Edição 262
As fundações fizeram nos últimos anos um trabalho de descorrelação de sua renda variável com os principais benchmarks da Bolsa brasileira, e neste primeiro semestre de 2014 muitas viram o resultado de seus investimentos em ações ficarem abaixo do apresentado pelo Ibovespa e pelo IBrX no período. Ainda assim, o que garantiu à maior parte dos fundos de pensão bater sua meta atuarial nos seis primeiros meses do ano foi a compra das NTN-Bs, principalmente nos primeiros meses de 2014, quando os prêmios dos títulos bateram na casa dos 7%. Com isso, os resultados abaixo da meta do ano passado, foram revertidos na maioria dos casos, em que a rentabilidade ficou acima ou bem próxima da taxa atuarial.
Entre as entidades ouvidas pela Investidor Institucional, a que obteve a maior rentabilidade de janeiro a junho foi a Real Grandeza, que obteve uma expressiva valorização de 10% de seus ativos, contra uma meta de 7%. Na renda fixa a rentabilidade foi de 9,5%, beneficiada pela compra de R$ 450 milhões em NTN-Bs para 2050 no primeiro trimestre. “Não abrimos mão da estratégia de diversificação, mas o que aconteceu é que abriu uma janela de oportunidade naquele momento, com os juros a 7%, e não tivemos dúvida de formar um colchão para nosso plano”, afirma Eduardo Garcia, diretor de investimentos da Real Grandeza.
Entretanto, além da renda fixa, o que fez a diferença para a Real Grandeza ter uma rentabilidade superior à média – de 6% no primeiro semestre de acordo com a Abrapp – foi o bom desempenho também na renda variável, que teve retorno próximo aos 10%. “Dos 20% que temos em renda variável, começamos no ano passado, com uma parte muito pequena, de 1%, a terceirizar a carteira de ações. Selecionamos dois gestores externos que performaram muito bem, com resultado superior a 14%”, diz Garcia.
As gestoras selecionadas foram a Quest Investimentos e a Gap Asset Management, e a estratégia escolhida foi a de índice ativo. “Pela estratégia de índice ativo, o gestor parte de um benchmark [o IBrx], mas tem liberdade para correr um pouco mais de risco”, explica Patricia Queiroz, gerente de análise da Real Grandeza. Até o final do ano, a intenção da fundação é contratar mais dois gestores que agreguem a estratégia de valor para sua renda variável.
Além do bom resultado com a terceirização, a gestão interna de renda variável da Real Gradeza também conseguiu um retorno importante no primeiro semestre, de 9,8%. As apostas ficaram concentradas no setor financeiro, “mais resiliente à atividade”; no setor de serviços, com empresas cujas receitas tenham correlação mais alta com a inflação; e na educação, devido aos estímulos governamentais ao segmento.
Descorrelação – Na Fundação CEEE, a meta atuarial, de 6,6% (INPC mais 5,5%) também foi alcançada no primeiro semestre, com uma rentabilidade de 6,88%, puxada pela renda fixa da casa, que avançou 7,99%, e com a renda variável contendo um aumento maior, ao subir apenas 1,29%. O caso da Fundação CEEE se assemelha com grande parte das fundações que, ao descorrelacionar sua renda variável dos índices, não conseguiu um retorno que superasse o beta dos índices. “Apostamos em papéis mais defensivos, o Ibovespa subiu e não acompanhamos a alta por estar descorrelacionado”, afirma Valdomiro Santana, gerente de investimentos da entidade previdenciária.
