Edição 295
A fundação Valia, com R$ 21,5 bilhões em reservas de investimento, está começando a deixar para trás sua fase mais conservadora e a se posicionar um pouco mais no risco. O motivo é o desempenho de alguns indicadores econômicos, como a queda consistente da taxa de juros, a inflação baixa e a retomada dos níveis de ocupação de algumas atividades, que segundo o diretor de investimentos do fundo de pensão, Mauricio Wanderley, indicam que “a economia do País já está saindo do fundo do poço”.
Wanderley faz a ressalva que essa retomada de posições de risco nas carteiras dos institucionais vai depender dos vencimentos dos títulos públicos e também do apetite de cada fundação, ou seja, do momento em que ela queira entrar no novo ciclo de retomada. “Tem fundação que prefere entrar logo no início do ciclo, tem outras que esperam um pouco mais, até as definições ficarem mais claras”, explica. “No caso da Valia, achamos que já dá para começar a tomar um pouco mais de risco”.
A fundação está fazendo uma seleção para ampliar o número de gestores de renda variável do seu plano de Contribuição Variável (CV), atualmente com R$ 7,5 bilhões em reservas e vários perfis de investimento. Segundo Wanderlei, a grande maioria dos participantes está hoje no perfil 80/20, que representa 80% de renda fixa e 20% de renda variável. Porém, com a melhora do cenário que ele acredita que começará a ocorrer já no ano que vem, os participantes devem optar por elevar um pouco mais o nível de renda variável nas carteiras.
Atualmente, os recursos de renda variável de CV são distribuídos entre seis gestores: Atmos, M Square, Squadra, Indie Capital, Studio e Ibiuna. A fundação ainda não tem o número de novos gestores que serão selecionados nem a data para finalizar a seleção. “Começamos o processo no mês passado, estamos em fase de due dilingence”, explica.
Exterior – Além da elevação do número de gestores de renda variável a Valia também está ampliando os investimentos no Exterior, na modalidade global equity. Hoje, a fundação investe 3,6% de um plano de R$ 2,3 bilhões no exterior. Esse volume chegou a ser de 5,5% em 2015, aproveitando o dólar baixo do período em que a gestora entrou no mercado. Com a alta do dólar, que quase chegou aos R$ 4,00, a Valia resgatou as aplicações que passaram a representar 1% da carteira do plano. Percentualmente, as aplicações no exterior foram o melhor investimento da fundação em 2015.
Segundo Wanderley, hoje o nível do dólar está num patamar adequado para retomar os investimentos. A fundação pretende retomar o percentual de 5% de investimentos no Exterior, quase o mesmo nível que chegou a manter nessa carteira. Além da rentabilidade, a Valia busca com essa alocação também os benefícios da diversificação. “Cada vez mais os institucionais vão ter de olhar para aplicações no exterior”, diz.
Reprecificação – Os estruturados são outra classe de ativos que Wanderley espera que deem alegria nos próximos meses. Por conta das Resoluções 578 e 579, editadas pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM) no ano passado para redefinir as classes de Fundos de Participações (FIPs) e obrigar a marcação a mercado desses ativos, alguns FIPs investidos pela Valia já começaram a enviar suas reprecificações. “E os resultados que estão vindo são muito bons”, diz o diretor de investimentos da fundação. A Valia tem investimento em 18 FIPs, num valor total de R$ 637 milhões.
Essa reprecificação, embora esperada, pode criar algumas distorções. Ao preço de hoje, os 18 FIPs representam cerca de 3% da carteira consolidada da Valia, mas com a reprecificação esse percentual pode subir além dos 4%. Acontece que esse é o mesmo percentual dos investimentos em renda variável, basicamente de ações ao público, que já foi 35% do consolidado no passado mas desceu para 4% com a crise. “Seria uma distorção as participações em empresas privadas terem o mesmo peso, ou até mais, que as participações em empresas públicas”, comenta. “Mas vamos aguardar, assim que acontecer será um bom problema para resolver”.