Retorno de CD perde para BD | Apesar de menor exposição à renda v...

CARVALHO: importância da política de investimentosEdição 237

 

Mesmo com menor alocação no segmento de renda variável, que teve desempenho negativo em 2011, a rentabilidade dos planos da modalidade de contribuição definida (CD) ficou abaixo dos planos do tipo benefício definido (BD) e contribuição variável (CV). Esse é um dos resultados mostrados por uma pesquisa realizada com 40 planos de benefícios, que somam patrimônio de R$ 205,8 bilhões, da Gama Consultores Associados. Os planos CD tiveram rentabilidade média de 9,58% no ano passado, contra 10,62% dos planos de contribuição variável (CV) e 12,33% dos BD. Na média global entre todas as modalidades, os planos apresentaram rentabilidade de 11,42%.

É a primeira vez que a consultoria Gama realiza pesquisa global com todos seus clientes. A soma do patrimônio dos planos que entraram na pesquisa representa cerca de um terço (mais precisamente 34%) do total do sistema, que acumulava cerca de R$ 605 bilhões no fechamento de 2011. A margem de erro é de 15%, levando em conta o tamanho da amostra. Um fator de distorção é a presença do plano da Previ do Banco do Brasil na pesquisa, que soma R$ 133 bilhões de patrimônio, e alta concentração de ativos de renda variável. “Acreditamos que a pesquisa trabalha com um universo significativo”, diz João Marcelo de Carvalho, supervisor atuarial da Gama e um dos responsáveis pelo trabalho.

A pesquisa mostra alguns cortes que comparam a rentabilidade com os diversos perfis dos planos, como o tamanho do patrimônio, a meta atuarial e outros. Um dos resultados que chama a atenção é a rentabilidade por modalidade de plano. Os planos CD, que estão em menor número na amostra (7 planos), tiveram a pior rentabilidade no ano passado. E a renda variável não pôde ser tomada como justificativa, em um ano que a bolsa teve desempenho ruim (Ibovespa registrou 18% negativos em 2011). É que esses planos registraram alocação média de 10% no segmento de renda variável, contra 18% dos planos CV (10 planos) e 11,95%, dos BD (23 planos). Ou seja, os planos de benefício definido e de contribuição variável tiveram melhor rentabilidade, mesmo com maior volume de recursos em bolsa ou fundos de ações.

Considerando uma amostra maior, da Associação Brasileira das Entidades Fechadas de Previdência (Abrapp), as diferenças são ainda mais acentuadas. Os planos CD renderam em média 8,62%, com uma carteira de renda variável de 11,50%. Já os planos BD tiveram rentabilidade de 10,04%, apesar de concentrar 35,90% do patrimônio no segmento de renda variável. Já que o Ibovespa teve desempenho negativo no ano passado, seria de se supor que as carteiras dos planos CD apresentassem melhores rentabilidades. “Os planos CD são em geral mais novos, e deveriam trabalhar melhor com a questão do risco, aproveitando a menor necessidade de liquidez”, diz o atuário da Gama.

Uma possibilidade para explicar a diferença de rentabilidades entre os tipos de planos é a composição dos ativos das carteiras de renda fixa. Sabe-se que alguns planos BD mais antigos tendem a concentrar maior quantidade de títulos públicos adquiridos há mais tempo e que oferecem taxas de juros elevadas. Esses títulos federais, que fazem parte das carteiras, garantem rentabilidade muito superior aos títulos leiloados mais recentemente, que vem sofrendo sucessivos cortes nos juros. “Outro fator importante foi a concentração em imóveis. Quanto maior carteira imobiliária, melhor o desempenho, devido à forte valorização do segmento”, diz Carvalho.

Considerando apenas os planos BD e CV, que são maioria na pesquisa da Gama (33 entre 40), a análise dos resultados muda de figura. Comparando planos destas modalidades, percebe-se que aqueles com menor concentração em renda variável, tiveram melhor desempenho. “As políticas de investimentos, que definem a alocação entre renda fixa e variável, tiveram maior influência nos resultados do ano passado”, afirma o supervisor atuarial da Gama. O atuário explica que aqueles planos com menor exposição à renda variável, registraram melhores resultados, como era de se esperar. A exceção, como foi dito anteriormente, ficou mesmo com os planos do tipo CD.

