Sob o impacto do PDV | Fundo de pensão patrocinado pela Copel, em...

Edição 360

No último dia 14 de agosto, quando o governador do estado do Paraná, Ratinho Júnior, bateu o martelo formalizando a venda da Copel na bolsa de valores de São Paulo, a B3, uma população de cerca de 23 mil pessoas acompanhava com atenção e apreensão as notícias sobre a operação. Era um contingente formado por participantes ativos e assistidos do fundo de pensão patrocinado pela então estatal que, privatizada, tornava-se uma “corporation”, o que na linguagem do mercado financeiro quer dizer uma empresa sem controle acionário definido.
Aos participantes do fundo de pensão interessava saber o que mudaria na empresa com o novo desenho acionário. No desenho antigo o estado do Paraná controlava a empresa, assim como sua política de gestão de pessoal, com a posse de 31% das ações ordinárias. Com a venda das 59 milhões de ações, arrematados pela gestora norte-americana GQG Partners no leilão da B3, os cofres estaduais foram reforçados em R$ 3,1 bilhões mas a participação do governo caiu para 15%, insuficiente para ditar os rumos da empresa.
Uma das primeiras providências da Copel sob a nova configuração acionária foi anunciar um Programa de Demissões Voluntárias (PDV), que se estenderá até agosto de 2024. O reflexo direto desse programa no fundo de pensão, de resto já esperado desde o momento em que começou a se falar na privatização da patrocinadora, é que o número de participantes ativos vai diminuir e o de assistidos vai aumentar. Ou seja, a fundação vai “envelhecer” na definição do diretor de investimentos da Fundação Copel, José Carlos Lakoski.
Dos seus atuais 23 mil participantes, cerca de 9 mil são ativos e 14 mil são assistidos, sendo que a grande maioria desses assistidos está num plano fechado, de Benefício Definido (BD), cujo patrimônio soma R$ 6,9 bilhões. Esse plano, seguindo as indicações de um estudo de Asset Liability Management (ALM), tem 80% de seus recursos investidos em títulos públicos marcados na curva, refletindo as necessidades atuariais do plano de forma a garantir o pagamento das pensões futuras. Sobre esse plano, como não entram novos participantes, o PDV da Copel não terá nenhuma influência, explica Lakoski.
Um segundo plano, esse de Contribuição Variável (PV), abriga todos os participantes ativos e uma parcela ainda pequena de assistidos, mas que certamente vai crescer com o PDV. Esse plano, com um patrimônio de R$ 6,6 bilhões, é formado por duas partes, uma delas no modelo BD, que à exemplo do plano fechado também aloca em títulos públicos marcados na curva, e outra parte no modelo de Contribuição Definida (CD), alocando em ativos de mais risco como renda variável, multimercados, crédito, imobiliário, FIPs e renda fixa IMA, além de exterior e empréstimos ao participante. Dos R$ 6,6 bilhões que formam o patrimônio do CV, R$ 3,9 bilhões estão no CV-BD e R$ 2,7 bilhões no CV-CD.

Impacto – O maior impacto do programa de demissões da Copel será justamente sobre a parte CV-CD, uma vez que a entidade terá que desinvestir de ativos de mais risco para, com os recursos obtidos, comprar NTN-Bs longas para incorporar à carteira marcada na curva. Isso porque as demissões vão reduzir o número de participantes ativos do CV-CD e aumentar a parcela de assistidos do CV-BD, aumentando a necessidade de títulos públicos levados a vencimento nesse plano.
De acordo com Lakoski, todos os segmentos fora da carteira marcada na curva serão sacrificados para implantar essa mudança. “Vamos diminuir um pouco de todos”, diz. “Mas ainda não começamos esse processo, estamos estudando os números oficiais do PDV para termos mais precisão dos movimentos exigidos”.
Embora o PDV esteja apenas começando, e vá estender-se até agosto do ano que vem, a fundação não quer deixar passar muito tempo antes de iniciar as operações de compra de NTN-Bs longas, aproveitando esse momento em que elas ainda estão acima do seu atuarial. “Nossa meta está em 4,95%, hoje ainda conseguimos comprar títulos longos acima da meta, a 5,75%, então não podemos deixar para a última hora, temos que aproveitar”, afirma o diretor da fundação.
Do patrimônio de R$ 14 milhões da fundação, que incluem um BD fechado de R$ 6,9 bilhões, um CV de R$ 6,6 bilhões, além de um plano família de R$ 175 milhões e um plano de custeio administrativo (PCA), 61% estão alocados em títulos públicos marcados na curva. O restante está em fundos de fundos (FoFs), que abrigam tanto fundos exclusivos quanto de terceiros, e outras operações.
Atualmente o FoF de renda variável representa 5,4% do total dos recursos da entidade, o de multimercados 5%, o de crédito privado 6,4%, o de IMA-B ativo 12%, o imobiliário 4% e dois FIPs, um de ativos reais e outro de infraestrutura, 3,4%. Além disso, a fundação possui 1,5% do patrimônio alocado em exterior, via fundos abertos, e 1,3% em empréstimos aos participantes.
Segundo Lakoski, os planos compram cotas desses FoFs de acordo com suas estratégias, pagando o mesmo custo e usufruindo da mesma rentabilidade, independente do aporte. Por exemplo, o plano família pode comprar R$ 5 milhões em cotas do FIP de infraestrutura pagando o mesmo custo que pagam os outros planos maiores. “Não é porque é menor que vai ser penalizado. Todos os planos têm acesso a todas as estratégias, em igualdade de condições”, explica.

