Edição 356
A crise financeira da Americanas, que entrou em recuperação judicial no início do ano com dívidas em torno de R$ 40 bilhões após tornar pública inconsistências contábeis no balanço, teve um impacto amplo entre diversas fundações que tinham investimentos na companhia via ações, títulos de dívida ou por meio de fundos. Segundo levantamento da Previc (Superintendência Nacional de Previdência Complementar), cerca de 120 fundos de pensão tinham algum tipo de exposição a Americanas e, consequentemente, acabaram sendo impactados pela delicada situação financeira da empresa.
No entanto, embora a varejista estivesse na carteira de uma série de fundações, o tamanho da exposição em cada uma delas era relativamente pequeno. O levantamento da Previc indica que as perdas estimadas como reflexo da forte desvalorização dos papéis da Americanas somaram aproximadamente R$ 956 milhões, ou cerca de 0,08% das reservas acumuladas das EFPCs.
“Houve uma quantidade grande de fundos de pensão que fizeram investimentos [na Americanas], mas foi algo pulverizado. São investimentos residuais nas carteiras das entidades”, afirma Jarbas Antonio de Biagi, presidente da Abrapp. Na maioria, o investimento não chegava a 1%, acrescenta.
Segundo o dirigente, até que as inconsistências contábeis da varejista viessem à tona, ela era considerada um investimento de boa qualidade pelos agentes de mercado. Isso fazia com que as ações e os títulos de dívida fossem alvo de disputa entre os investidores, o que resultou na alocação relativamente baixa nos portfólios, diz Biagi.
Entre as fundações com exposição à varejista, a Petros informou que, em janeiro, detinha uma alocação de maneira indireta por meio de ETFs (fundos de índice) que replicavam a carteira do Ibovespa e do índice de ‘small caps’. O peso da empresa era de somente 0,01% do patrimônio da EFPC à época. “Com a exclusão da empresa desses índices, essa exposição indireta deixou de existir”, disse a EFPC da Petrobras por meio de nota enviada à Investidor Institucional.
No caso da gestão terceirizada, as ações e debêntures da companhia representavam também apenas 0,01% dos investimentos da Petros em janeiro, percentual que foi reduzido para menos de 0,001% desde então. “A baixa representatividade desses ativos na nossa carteira tornou irrelevante o impacto sobre o desempenho dos nossos investimentos”, diz a nota da Petros.
A presidente do Metrus, fundação dos metroviários de São Paulo, Alexandra Leonello Granado, afirma que quando surgiram os problemas envolvendo a Americanas, a maior exposição à empresa era no Plano Metrus Família, de 0,35%. No Plano 1, o percentual era de 0,10%, e de 0,06% no Plano II. A exposição se dava por meio de ações e debêntures que compunham as carteiras de fundos de investimentos, sem nenhum ativo na carteira própria da fundação. O impacto específico do ativo sobre a rentabilidade dos planos foi da ordem de -0,12% no Plano I, de -0,13% no Plano II e de -0,35% no Plano Metrus Família.
“É importante ressaltar que a diversificação das carteiras foi capaz de absorver o impacto referente à desvalorização do ativo sem afetar a liquidez e o equilíbrio dos planos”, afirma Alexandra, acrescentando que, ao final de abril, a exposição na Americanas era de 0,03% no Plano I e de 0,01% no Plano II, sem alocação restante no Metrus Família.
A presidente da EFPC do Metrô afirma que, tendo em vista que as posições eram detidas exclusivamente por meio de fundos de investimentos, as providências para buscar reparações estão sendo tomadas pelos próprios gestores dos fundos. “Os esforços empreendidos pelo Metrus para diversificar as carteiras dos planos continuam sendo a melhor maneira de reduzir os riscos das suas aplicações, proteger o patrimônio existente e buscar rentabilidade no médio e longo prazo”, diz a dirigente.
Vivest, Postalis e Fapes também estão entre aquelas que também tinham alguma exposição residual a Americanas no início do ano, seja de maneira direta ou indireta. Logo após a notícia sobre as inconsistências contábeis da varejista se tornarem públicas, a Vivest informou que tinha cerca de R$ 1,7 milhão em ações da companhia, correspondente a 0,005% do patrimônio total.
“Apesar de não representarem qualquer risco à sustentabilidade dos seus planos de benefícios, a Vivest decidiu vender as ações das Americanas no dia seguinte à publicação do Fato Relevante [sobre as inconsistências contábeis, em 11 de janeiro], sendo que, nos dias subsequentes, as ações da companhia caíram 65%”, assinalou a Vivest em comunicado aos participantes.
Biagi, da Abrapp, afirma que, frente ao tamanho da indústria de previdência complementar fechada, que soma cerca de R$ 1,18 trilhão de patrimônio, os prejuízos relacionados a Americanas não chegam a ser um ponto de grande preocupação. “O que preocupa nesse caso é que não foi simplesmente um investimento que não deu certo por circunstâncias de mercado ou devido à conjuntura da economia. É um investimento que teve fraude, o que torna o prejuízo mais questionável.”
Para tratar das perdas relacionadas à varejista, no último dia 19 de maio, a Abrapp se reuniu com mais de cem fundações para discutir as medidas já adotadas e caminhos a seguir para buscar a reparação das perdas sofridas. Biagi diz que a Abrapp atuou como uma espécie de facilitadora, de modo a uniformizar procedimentos e unir as fundações em torno de um objetivo comum.
O encontro da Abrapp, que teve a participação de representantes de EFPCs como Previ, Fundação Itaú Unibanco e Fundação Copel, resultou na criação de uma comissão que se reunirá periodicamente para discutir as melhores estratégias para recuperação dos prejuízos. O dirigente diz que medidas judiciais contra a Americanas não é uma possibilidade que está descartada, mas acrescenta que, até o momento, ainda não há uma definição a respeito das medidas que serão tomadas.