Edição 267
A oscilação da bolsa de valores doméstica no ano passado, principalmente na época das eleições e com grandes players do mercado, como a Petrobras, em situação complicada, fez com que muitos fundos de pensão reavaliassem sua exposição nesse segmento, buscando alternativas para diluir possíveis perdas em 2015. Em suas políticas de investimento para este ano, as fundações planejam uma gestão mais ativa, monitorando a bolsa de perto e aplicando em outros segmentos que garantam maior retorno, como renda fixa, ou que promovam maior diversificação, como exterior.
Nas informações consolidadas da BM&FBovespa referentes ao volume movimentado de negócios em 2014, já se percebe a saída dos institucionais e fundos de pensão da renda variável doméstica. A categoria de institucionais reduziu participação nos negócios da bolsa de 32,75% em 2013 para 28,75% no ano passado (ver box ao lado). Esse é um dos indicadores que mostram que as fundações estão com o pé no freio quando se trata de aplicações em renda variável nacional. Porém, o mesmo não acontece com os fundos de ações no exterior.
A Funcesp, por exemplo, triplicou seu limite para investimentos em fundos de renda variável no exterior, ampliando de 2% para 6% em sua política de investimentos para este ano. Atualmente, o fundo de pensão já investe R$ 60 milhões em três fundos de ações no exterior, um da BlackRock, um da Schroders e outro do J.P. Morgan. O diretor de investimentos do fundo de pensão, Jorge Simino, explica que o cenário adverso da bolsa brasileira foi o que fez com que a fundação reduzisse sua exposição local e ampliasse em ações do exterior.
“O cenário está muito prejudicado. A Petrobras perdeu peso na bolsa, mas ainda tem problema, o setor de educação que foi destaque dos últimos dois anos também está com problemas e o setor de consumo voltado para varejo terá um ano difícil”, explica Simino. Para diluir os riscos, a fundação aposta nas alocações fora do país e espera investir em mais dois fundos ainda esse ano. O valor a ser aplicado ainda não foi estabelecido, mas pode chegar ao dobro do atual.
A Valia, fundo de pensão da Vale, também reduzirá a exposição em renda variável doméstica em sua nova política de investimentos, passando de 12% para 8%, e avalia que esse ano será ainda mais desafiador por conta do início dos ajustes do governo na economia. “Isso impacta a expectativa da renda variável”, diz o diretor de investimentos e finanças da fundação, Maurício Wanderley. O diretor explica que a estratégia será monitorar o segmento de forma mais ativa, mas com percentual menor.
A fundação da Vale iniciou os investimentos no exterior e já possui R$ 50 milhões comprometidos para distribuir em quatro fundos – do J.P. Morgan, BlackRock, Mongeral Aegon e Principal. Segundo Wanderley, ainda deve ser feita a seleção de novos gestores nesse segmento. “Monitoramos o dólar por um tempo e achamos que agora começou processo de ajuste. Devemos alocar ao longo do tempo nesses fundos”, explica.
Já a Fundação CEEE planeja reavaliar e, se for o caso, se reposicionar em cada investimento de renda variável realizado até então. “Estamos aproveitando a bolsa depreciada para ver se cabe reposicionamento. Vamos ver caso a caso as perspectivas de retorno e começar a migrar para outra alternativa dentro do mercado se for preciso. O recurso em bolsa será mantido, mas com redirecionamento”, explica José Joaquim Fonseca Marchisio, diretor financeiro da fundação.
Marchisio diz ainda que por enquanto não há muitas opções de diversificação para a fundação, já que para a realização de investimentos no exterior ainda é preciso fazer uma mudança no estatuto do fundo de pensão, o que gera longas discussões. “Temos uma limitação grande do estatuto e há uma proposta de alteração para que seja permitida a alocação no exterior, mas não é um assunto consensual entre nossos conselhos”, diz. Em sua opinião, seria bom ter uma alternativa de investimento, mas é importante saber que há uma sazonalidade para esses tipos de aplicação. “Nem tudo que tem no exterior é bom, mas é complicado ficar com essa restrição”.
A EmbraerPrev, fundo de pensão da Embraer, é outro fundo que optou por reduzir o limite mínimo de alocação em renda variável em sua política de investimentos para 2015, que foi de 10% para 5%. “Com as arrecadações mensais não investimos na compra de renda variável em 2014. Passamos a comprar mais renda fixa, e já estávamos abaixo do limite de 10% por um desenquadramento passivo”, diz Eléu Baccon, diretor superintendente e de seguridade do fundo de pensão dos funcionários da Embraer.
Hoje o percentual da fundação alocado em renda variável está em 9%. “Para não correr o risco de desenquadramento, alteramos para 5%”, fala o executivo. Baccon lembra ainda que para 2015, as perspectivas não são positivas para a bolsa brasileira em função da expectativa de lucros reduzidos das companhias.
Para cumprir a meta no primeiro semestre, a entidade vai manter a estratégia do segundo semestre do ano passado, de investir principalmente em crédito privado, uma vez que os títulos públicos atrelados a inflação não estavam com rendimento suficientemente atrativo. “Com o aumento dos juros, se as NTN-Bs começarem a se destacar de novo, temos a intenção de comprar mais esses papéis”, pontua Baccon.