Apesar do primeiro semestre ter beneficiado mais os fundos passivos, o movimento está muito mais relacionado às pesquisas eleitorais e especulações dos agentes de mercado do que a fundamentos econômicos. Até mesmo por isso, para o 2º semestre, a Fundação CEEE está em processo para zerar dois fundos passivos terceirizados, e alocar em três fundos externos de gestão mais ativa, com o foco nas estratégias de small caps, dividendos e pipe. “A ideia não é alocar mais nesse momento, vamos fazer apenas um giro, vamos tirar dos dois passivos e abrir o mesmo volume em três gestores”, explica Santana. Cada fundo deve receber aportes de aproximadamente R$ 50 milhões. Hoje a renda variável da casa, que responde por 22,5% de um patrimônio total de R$ 5,1 bilhões. A carteira conta com 73% de gestão interna, que segue estratégias passivas, e 27%, de gestão terceirizada. A ideia, para o longo prazo é que os percentuais das gestões interna e externa sejam iguais.
Espera – Para o segundo semestre, no caso da renda fixa, a ordem é ficar em compasso de espera, uma vez que os prêmios diminuíram, e aguardar os próximos passos do Federal Reserve (Banco Central dos EUA). O trauma causado pelo BC americano no ano passado, ao sinalizar uma possível elevação dos juros, ainda se faz bastante presente dentro das fundações.
Após a janela de entrada na renda fixa nos primeiros meses do ano, a Fundação CEEE não foge à regra e, assim como muitos de seus pares, segue à espera de alguma sinalização do Fed para aproveitar uma possível nova abertura das taxas. “A gente está esperando, na hipótese de os juros abrirem um pouco mais. Além disso, esperamos um pouco mais de volatilidade à frente”, diz Santana.
Jorge Simino, da Funcesp, ainda tem bem fresco na memória os efeitos causados pelo Fed, e também adota uma postura de cautela para os próximos meses. “Se quiser mensurar o potencial de alteração nos preços dos ativos financeiros por conta do cenário externo, é só voltar para junho de 2013 e ver o que aconteceu, o treasure de 10 anos saiu de 1,60% para 3%, causou um estrago planetário”, recorda Simino. ”Tem de ser humilde e ficar numa posição de observação, ter uma atuação parcimoniosa”, diz o diretor.
Estagnação – Por conta do elevado prêmio entregue pelas NTN-Bs no primeiro semestre, e a perspectiva de que ele volte a subir no curto/médio prazo, um fenômeno observado pelos dirigentes dos fundos de pensão no período foi uma diminuição na oferta de produtos mais estruturados. “A estratégia é ficar mais líquido nesse momento, deixar dinheiro em caixa para possíveis oportunidades nos títulos públicos”, comenta Santana, da Fundação CEEE. “Estamos um pouco receosos com os FIPs no momento, com taxas tão altas na renda fixa, precisamos de prêmios muito mais elevados do que o mercado está fomentando hoje”.
Na SarahPrev, Juliano Sartório, diretor financeiro, também notou que a busca por novos produtos se tornou mais complexa nos últimos meses. “Estou sentindo meio devagar a oferta de novos instrumentos, é mais do mesmo, pouca coisa nova. Particularmente eu penso que os resultados macroeconômicos que o país tem apresentado representaram um balde de água fria, e projetos que dependem do crescimento da atividade acabam sendo frustrados”, fala Sartório. “Tem título soberano pagando prêmio que bate tranquilamente a meta, pra que vou sair pra ativos que geram mais risco?”.
Novos gestores – A renda variável da SarahPrev rendeu 1,7% no primeiro semestre, e a rentabilidade consolidada, de 4,8%, mais uma vez foi beneficada pela renda fixa, que teve ganhos de 7,2%. A gestão terceirizada da casa, iniciada em 2012, e que fica à cargo da Bram, BNP Paribas, HSBC e Western, também deve passar por mudanças nos próximos meses. Hoje a gestão terceirizada, explica o diretor financeiro, é mais passiva, atrelada ao IBrX. “Pode ser que um ou dois dos gestores sejam dispensados, talvez vamos zerar a carteira. O resultado da estratégia não foi muito próximo ao que tínhamos como expectativa, então vamos fazer um ajuste. Se o gestor não conseguiu melhorar a performance, então vai ser penalizado”, afirma Sartório.