Edição 289
Tabela 1 – Parcerias Seguradoras e Assets (em pdf)
Tabela 2 – Portabilidades (em pdf)
De olho no forte crescimento do mercado de previdência aberta, as principais assets independentes do mercado brasileiro estão firmando parcerias com seguradoras e entidades abertas ligadas aos bancos para captar recursos no segmento. Canvas, Adam, Verde, Capitânia, Athena, JGP, entre outros são alguns nomes conhecidos entre os gestores independentes que abriram fundos do tipo PGBL e VGBL. Outras assets de peso como Vinci, Brasil Plural, Ibiúna, Leblon, Arx já vinham rodando planos de previdência aberta que se beneficiaram da forte captação do ano passado.
Do lado das seguradoras, o destaque fica com a Icatu Seguros, que tem ativos próximos a R$ 12 bilhões (R$ 11,6 bilhões em novembro de 2016) e parcerias com 45 assets. A Icatu é a pioneira no desenvolvimento de fundos em parceria com gestores independentes, tendo iniciado esse trabalho há cerca de cinco anos. Mas os concorrentes, ainda que com menor número de parcerias, estão se movimentando. Uma delas é a Sulamérica, que divulgou recentemente uma parceria com a asset JGP. A tendência é verificada até em grandes instituições, como por exemplo, o Itaú, que abriu uma parceria com a Verde Asset (ver matéria na pág. 39).
“As assets não querem ficar de fora de um mercado que apresenta um fenômeno impressionante de crescimento. Enquanto o PIB caiu mais de 3% no ano passado, a previdência aberta cresceu mais de 20%”, diz Felipe Bottino, responsável pela área de previdência aberta da Icatu Seguros. O mercado ultrapassou a marca de R$ 600 bilhões em estoque (mais precisamente R$ 632 bilhões em outubro de 2016).
“É um mercado ainda muito concentrado em cinco grandes instituições, mas a tendência é que ocorra uma migração cada vez mais forte para as seguradoras independentes”, prevê Bottino. A migração será incentivada pela procura de fundos PGBL e VGBL com perfis e gestão diferenciados. Cerca de 93% dos recursos de planos previdenciários estão alocados em renda fixa, a maior parte em perfil mais conservador. Prevendo a pulverização do mercado e o aumento da procura dos clientes para diversificar suas carteiras de previdência, a Icatu apostou na multiplicação das parcerias com as assets independentes nos últimos anos.
“Hoje estamos com nossa grade de produtos praticamente completa. Procuramos firmar parcerias com os melhores gestores do mercado em cada estratégia”, diz o executivo da Icatu Seguros. A vitrine de parcerias e fundos atrai a procura de número maior de gestores que batem na porta da seguradora. “Antes tínhamos que ir atrás das assets e convencê-las da viabilidade do produto. Hoje são as assets que nos procuram”, comenta Bottino.
As mais recentes parcerias da Icatu incluem nomes de peso como Adam Capital, do gestor Márcio Appel (ex-Safra), Verde Asset, de Luís Stuhlberger, Canvas e Capitânia, algumas delas com fundos que estão no forno, prestes a ser abertos para captação. “A previdência aberta é um mercado em crescimento acelerado, mas com forte concentração em poucas instituições. Acreditamos que as plataformas devem se abrir cada vez mais de agora em diante”, diz Felipe Niemeyer, da Canvas Capital.
A asset prepara o lançamento de um fundo PGBL/VGBL em parceria com a Icatu para o primeiro trimestre de 2017. É um fundo multimercado com gestão bastante ativa, que procura replicar a gestão do fundo mais conhecido da casa, o Canvas Enduro. A estratégia tem cerca de 10 anos de existência e transita pelos mercados de renda fixa, variável, moedas, exterior e crédito privado de grandes bancos.
“Temos uma estratégia vencedora com longo track record e uma equipe sênior. É uma opção para o cliente que pretende alocar uma parte de sua carteira em uma estratégia mais arriscada”, diz Niemeyer. Acostumados a trabalhar com family offices, private banking, distribuidores e institucionais, o novo fundo da Canvas com a Icatu deve atrair também o investidor pessoa física.
Tempero apimentado – Opções de fundos com gestão da Canvas, Adam e Verde são sugeridas para clientes que procuram um ganho adicional nas carteiras de previdência, segundo Felipe Bottino, do Icatu. “São fundos que podem dar um tempero mais apimentado para o investidor que pretende diversificar seu portfólio”, diz o executivo. Ele projeta que a procura por produtos com gestão mais ativa ou diferenciada deve aumentar à medida que o corte dos juros se consolide na economia.
“Acredito que é bem factível que do total de recursos da previdência aberta, cerca de 10% seja administrada pelas seguradoras e assets independentes”, prevê Bottino. Isso significaria aos valores de hoje, mais de R$ 60 bilhões de ativos sob gestão. Porém, as projeções já dão conta que o patrimônio da previdência aberta pode ultrapassar em 2018 a marca de R$ 1 trilhão, ficando maior inclusive que a previdência fechada.
As seguradoras e assets apostam não apenas na entrada de novos recursos, mas principalmente na migração de parte do estoque que se encontra hoje alocado em produtos conservadores dos grandes bancos. “Acredito que 10% do estoque é um valor bem possível para a migração para fundos com gestão mais especializada. Estamos falando de uma cifra de mais de R$ 50 bilhões que podem entrar na captação de assets independentes”, projeta Arturo Profili, sócio-gestor da Capitânia.
A asset está lançando neste mês de fevereiro o fundo Capitânia Previdence em parceria com a Icatu. A distribuição será realizada pela plataforma da XP. É um fundo que segue a principal estratégia dos fundos da Capitânia – alocações em crédito privado, FIDCs e CRIs.