Contribuições menores – Além de obrigar a fundação a realizar mudanças nas estratégias de investimentos, o PDV da patrocinadora também resultará numa redução do volume de contribuições, uma vez que ao deixar de ser ativo o participante para de contribuir. Atualmente, para R$ 800 milhões pagos anualmente em benefícios a fundação recebe contribuições de R$ 180 milhões, numa situação de déficit que aumentará ainda mais até agosto do ano que vem com a desidratação do número de contribuintes ativos.
Para fazer frente a esse novo cenário, de perda de participantes ativos e redução no valor das contribuições, a entidade já definiu um plano estratégico que consiste em buscar novos grupos para oferecer sua expertise previdenciária. São três novos grupos nos quais a Fundação Copel está de olho: em primeiro lugar novos instituidores corporativos, que já estão sendo mapeados para definir por onde começar a abordagem; em segundo lugar os planos família que não avançaram de outras fundações, contando para essa abordagem com a credencial do seu próprio plano família, com R$ 175 milhões de patrimônio e cerca de 4,5 mil participantes; e em terceiro lugar as entidades de menor porte, em situação de solvência mas com dificuldades de custeio pelo aumento das exigências legais e normativas.
Lakoski descarta a busca de planos de entes federativos, uma alternativa seguida por várias entidades previdenciárias, inclusive algumas da região Sul. “Não temos nada contra esses planos, mas não é o nosso foco. Até porque, na nossa opinião, elas sofrem muita ingerência política”, completa.
A estratégia de crescer baseado nesse tripé, formado por instituidores corporativos, planos família e fundações de pequeno porte, exigirá uma mudança cultural da fundação. “É preciso mudar a mentalidade acostumada a contar sempre com uma fonte certa de recursos, agora tem que ir ao mercado e correr atrás do dinheiro”, diz. “Tem que saber fazer parcerias, no nosso plano família já estamos fazendo essas parcerias com empresas de seguros e de consórcio, construindo intermediações financeiras que ajudem a alavancar recursos para o PGA”.
Para avançar nessa direção a Fundação Copel definiu um planejamento estratégico, composto por três pontos, que devem ser debatidos na próxima reunião do Conselho Deliberativo, a acontecer no início de outubro. A entidade quer aprovar no CD uma reformulação do seu estatuto, para permitir a gestão de planos de instituidores corporativos, planos família e planos de outras fundações, assim como a criação de uma nova estrutura operacional, mais robusta, para poder dar conta da abordagem à esses novos segmentos, e a definição de um plano de comunicação focado nesses objetivos. “Se não fizermos isso, em dez anos a entidade vai ficar pequena e inviável”, avalia Lakoski.

Curva de juros – Para Lakoski, o atual cenário de investimentos não permite grandes otimismos, principalmente porque o ajuste fiscal que está sendo feito pelo governo ocorre principalmente pelo lado das receitas, e não pelo corte nas despesas. Dessa forma, apesar do Copom estar baixando a Selic, que representa a curva curta dos juros, “o que importa é a curva média e longa, que reflete a questão fiscal”, diz. “Nós olhamos a curva média e longa, que vai continuar sendo atrativa”.
Isso estimula a fundação a buscar carregar as carteiras BD com títulos longos marcados na curva, diz Lakoski. “Enquanto eu encontrar títulos públicos pagando acima do meu atuarial, tendo liquidez, eu vou comprar”, diz.