Bolsa – O fraco desempenho da bolsa, sobretudo no primeiro semestre do ano passado, prejudicou a rentabilidade das carteiras dos planos. A bolsa teve uma recuperação no final de 2011, que continuou com força no primeiro trimestre de 2012. Mas essa recuperação não foi capaz de compensar a desvalorização das carteiras durante o ano passado, quando o Ibovespa chegou a bater os 52 mil pontos. “O papel dos conselhos deliberativos na definição das políticas foi preponderante. Isso teve maior influência que a qualidade da gestão dos ativos”, diz Carvalho. Ou seja, mesmo com um bom trabalho dos gestores, se a política de investimentos tivesse definido uma concentração mais alta na renda variável, o fator da alocação acabou predominando sobre o resultado final.

Comparado com as metas atuariais, a média de rentabilidade ficou abaixo do IPCA mais 6%, que somou 12,44% em 2011. Porém, a maioria dos planos de benefícios não ficou muito distante da meta, e muitos até conseguiram superá-la. Isso porque a maioria dos planos já ajustou as taxas de descontos para abaixo dos 6% – valor máximo permitido pela regulamentação. Apenas 7 planos analisados na pesquisa continuam com a taxa máxima de 6%. Outros 18 planos utilizam taxas entre 5,25% e 5,75%. E um dado surpreendente é que 25% dos planos (10 de 40), já trabalham com taxa de desconto de 5%, ou seja, 1% abaixo do máximo. “Os planos mais novos, a maioria do tipo CD, geralmente já trabalha com metas atuariais mais ajustadas com a realidade atual do mercado”, conta o atuário da Gama.

Já entre os planos do tipo BD, pouco menos da metade (43%) ainda mantém a taxa máxima de 6%. Mas também não deixa de ser representativo que mais da metade dos planos BD, considerados pela pesquisa, já tenham reduzido suas metas atuariais. A questão do reajuste das metas é um dos principais assuntos da pauta dos fundos de pensão e de suas patrocinadoras em virtude da queda das taxas de juros básicas da economia brasileira, acelerada a partir do segundo semestre do ano passado.

Uma das conclusões da pesquisa é que não foi verificado uma correlação entre as melhores rentabilidades com as maiores metas atuariais, como se poderia supor. “Os resultados não mostraram que os planos com as maiores metas tiveram melhor rentabilidade. Os planos com metas mais arrojadas costumam correr riscos mais altos, o que prejudicou o retorno em um ano como 2011, que apresentou alta volatilidade nos mercados”, diz Carvalho.

Conclusões – Outra conclusão da pesquisa, que acaba contrariando as hipóteses mais comuns, é a correlação entre o tempo de existência e maturidade do plano com a rentabilidade. Ao contrário do que se pode supor, os planos mais novos e com menores graus de maturidade não alcançaram melhores rentabilidades. Isso poderia ocorrer em virtude da possibilidade de compra de títulos com prazos mais longos e também pela possibilidade de maior exposição ao risco. Neste ponto, também volta a questão dos resultados dos planos CD, que em geral, são mais novos que os do tipo BD. Conforme foi citado anteriormente, os planos de contribuição definida tiveram rentabilidade média mais baixa que os demais, apesar de contar com a possibilidade de trabalhar com prazos maiores dos investimentos.

Mais um resultado que surpreendeu foi a relação entre o tamanho do patrimônio dos planos e a rentabilidade. Como se poderia esperar, os planos com patrimônios maiores não conseguiram melhores resultados na média, que os demais de menor porte. Ou seja, a questão dos ganhos de escala não foram predominantes no resultado da pesquisa. Por fim, também não se verificou diferença entre as metodologias de marcação dos títulos na curva na análise das rentabilidades das carteiras.

A conclusão final é que a alocação entre a renda fixa e a variável foi o que mais influenciou no resultado da pesquisa. Claro, que a preponderância desse fator foi acentuada pelo desempenho dos mercados em 2011, com as diferenças entre os resultados da renda fixa e a fraca rentabilidade da bolsa.