Riscos do Oriente Médio | Institucionais dos EUA, Europa e Nova Z...

jovem palestina

Edição 245

 

Atentos aos acontecimentos em Israel e nos territórios ocupados, fundos de pensão já começam a rever seus investimentos em empresas que possuem negócios na região. Exemplos recentes de ação por parte de investidores institucionais incluem a do Sistema de Aposentadoria dos Funcionários Públicos da Califórnia (CalPERS). O maior plano de benefício definido dos Estados Unidos, com patrimônio de US$ 253,2 bilhões, discute com o conglomerado francês Veolia Enviroment e com a empresa de eletrônicos israelense Elbit Systems com o objetivo de promover a reavaliação de suas operações nas áreas ocupadas. O CalPERS tem US$ 31 milhões em ações da Veolia e US$ 2,4 milhões na Elbit.

A Veolia opera um aterro sanitário para atender os assentamentos judeus na zona ocupada e construiu um sistema de metrô que liga os assentamentos em Jerusalém. Ela também opera linhas de ônibus que não atendem aos palestinos, seguindo as orientações do exército israelense.

Já a Elbit instalou equipamento de monitoramento no chamado Muro da Cisjordânia, uma parede de mais de 400 quilômetros de extensão que separa Israel dos territórios ocupados. A justificativa dada pelo governo é que o muro é necessário para parar terroristas suicidas palestinos, já que só é possível cruzá-lo pelos postos de controle. Os palestinos dizem que o muro impede de ter livre acesso à sua terra.

Diretores do Sistema de Aposentadoria dos professores de Sacramento (CalSTRS), na Califórnia, que tem patrimônio de US$ 154,3 bilhões, encontrou executivos da Caterpillar para discutir as ações da empresa no país do Oriente Médio. Eles queriam debater o uso de tratores Caterpillar na destruição de casas de palestinos. A CalSTRS tem 174,2 milhões dólares em estoque Caterpillar. Na Noruega, o Estado forçou a retirada de US$8,5 milhões que o fundo de pensão governamental tinha investido na Shikun & Binui. A saída da empresa da carteira de investimentos do fundo se deu em junho do ano passado depois que a Shikun & Binui começou a construir um assentamento em uma zona ocupada. Exemplo parecido vêm do New Zeland Superannuation Fund, de Alkland, que possui participação acionária em construtoras com negócios em Israel.

Antecedentes – O impulso nos conflitos na região veio com a ocupação por Israel da terra que ocupou de seus vizinhos árabes durante a Guerra dos Seis Dias, em 1967. No fim de janeiro, investigadores de direitos humanos da Organização das Nações Unidas (ONU) pediram a Israel que suspenda seu programa de construção de assentamentos judeus no território ocupado. Outra exigência é que Israel suspenda a retirada de colonos, pois isso violaria as leis internacionais.

Este não é o primeiro caso de desinvestimento deste tipo entre os investidores institucionais, mas talvez o mais complexo. Investimento em empresas de ramo de tabaco e as envolvidas com governos repressivos, como o do Sudão, foram de mais fácil solução. Não existe tal consenso sobre as empresas envolvidas na disputa entre israelenses e palestinos. Cerca de 500 mil colonos judeus vivem na Cisjordânia e em Jerusalém Oriental, que passaram a ser controladas por Israel na Guerra dos Seis Dias. São os territórios que os palestinos reivindicam como sua terra natal.

“É um emaranhado de política externa que está além de nossa capacidade de resolver”, disse Anne Simpson, diretora de Governança Global do CalPERS. Simpson disse que, dada a complexidade das questões de política externa no Oriente Médio, pediu a funcionários que organizem um debate sobre investimento responsável no Oriente Médio na próxima reunião da comissão por investimentos responsáveis (PRI) da ONU, em outubro na África do Sul.

Áreas de guerra – As diretrizes do PRI sobre o comportamento das empresas em áreas devastadas pela guerra, postadas no site da organização, dizem que as empresas devem agir como cidadãos responsáveis e não fazer negócios lá. A diretora da CalPERS disse que sua equipe iniciou discussões com a Veolia e a Elbit após a Campanha Desinvestimento em Israel. Anne afirma que tanto Veolia e a Elbit deram respostas detalhadas para as denúncias de violações de direitos humanos e afirmaram “que suas operações na Palestina são coerentes com o direito internacional”. Ela detalha que a CalPERS continuará o processo de negociação com as empresas e dará a elas a oportunidade de responder às denúncias de violação dos direitos dos palestinos.

Defensores – Do outro lado, defensores de Israel não estão satisfeitos com a ação de grupos pró-Palestina. “Os esforços de ativistas é uma parte de um projeto muito maior que visa deslegitimar Israel”, diz Omri Ceren, assessor sênior do The Israel Project. A organização de Ceren tem como objectivo melhorar a imagem de Israel.

“Os grupos que apoiam estes esforços dizem que seus objetivos e táticas são limitados e razoáveis, mas na verdade esses grupos estão na vanguarda de empurrar para a plena escala boicotes e sanções contra Israel. É difícil evitar a percepção de que os fundos de pensão estão sendo manipulados para se tornarem pequenos jogadores em campanhas ativistas”, completa Ceren.

Mas Sherna Berger, um dos organizadores do grupo ativista Campanha Desinvestimento Israel, disse que muitos dos mais de mil membros que assinaram petições Calpers são judeus, como ela própria. Berger diz reconhecer o direito de Israel de operar como um Estado soberano, mas a questão, segundo afirma, é que Israel está violando a lei internacional por sua ocupação dos territórios.

A CalSTRS assumiu posição parecida com a da CalPERS. Diretores disseram que tinham a obrigação de investigar o caso depois que membros do grupo pediram que o sistema de vendesse suas ações na Caterpillar.

A diretora de Governança Corporativa da CalSTRS, Anne Sheehan, diz que a diretoria aceitou a posição da Caterpillar de que o governo israelense recebe seus produtos diretamente do governo dos EUA e não através da empresa.

Já a o fundo da Nova Zelândia decidiu vender suas ações nas duas empresas de construção. A decisão se deu porque a diretoria concluiu que as empresas não caminharam no sentido de parar suas atividades na zona ocupada, segundo Anne-Maree O’Connor, gerente de investimento responsável do fundo. “Se você chega a um ponto determinado em que as melhorias não estão mais sendo feitas, então você precisa tomar uma decisão de excluir a empresa do portfólio.”