Recebíveis no forno | Assets como ABN AMRO, Deutsche, Itaú e Máxi...

Edição 117

A Assets e instituições financeiras estão se preparando para viabilizar a colocação de fundos de recebíveis no mercado, uma nova carteira autorizada pelo Conselho Monetário Nacional em 2001 e regulamentada pela Comissão de Valores Mobiliários em dezembro. Pelas normas, estão aptos a apostar nesses fundos apenas investidores qualificados, como fundos de pensão e fundos de investimentos, seguradoras ou pessoas físicas com patrimônio acima de R$ 500 mil. Estes fundos de recebíveis serão oferecidos em cotas lastreados em créditos ou direitos creditórios de diferentes tipos e origens.
Esses créditos ou direitos creditórios que formarão os ativos dos fundos podem vir de diferentes áreas, comprados com deságio aos seus detentores originais (créditos imobiliários, aluguéis, prestações de compra do varejo, financiamento de carros etc). Ao comprá-los antecipando uma receita aos seus detentores originais, o fundo carrega-os até o vencimento para receber pelo seu valor de face. A rentabilidade do fundo vem dessa diferença, representada pelo deságio entre o valor de compra e de cobrança do recebível. Uma das maiores dificuldades na sua montagem reside exatamente na avaliação do risco dos créditos e no deságio da compra, além de várias questões jurídicas relacionadas à quitação desses créditos.
Essas dificuldades na estruturação do produto justificam a demora das instituições em lançá-los. Mas algumas assets, como ABN AMRO, Deutsche, Itaú e Máxima, entre outras, já se preparam para colocar os seus fundos de recebíveis no mercado, o que deve ocorrer ainda neste semestre. “Este é um produto em que a confiança na capacidade da avaliação de risco de crédito da asset vai ser primordial para motivar o investidor”, afirma o diretor do ABN AMRO Asset Management, Fernando Meibak. Os fundos de recebíveis do ABN, em princípio bastante conservadores, devem contar com distintos níveis de risco. “Estamos animados e trabalhando muito”, conta Meibak.
No Itaú, a discussão sobre a viabilização de um fundo nesses moldes para institucionais começou há alguns meses e a estréia deve se dar em junho. Para o diretor da área de institucionais do banco, Alexandre Zákia, trata-se de um produto extremamente complexo na sua estruturação e operacionalização, que envolve forte expertise em gerenciamento de risco de crédito. “Mas, feito com sucesso, pode ser um diferencial muito grande na carteira dos nossos clientes”, diz. “O retorno, por menor que seja, será sempre superior à de um fundo DI”.

Crédito direto – Outra asset que prepara seu fundo de recebíveis para junho é a Máxima, uma empresa dos bancos Multistock e Indusval. O fundo terá recebíveis originados pela concessão de crédito direto ao consumidor pela própria Máxima Financeira, e deve ter rating fornecido pela Moody’s. Segundo Patrícia Bentes, que assessora a Máxima Finanças Corporativas na montagem do fundo, o fundo terá seus recebíveis renovados na carteira à medida em que forem sendo pagos pelo cliente.
O Deutsche Bank se prepara para lançar um fundo com recebíveis da área imobiliária. A idéia é comprar recebíveis imobiliários das fundações, como aluguéis, antecipando a elas recursos que do contrário receberiam ao longo de anos. Segundo o diretor de custódia do banco, Ricardo Nascimento, as primeiras operações devem envolver quantias entre R$ 50 milhões e R$ 100 milhões.
De acordo com Nascimento, o fundo deverá contar com recebíveis imobiliários de várias fundações, como forma de diluir o risco. “O trabalho de reengenharia de um fundo desse tipo é bastante complexo, exigindo estudo da carteira originadora dos recebíveis, da qualidade dos recebíveis e do rating”, diz ele.
Ainda sem data de lançamento ou formato de operação definida, o BankBoston também planeja colocar um fundo de recebíveis no mercado. “Este é o tipo de operações que estamos vislumbrando”, adianta o diretor de produtos e vendas de mercado de capitais do BankBoston, Alberto Gaidys. “Temos conversado com fundações para que se tornem parceiras em determinadas operações.”

Custodiante – Outra disposta a explorar o filão dos recebíveis é a Timbre, empresa constituída pela Andima há 1,5 ano, e com know how na área de custódia e liquidação. Como prestadora de serviços para originadores de crédito (instituições, escola, vendedores de crédito que contratualmente são excedentes), ela passará a promover a custódia desses fundos de recebíveis. “Recebível é um produto muito genérico, que pode ir desde um financiamento de automóvel até um carnê de pagamento de escola. E é complexo regulamentar um ativo dessa forma”, analisa o técnico Carlos Neto, da Andima.

Está nos planos
Algumas fundações já vêm estudando a adoção dos fundos de recebíveis como alternativa de realocação de investimentos. Caso da Metrus, dos metroviários de São Paulo, que pretende incluir a modalidade na política de investimentos da fundação a ser definida a partir de maio. Na opinião do diretor-presidente Fábio Mazzeo, é um produto que vai abrir um espaço bastante interessante para o institucional, devido a sua rentabilidade e liquidez. “Obviamente que tem que ter rating do recebível e garantia de um agente confiável com relação a recebíveis, mas é um produto que cai como uma luva para os fundos de pensão à medida que permite maior liquidez com fluxo de caixa garantido”, diz.