Ao que parece, os planos de previdência aberta têm a capacidade de atrair o investidor pessoa física para mais perto das assets independentes. Os tíquetes mínimos podem até surpreender os investidores com capitais menores. O fundo da Icatu com a Adam, por exemplo, aceita captações a partir de R$ 100 por mês. O valor mínimo baixo surpreende também porque os fundos da Adam (ver pág. 40) estão em processo de fechamento devido à forte captação nos últimos meses.
Em pouco mais de dois meses, o fundo de previdência da Adam tem patrimônio de R$ 70 milhões. O potencial de captação, porém, ainda é grande. Para se ter uma ideia, o fundo da Verde em parceria com a Icatu, lançando em dezembro de 2015, tem patrimônio de cerca de R$ 677 milhões. Mas não são apenas as assets mais festejadas do mercado que têm espaço com a Icatu. Exemplos como Kadima, especializada em fundos quantitativos, e a Athena, estratégia de renda variável de valor, também figuram na grade de fundos de previdência da seguradora. “A Kadima é uma asset com estratégia raríssima no mercado que decidimos selecionar como nosso parceiro”, diz Bottino. Já a Athena é uma asset do Rio de Janeiro, pouco conhecida do público em geral, mas que segue uma estratégia de valor em bolsa diferenciada das demais assets.
Sulamérica – A área de previdência da Sulamérica fechou parceria com a asset JGP no segundo plano de previdência lançado neste modelo. A empresa já tinha lançado um outro plano em parceria com a Brasil Plural e agora aposta em uma segunda opção. “A JGP é uma casa reconhecida, com 19 anos de mercado e uma equipe de primeira linha”, diz Marcelo Mello, vice-presidente da Sulamérica, responsável pela asset, vida e previdência. A empresa tem atualmente R$ 5,5 bilhões em recursos de planos abertos.
O executivo explica que a nova parceria tem o objetivo de diversificar a grade de produtos de previdência. “O objetivo é complementar nosso portfólio de previdência privada via modelo de arquitetura aberta. A ideia é oferecer uma estratégia na qual não atuamos enquanto asset”, explica Mello. Como a Sulamérica possui uma asset própria, o executivo explica que as parcerias buscam estratégias em mercados e estilos não operados pela empresa.
Por enquanto, a Sulamérica não tem outras parcerias no radar, mas não descarta o acordo com outras assets no futuro. “Podemos nos abrir um pouco mais no futuro, desde que não haja canibalização de estratégias. Podemos buscar parcerias, por exemplo, na renda variável, com maior espaço para a alocação internacional”, revela Mello.
Nova Resolução de Investimentos – Do lado da JGP, a entrada no mercado de previdência aberta foi uma oportunidade que surgiu a partir da mudança nas regras dos investimentos do setor. “Sempre achamos que nosso estilo de gestão, conservador, consistente e com foco em preservação de capital, se encaixaria bem com fundos previdenciários, mas a legislação muito pouco flexível sempre acabava por postergar nosso ingresso neste segmento. A entrada em vigor da nova legislação, aumentando o escopo de classes de ativos investíveis, muito embora distante do ideal, adicionou um pouco mais de flexibilidade à gestão e tornou nossa entrada factível”, diz Arlindo Vergaças Jr., sócio-gestor da JGP. Ele se refere à Resolução 4444 do Conselho Monetário Nacional, que entrou em vigor em meados do ano passado.
O fundo é da modalidade multimercado com risco moderado, com objetivo de alcançar cerca de 120% do CDI, através de uma gestão bastante diversificada. “Vamos investir em renda fixa, título público federal e título privado, renda variável, um pouco de dólar e ações no exterior”, comenta Vergaças.
Além da mudança na legislação, o forte crescimento da previdência aberta também atraiu a asset. “Naturalmente, o tamanho do segmento previdenciário e suas altas taxas de crescimento dos últimos anos foi outro aspecto que levamos em consideração”, diz o sócio da JGP. Ele explica que o investidor começa a ter uma percepção mais clara de que não é mais possível contar apenas com os benefícios do INSS para sua aposentadoria. “Movimento semelhante aconteceu em países mais avançados nesta questão, como o Chile e o México. Acreditamos que fundos previdenciários continuarão sendo uns dos produtos mais dinâmicos em termos de crescimento nos próximos anos”, diz Vergaças.
Como um fundo de pensão – A Vinci Partners é outra asset independente que mantém um plano de previdência em parceria com uma seguradora. Neste caso, a parceria é com a Icatu. O diferencial do fundo da Vinci é a estratégia que tem o objetivo de replicar a política de investimentos de um fundo de pensão fechado. “É uma estratégia similar a de um fundo de pensão que tem o objetivo de bater sua meta atuarial”, diz Fernando Lovisotto, gestor da Vinci. Para alcançar esse objetivo, a asset aloca atualmente uma parte da carteira do fundo em NTN-Bs de prazos médios (com vencimentos entre 2021 e 2026) e uma outra parte relevante em ações de dividendos.
Uma outra parte da carteira é alocada na proteção das estratégias, com hedge através de “put” de Ibovespa. “Não assumimos posições na curva longa de juros neste momento, pois a alocação em dividendos já cumpre a função de buscar um retorno adicional com um risco mais baixo”, explica Lovisotto.
O fundo foi lançado em dezembro de 2014 e conta atualmente com patrimônio de R$ 60 milhões. A captação foi mais fraca no primeiro ano, com R$ 10 milhões e acelerou em 2016, com cerca de R$ 45 milhões. “Acreditamos que a Reforma da Previdência está dando um empurrão nos planos de previdência aberta”, diz o gestor. Ele acredita que o perfil de gestão da Vinci tem uma característica adequada para produtos de previdência.