Trilhando o caminho para longe do CDI | Asset lança fundo cujo b...

Edição 230

Não é de hoje que os fundos de pensão já não veem mais no CDI a solução para todos os problemas. Com o mais recente corte nos juros e a flutuação da inflação em torno da banda superior da meta, fica ainda maior entre as entidades a consciência de que é preciso buscar investimentos mais casados com seus passivos.

De olho nisso, a Gap Prudential lançou no início de julho um fundo que, dois meses depois, conta com três fundações como cotistas e um patrimônio de aproximadamente R$ 20 milhões. Pelas estimativas de Roberto Carlos Pitta, gerente comercial da asset, em meados de 2012 o Gap IPCA Institucional baterá os R$ 100 milhões em ativos, com uma base de entre 10 e 15 clientes. “Nas conversas que vínhamos tendo com o público institucional, sentíamos que os investidores não tinham um produto que fosse a cara dos seus atuariais, ou seja, que buscasse inflação mais uma taxa de juros. A ideia de criar esse fundo veio principalmente para atender à necessidade de caixa e ao passivo dos institucionais”, revela Pitta. O produto tem como benchmark IPCA+5,5% ao ano, sendo que essa taxa acima da inflação foi estabelecida depois de uma pesquisa feita pela Gap para ver qual o patamar de juros utilizado de forma preponderante nos atuariais dos institucionais.
“Fizemos um estudo sobre a média dos atuariais. Encontramos juros de 5%, de 6%, ponderamos e chegamos à conclusão de que a média hoje é de inflação mais 5,5% para a maioria dos passivos. Por isso o benchmark do fundo é IPCA+5,5%, mas o produto tem um orçamento de risco que lhe permite buscar inflação mais 7% ou 7,5%, por exemplo”, ressalva o executivo.
Júlio Fernandes, gestor responsável pelo fundo Gap IPCA, explica que o produto precisa de uma gestão bastante ativa do seu lastro uma vez que tem como objetivo entregar uma taxa de juros além do IPCA. “Trabalhamos com um percentual do fundo aplicado em NTN-Bs, mas se acreditamos que em algum momento os juros reais do mercado podem passar por uma elevação, reduzimos o percentual dessa alocação, saindo das NTN-Bs e indo para o CDI temporariamente. Por outro lado, se acreditamos que a inflação projetada pode subir ou que os juros reais tendem a cair, que é o que tem acontecido agora, procuramos alocar 100% em NTN-Bs e escolher os melhores papéis em termos de duration e performance no período”, detalha.
O gestor explica que não existe um patamar mínimo para o fundo estar alocado em NTN-Bs. “Podemos até ficar 100% em CDI se consideramos que os juros reais podem abrir de um período para o outro”, informa. Também não existe nenhuma obrigatoriedade quanto ao vencimento dos papéis. Nos últimos três meses, o fundo operou com NTN-Bs de um a três anos, mas como a equipe de gestão considerou que a parte longa da curva poderia andar em algum momento, optou-se por colocar entre 5% e 10% do fundo em NTN-Bs com vencimento em 2020. Em suma, a alocação depende das análises e perspectivas dos gestores quanto ao comportamento da inflação e dos juros.

Renda variável e câmbio – Apesar de ter o lastro trabalhado no IPCA, o fundo também pode carregar posições em câmbio e de renda variável. Fernandes conta que os gestores da Gap (de renda fixa e variável) se reúnem semanalmente em comitês para definir um portfólio de longo prazo que pode incluir posições em bolsa, câmbio e juros. O Gap IPCA, assim, também recebe alocações de longo prazo que são definidas nesses comitês. “Hoje, o fundo está carregando uma posição de 10% em renda variável, sendo 5% direcional, comprada em papéis específicos definidos pela equipe de bolsa, e 5% em long and short, comprada em ações e vendida em índice futuro”, descreve Fernandes. Ele acrescenta que a parte direcional da renda variável congrega algo como seis ou sete ações. Atualmente, o restante dos recursos do fundo está aplicado em NTN-Bs. “Consideramos o momento excepcional para manter a alocação, mas vale dizer que esses percentuais não são fixos”, pondera o gestor.
Roberto Pitta esclarece que o Gap IPCA é aderente à Resolução número 3.792 do Conselho Monetário Nacional (CMN) e está enquadrado nos chamados multimercados “institucionais” – ou seja, não faz parte daquele grupo de fundos classificados no segmento de estruturados e que têm como limite de aplicação 10% dos recursos das fundações. “Quando o fundo faz renda variável, compra ações determinadas por uma análise fundamentalista; o long and short é feito de acordo com a alocação do multimercado, em índice contra a carteira; ou seja, por mais que a aplicação seja feita dentro do contexto de bolsa, não significa que existe uma variação de índice no portfólio”, explica. Pitta resume que o fundo tem nas NTN-Bs o seu grande porto-seguro, mas busca instrumentos de renda fixa, juros e câmbio enquadrados na CMN 3.792 para agregar valor à gestão.