Edição 154
O Brasil sozinho representa metade da indústria de fundos de investimento da América Latina. O Brasil é o sexto maior do mundo na comparação de países por critério de participação
dessa modalidade de investimento em relação ao PIB. O Brasil é o mercado que apresenta uma das maiores taxas de crescimento em fundos, um fenômeno que se repete há anos.
Estes dados revelam que a indústria brasileira de fundos é mais uma de nossas faces modernas e eficientes. O desempenho superlativo foi alcançado graças a uma conjunção de fatores, tendo como base a reconhecida competência dos administradores locais. O fundamental é que ele resulta dos avanços que vêm sendo alcançados na economia. Quanto mais estáveis ficam os fundamentos, maiores os atrativos dos fundos de investimento.
Com a estabilidade econômica avançando, os clientes passam a ter novas necessidades. Já não basta a passividade absoluta e garantida da renda fixa. Os administradores, por sua vez, saem da zona de conforto e incorporam obrigações cada vez mais complexas. A experiência e conhecimento tornaram-se qualidades obrigatórias para o bom gestor.
Outro aspecto importante foi o crescimento da concorrência, principalmente com o aumento do número de administradores independentes, o que criou novo dinamismo ao setor. Nesse contexto, o mercado passou a demandar maior controle sobre a qualidade e segurança das carteiras, além de instrumentos para melhorar a sua visibilidade. Os profissionais da área de distribuição de fundos passaram ainda por uma fase de reciclagem, com a criação de regras de conduta para o relacionamento com o cliente.
O investidor mudou. O apetite por um pouco mais de risco em troca de um melhor retorno é fato notório. Como também é notório que ao administrador caberá zelar por rentabilidades maiores, sem se descuidar
dos padrões de segurança mínimos exigidos daqueles que cuidam do patrimônio de
terceiros.
O novo momento da economia aponta para o crescimento da renda e do emprego, com o crescimento dos investimentos na produção. E o mercado de capitais será uma das fontes de recursos nesse cenário de retomada dos investimentos. Os fundos de investimento serão essenciais para viabilizar o funding desse processo.
A soma desses fatores, estabilidade econômica, procura por mais rentabilidade, aumento dos investimentos produtivos e fortalecimento do mercado de capitais, continuarão influenciando novo impulso para o crescimento do patrimônio dos fundos de investimento em 2005 e nos próximos anos.
O caminho dessa evolução vai passar naturalmente pelo mercado de ações. Atualmente, apenas 7% da indústria de fundos está alocada em ativos de renda variável. Não é preciso ser um otimista exacerbado para imaginarmos, como razoável, o seguinte cenário: uma migração gradativa, nos próximos anos, de 10% dos recursos que estão hoje alocados na renda fixa para a renda variável.
Estamos falando em injetar nada menos que R$ 60 bilhões em dinheiro para o mercado de capitais. Significaria o montante potencial que seria direcionado para capitalizar as empresas, com vantagens óbvias para
toda a sociedade: criar novas companhias, novas perspectivas de aumento da capacidade instalada, mais tecnologia, mais empregos e melhora na distribuição de renda.
Temos condições de formular uma agenda positiva em torno desse novo cenário. Nós, administradores de recursos, estamos e estaremos trabalhando na retaguarda com o objetivo de nos mantermos atualizados, tecnologicamente avançados e atentos ao relacionamento com os clientes.
Este ciclo virtuoso conta, na vanguarda, com o apoio de um dos mais eficientes aparelhos da administração pública brasileira, a Comissão de Valores Mobiliários (CVM). Tradicional centro de formação de excelência técnica do mercado de capitais, a CVM é fundamental para regular e fiscalizar o setor, de modo a agir com dinamismo na defesa dos interesses dos investidores.
Recentemente, a CVM adotou medidas importantes no sentido de ampliar a transparência nas informações prestadas pelos gestores aos seus cotistas. Essas e outras serão importantes para dar maior segurança ao mercado em geral.
A Associação Nacional dos Bancos de Investimento (Anbid), que reúne os administradores de fundos de investimento, tem a atribuição de comandar o processo de auto-regulação da área. Seu objetivo é fomentar a indústria de fundos, mas também contribuir para que os gestores sejam uma referência de qualidade em todos os elos da cadeia de produção dessa indústria.
Isso significa orientar e criar condições para que o aspecto da qualidade seja prioritário. Não só isso, a Anbid pode e deve ser uma referência de qualidade e credibilidade para os papéis negociados no mercado. Todas as emissões públicas de títulos ou ações que tem a coordenação financeira de um de seus associados precisam obter o selo Anbid. Da mesma forma, os fundos de investimentos devem ter seus regulamentos analisados pela entidade auto-reguladora. E, se em conformidade, também recebem o selo de qualidade Anbid.
Essa malha de segurança e credibilidade ampara toda a sociedade. É fato que a indústria de fundos tornou-se a mais democrática e acessível do mercado de investimentos brasileiro. Ela oferece alternativas múltiplas e tem flexibilidade para todo tipo de interesse. Seja para o pequeno investidor, para o grande investidor, para o investidor que gosta de se arriscar mais, para o mais conservador, todos são atendidos pela nossa indústria de fundos com a mesma competência e atenção.
Sérgio de Oliveira é diretor executivo do Bradesco e vice-presidente da Anbid.