Previdência complementar está encolhendo | Ações pretendem atrair...

Antonio Fernando GazzoniJosé Maria RabeloDevanir SilvaEdição 253

 

Quando uma pergunta não tem uma resposta simples, é natural que as soluções sugeridas caminhem pelas mais diversas vertentes, e é justamente esse o caso da questão de como fomentar a indústria da previdência complementar fechada do país.

“O que a gente tem é um crescimento menor do que desejávamos, menor do que as possibilidades”, admite José Maria Rabelo, diretor-superintendente da Previc. Em 2007, de acordo com os dados da autarquia, eram 372 os fundos de pensão no país, número que caiu para 324 em março último.
Uma pesquisa da Gama Consultores Associados que conta com a participação de fundações que representam 83% do patrimônio de todas as Entidades Fechadas de Previdência Complementar (EFPC) do Brasil mostra que 92% das fundações desenvolvem estratégias para tentar aumentar a adesão de seus funcionários.
As principais estratégias utilizadas são educação previdenciária (62,61%), campanhas de adesão (61,74%), e capacitação dos profissionais da área de RH (38,26%).
A educação financeira e previdenciária dos empregados, e das empresas, é um dos pontos primordiais, e dos mais recorrentes entre as respostas, mas conhecer melhor a demanda dos funcionários, e simplificar o arcabouço regulatório, aparecem entre as medidas que podem ser adotadas para fazer o sistema deslanchar.
O mesmo estudo, entretanto, aponta que apenas 25% dessas fundações realizam pesquisas para efetivamente identificar as razões que ajudem a explicar a não adesão. “Ainda é baixo o nível das pesquisas sobre os reais motivos para a não aderência”, nota Antônio Fernando Gazzoni, presidente da Gama.
Mesmo que o levantamento da consultoria tenha apontado para um nível de adesão considerado bom, na casa dos 73%, Gazzoni entende que ainda há espaço a ser preenchido. “O nível de adesão é satisfatório, está em patamar de primeiro mundo, mas pode ser ampliado. Podemos bater um teto de 90%, mas acima disso acho muito difícil, até por conta das experiências internacionais”, pondera o especialista.
Para que esse intervalo de quase 20% seja alcançado, é preciso criar uma cultura previdenciária entre os mais jovens, que tradicionalmente não se preocupam em saber como será sua vida financeira, e consequentemente pessoal, daqui 30 ou 40 anos.
“Precisamos convencer o jovem de que um dia ele vai ficar velho, e que ele tem que preparar a aposentadoria. Essa é nossa grande luta. No momento em que isso estiver resolvido, o resto está resolvido”, fala José de Souza Mendonça, diretor-presidente da Abrapp.
Segundo dados da associação das entidades fechadas, hoje há cerca de 600 mil funcionários que trabalham em empresas que oferecem o benefício da previdência complementar, mas que optam por não aderir aos planos.
“Falta educação. O jovem acha que nunca vai envelhecer”, alerta Mendonça. Além de uma maior consciência previdenciária, as empresas privadas também podem elevar o nível de adesão de seus funcionários ao adotar práticas mais recorrentes entre seus pares públicos – o levantamento da Gama mostra que, entre as companhias privadas, o nível de adesão é de 64%, que salta para 88% quando vamos para as públicas.
Segundo Gazzoni, as patrocinadoras públicas têm mais contato telefônico com os possíveis candidatos do que seus pares privados, e também fazem maior uso das mídias sociais (Facebook, Twitter), em um patamar quase duas vezes superior.

Incentivo – Do lado das empresas, a Abrapp já identificou cerca de 15 mil companhias, que tem um faturamento anual entre R$ 100 milhões e R$ 400 milhões, que poderiam oferecer fundos de pensão a seus empregados, mas não o fazem.
“Em qualquer empresário você vê uma dificuldade natural de se manter competitivo no mercado. Fundos não deixam de ser um instrumento de recursos humanos valoroso, mas tem que dar estrutura simplificada, custos compatíveis, olhar diferente para os diferentes”, nota Devanir Silva, superintendente-geral da Abrapp.
“A empresa vai ter vontade a partir do momento que começar a perder funcionários, ou não conseguir atrair funcionários porque não está oferecendo a previdência complementar fechada”, entende Lauro Araújo, consultor de fundos de pensão.