A Fundação Real Grandeza, por sua vez, não pretende fazer grandes mudanças em renda variável, apenas seguindo a política de terceirização da carteira de ações, aumentando a participação da gestão externa e selecionando novos gestores. “Ao longo de 2014, ficamos entre 3% e 6% acima do nosso benchmark na renda variável, fechando o ano com 3,5% acima da meta. Já a renda fixa rendeu com 14,33% contra uma meta de 12,4%”, explica Eduardo Garcia, diretor de investimentos da fundação.
O executivo diz que, apesar do ano difícil para a bolsa brasileira, o processo fundamentado para escolha das ações ajudou a bater o benchmark. “Fazemos um estudo de mercado e checamos de três em três meses a aderência dessa tese. Em linhas gerais, selecionamos histórico de médio e longo prazo das empresas. Independente de questões conjunturais, olhamos o potencial de geração de valor que a empresa tem e apostamos de forma diferenciada do índice”, diz Garcia.
Renda fixa – A política de investimentos da Real Grandeza para este ano leva a uma maior aposta em renda fixa, que passa de 62,6% para 65,4% no plano de benefício definido (BD) e de 43,1% para 59,4% no de contribuição definida (CD). “Título público apresenta remuneração vantajosa. Já em 2014 fizemos novas aquisições, vendemos posições de títulos com vencimento em 2017 e 2021 e passamos pra 2050. Nossos estudos abriram margem para expandir renda fixa, e já não temos grande posição em renda variável”, reitera Garcia.
A renda fixa continua extremamente atrativa também na opinião de Mauricio Wanderley. “Diante desse cenário, com o próprio juros de curto prazo com expectativa de alta, a renda fixa fica competitiva”. Os investimentos estruturados aparecem para complementar a alocação em renda variável da fundação, segundo o diretor da Valia. “Temos 10% de capital comprometido para investir em estruturados e 5,5% já investido. Devemos ficar nesses níveis, não esperamos que aumente muito”, avalia.
O executivo acredita que esse ano será de boas oportunidades nesse segmento, devido ao difícil cenário de crédito e impacto da economia nas empresas. “Elas vão buscar outras fontes de recursos. Em um momento mais difícil teoricamente os preços caem, as transações ficam mais atrativas. Mas é o início de um ciclo de ajustes, vamos identificar mais a frente as oportunidades”.
Resultados de 2014 – A Real Grandeza encerrou 2014 com um patrimônio de R$ 11,9 bilhões e conseguiu bater a meta atuarial tanto do plano de benefício definido (BD) quanto de contribuição definida (CD). No plano BD, a meta foi de INPC + 5,5% (11,72%), enquanto a rentabilidade da fundação ficou em 13,84%. Já no plano CD, a meta foi de IGP-DI + 5,5% (9,2%), e a rentabilidade chegou a 10,44%.
Já a Fundação CEEE encerrou 2014 com rentabilidade de 9,28%, ficando assim abaixo da meta atuarial, estabelecida em INPC + 5,5%. José Joaquim Fonseca Marchisio explica que para este ano a meta continuará a mesma, e para ajudar a impulsionar planos que já estão mais amadurecidos, a ideia é estabelecer nos próximos anos uma política de investimento específica para cada plano.
“No primeiro momento, estão todos uniformes, mas a tendência é trabalharmos cada plano individualmente alocando de acordo com necessidade de cada um”, salienta o executivo.
A Valia também ficou abaixo da meta, com rentabilidade consolidada de 10,65% ao ano contra meta de 11,27%. Wanderley diz que o maior impacto foi de fato na renda variável. “Estávamos indo bem até dezembro, mas esse foi um mês atípico, com crise de commodities impactando os emergentes. A carteira sofreu esse impacto. Fechamos negativos em renda variável, com -3,19% no ano. Perdemos 7% em dezembro”, destaca Wanderley.
Institucionais perdem participação na bolsa
Os resultados fracos da bolsa doméstica nos últimos três anos está afastando os investidores fundos de pensão e institucionais em geral dos negócios da BM&FBovespa. Os dados do ano passado mostram que a categoria de investidores institucionais reduziu participação sobre o volume de negócios de 32,75% em 2013 para 28,95% em 2014 do montante negociado no ano na bolsa.
Em valores, os institucionais foram responsáveis pela movimentação de R$ 1,04 trilhão em 2014, contra R$ 1,2 trilhão apurado no ano anterior. As instituições financeiras seguiram a mesma trajetória de queda, saindo de uma participação de 7,35% para 5,08% nesse intervalo. Em valores, elas movimentaram R$ 183 bilhões – em 2013, o valor era de R$ 270,2 bilhões.
Quem ganhou participação na bolsa no período foram os investidores estrangeiros. O segmento foi responsável pela negociação de R$ 1,85 trilhão em 2014, frente a R$ 1,6 trilhão no ano anterior. No geral, os estrangeiros passaram a representar 51,23% da movimentação da bolsa brasileira, contra 43,65% em 2013.
O volume negociado na BM&FBovespa, de maneira geral, sofreu uma breve queda em 2014, passando de R$ 3,67 trilhões para R$ 3,61 trilhões em um ano.