Uma arma contra a volatilidade | Modelo de gestão da Aceprev dis...

Edição 110

Uma decisão da Aceprev, fundo de pensão dos empregados da Acesita, permitiu aos seus participantes ter um sono mais tranqüilo nos últimos meses, um feito conseguido por poucos fundos de pensão num ano bastante atribulado. Desde maio, a Aceprev adotou um novo modelo de gestão dos seus investimentos, segregando as reservas dos benefícios concedidos das reservas dos benefícios a conceder. Para cada perfil das reservas, a fundação passa a dar um tratamento diferenciado, tanto na hora de aplicar os recursos como no momento de contabilizar a rentabilidade dos investimentos.
O novo modelo de segregação vem impedindo a contaminação do desempenho das aplicações da parcela das reservas a conceder – que têm uma gestão ativa e são mais expostas à volatilidade e ao risco –, da outra parcela dos benefícios concedidos, que conta com uma gestão mais passiva e conservadora e, portanto, menos arriscada.
“Segregamos as reservas não só no segmento financeiro, mas também no âmbito da seguridade, ou seja, no fluxo do passivo. Existe uma preocupação em impedir que o mau desempenho de uma parcela das reservas afete a outra. Cada uma delas tem perfis e objetivos bastante distintos”, explica o diretor de investimentos da Aceprev, Fábio Schettino.
Segundo ele, mais importante que segregar as reservas no momento de fazer as aplicações financeiras é segregá-las também no momento de contabilizar a rentabilidade dessas reservas. Isso significa que, na hora da contabilização dos rendimentos, o mau desempenho da Bolsa, aplicação que normalmente faz parte de uma gestão mais ativa (benefícios a conceder), não afeta as reservas dos benefícios concedidos.
Enquanto as metas atuariais das reservas dos benefícios a conceder devem superar o desempenho médio dos seus benchmarks (CDI, Ibovespa etc), o objetivo das reservas dos benefícios já concedidos é apenas garantir a correção da inflação. Assim, os recursos das reservas concedidas são aplicados de forma mais conservadora. Já os recursos das reservas a conceder, ou em fase de acumulação, têm uma gestão mais ousada. “Durante a fase de acumulação das reservas pensamos como uma asset e na fase de concessão pensamos como um fundo de pensão”, compara.
Do patrimônio total de R$ 196,6 milhões no final de outubro deste ano, cerca de R$ 26 milhões estão segregados nas reservas concedidas, e R$ 96 milhões estão alocados nas reservas a conceder. No primeiro caso, quase 100% dos recursos estão aplicados em papéis indexados ao IGP-M mais juros de cerca de 10% ao ano, o que garante o cumprimento da meta atuarial (INPC mais 6% ao ano). Já os recursos das reservas a conceder estão aplicados em operações de derivativos (15% da carteira de renda variável) e títulos públicos e privados, pré e pós-fixados, que sofrem mais com a volatilidade do mercado.

Início – O desenvolvimento do novo modelo de segregação das reservas teve início no final do ano passado e ficou a cargo da SFR Previtec. A consultoria implantou um software, que passou a rodar em junho deste ano, que monitora o fluxo do passivo e, por meio dele, determina qual o melhor gerenciamento do ativo para “bancar” o pagamento do passivo.
“O coração de um fundo de pensão é o seu passivo. Ao acompanhar constantemente o fluxo do passivo, é possível fazer a alocação mais correta do ativo”, ensina o diretor comercial da SFR, Sérgio Zoccoli. Ele entende que para fazer um gerenciamento acertado dos ativos é preciso estar sempre atento às necessidades atuariais.
Mensalmente, a consultoria prepara o mapa do fluxo de pagamentos do passivo e sugere eventuais necessidades de realocação nos ativos. Assim, se houver um aumento do fluxo de pagamento dos benefícios, a consultoria orienta para uma nova reavaliação da política de investimentos e, por conseqüência, uma nova realocação dos ativos.
Dentro do novo modelo de gestão, a mesma instituição que faz a gestão dos recursos das reservas a conceder pode fazer também a gestão dos recursos dos benefícios concedidos. Para o consultor, isso permite uma flexibilidade para a fundação, que tem a liberdade de trocar os gestores a qualquer momento.
Na avaliação de Fábio Schettino, um dos frutos da inovação no novo modelo de gestão da fundação é, mais do que segregar as reservas, segregar também os riscos. Para ele, o novo modelo de segregação permite proteger, em especial, os aposentados, da volatilidade do mercado financeiro.