda de 21,1% frente aos R$ 36,144 bilhões em igual período de 2012, de acordo com os últimos dados divulgados pela Federação Nacional de Previdência Privada e Vida (FenaPrevi). Considerando apenas os resgates do mercado, o crescimento chegou a cerca de de 40%, enquanto as contribuições tiveram avanço ao redor dos 20%, segundo Lalia. “Como o nível de contribuições já era muito mais alto, o ‘net flow’ diminuiu mas ainda teve entrada de recursos”.
Para os próximos meses, a expectativa do CEO de Insurance do HSBC é que o movimento de estreitamento do ‘net flow’ fique estável nos patamares atuais. “Começamos a ver uma normalidade em novembro, dezembro, com os resgates voltando a declinar”. Entre maio e junho de 2013, quando a família IMA-B reportava queda superior aos 7% no acumulado do ano, recorda o especialista, as saídas se tornaram mais intensas. Ao contrário da previdência fechada, em que o controle do desempenho dos investimentos é mensal, na previdência aberta o cliente pode acessar o seu saldo diariamente, o que traz mais segurança e conforto, mas também potencializa uma possível saída antecipada. “Foi o primeiro ano do sistema de previdência em que a renda fixa foi negativa, tanto na aberta quanto na fechada”.
Quando aplicações financeiras das mais tradicionais, como os títulos públicos da renda fixa, passam a apresentar variação negativa como foi em 2013, o investidor de perfil mais comum, conservador, logo prefere correr de volta para a caderneta de poupança, de ganhos mais modestos, mas que nunca vai apresentar rentabilidade abaixo do zero. O Banco Central (BC) informou que a poupança registrou recorde de captação nos 12 meses do ano passado, com uma absorção de R$ 71 bilhões, montante 42,9% superior ao registrado no período anterior. “A poupança sempre foi vista como um porto seguro, não tem nenhum histórico de alguém que tenha perdido um grande volume de dinheiro na poupança”, pondera Lalia, que enxerga na caderneta a maior concorrente da previdência aberta.

Troca de posições – Se a poupança cria dificuldades para um crescimento ainda mais expressivo da previdência aberta, a própria previdência aberta aparentemente veio para brigar por um espaço que nas últimas décadas foi amplamente dominado pela complementar fechada, ao menos em termos de volume de ativos sob gestão. Em dezembro de 2005, a carteira consolidada das fundações que integram a Associação Brasileira das Entidades Fechadas de Previdência Complementar (Abrapp) somava R$ 295,2 bilhões, quantia que, até junho de 2013, havia subido para R$ 629,8 bilhões, incremento de 113,3%. Ainda que não possa ser desprezado, quando olhamos para a previdência aberta, vemos que, em igual base de comparação, o salto alcançou 351,5%, com uma evolução da carteira das entidades abertas de R$ 81,465 bilhões para R$ 367,87 bilhões, de acordo com a FenaPrevi. A Federação trabalha com a projeção de atingir R$ 1 trilhão até 2019.

“Com certeza os volumes da previdência aberta vão passar os da previdência fechada, e faz sentido, pelo potencial número de consumidores na aberta que é muito maior”, afirma o executivo do HSBC. “A fechada pode aumentar um pouco, mas não imagino que grandes empresas já não tenham seus planos, esse mercado está um pouco esgotado por conta disso. É um mercado que não tende a crescer mais em números de planos, mas vai crescer em volume. Com o envelhecimento da população, no entanto, em algum momento tende a inverter, quando a indústria estiver pagando muito mais renda do que gente contribuindo. Não sei se vai ser em 30, 50 ou 100 anos, mas em algum momento vai acontecer”.

Conflitos com Plano CD – Uma das razões para a previdência fechada não gerar o mesmo brilho nos olhos dos empregados como há duas ou três décadas atrás é o fato dos patrocinadores terem optado por transferir o risco, que estava nas mãos deles com os Planos BD, para a dos participantes, ao introduzir os Planos CD. Essa é a avaliação feita por Ermindo Cecchetto Junior, que foi diretor de investimentos da Real Grandeza de 2005 a 2007, e que, antes de ocupar o cargo, trabalhou de 1972 a 2002 dentro da fundação. “Transferiram o risco, que era da coletividade, mas com a ajuda da patrocinadora, para cada um dos participantes”, pontua Cecchetto. “Se o montante a ser pago na hora da aposentadoria não for suficiente para atingir o objetivo inicialmente construido, o problema é seu. Isso deveria desestimular o participante a se filiar a um plano fechado”.

Criado como uma ferramenta de RH para reter mão de obra especializada, quando as entidades passaram a adotar o Plano CD em detrimento ao BD, o valor inicial do negócio ficou perdido no meio do caminho. “A empresa havia feito o plano para o colaborador não se preocupar com o futuro, mas agora ela tem todo o trabalho de administrar o plano, e não consegue acabar com a preocupação do trabalhador. O instrumento de previdência foi transformado em um instrumento de investimento”. O ex-diretor da Real Grandeza, que é membro do Conselho Deliberativo da associação dos aposentados da fundação, levanta ainda outra questão decorrente dessa mudança de rota nos planos das entidades fechadas, que é um empregado com todas as vantagens de um Plano BD, sentado lado a lado com outro que usufrui de um CD. “Imagina o problema que é para a empresa, deve gerar uma série de conflitos”.
Um erro detectado por Cecchetto ao longo de sua carreira dentro da indústria é o formato que se desenhou para os Planos BD, muito atrelados à previdência social, nos quais o fundo de pensão se comprometia a pagar a diferença entre o salário no momento da aposentadoria menos o valor pago pelo governo. “Na medida em que a previdência social achatou seus beneficios, os pagos pelas fechadas foram subindo. Os BD foram mal desenhados, deu o problema dos déficits que apavorou os empresários, que partiram para a solução mais fácil, porém não a mais correta. Houveram momentos bem dramáticos na Real Grandeza, tivemos de majorar as contribuições para cobrir buracos, mas como era a coletividade, todo mundo contribuiu mais um pouco, a empresa também, e sanamos o problema. Se fosse um plano individual, CD, a empresa não ia se mexer, e cada um se quisesse que tirasse do bolso para cobrir o próprio buraco”.