Preparando a diversificação | Entidades que fizeram a lição de ca...

PEZZUTTO: mudança no benchmark de renda variável

Edição 238

Com o vencimento dos títulos públicos que os fundos de pensão têm em carteira e a queda das taxas de juros, as entidades fechadas de previdência complementar começam a buscar alternativas para realocar seus recursos. Apesar de ser vista como uma alternativa, a Bolsa por enquanto não é o primeiro destino das aplicações por conta do momento turbulento que vem atravessando. Entre as preferências das fundações na análise de investimento estão o segmento de estruturados e o crédito privado.

De acordo com dados da Superintendência Nacional de Previdência Complementar (Previc), as entidades encerraram 2011 com R$ 241,93 bilhões em títulos públicos em carteira, o que corresponde a 42,2% do total de investimentos das fundações. As NTN-Bs, corrigidas pelo IPCA, compõem a maior parte desse portfólio, com R$ 155,69 bilhões (ou 64,4%) em 31 de dezembro do ano passado.

Praticamente um quarto do total de títulos públicos que os fundos de pensão têm em carteira deve vencer no curto prazo, sendo que no médio prazo mais da metade já terá vencido. Segundo os dados do Relatório de Atividades 2011 da Previc, quase R$ 62 bilhões em títulos públicos investidos pelas fundações vencem até o fim de 2014, enquanto R$ 71,2 bilhões têm prazo de três a dez anos (contados a partir de 31 de dezembro de 2011).

Lição de casa – Já prevendo a tendência de queda da taxa de juros no Brasil, muitas entidades fechadas de previdência complementar se prepararam para a nova realidade do País e alongaram suas carteiras quando os prêmios pagos pelos títulos públicos federais ainda garantiam o atingimento das metas atuariais. Esse é o caso, por exemplo, da Visão Prev – Sociedade Privada de Previdência Complementar, que tem patrimônio da ordem de R$ 5 bilhões e administra 20 planos, dos quais cinco são da modalidade de Benefício Definido (BD) e estão fechados. Segundo Marcelo Pezzutto, vice-presidente de investimento, planejamento e controles da entidade, os planos BD respondem, grosso modo, por 10% do patrimônio da entidade, enquanto os de Contribuição Definida (CD) correspondem a 90%.

Apesar de estudos de ALM (Asset Liability Management) serem mais utilizados para planos BD, a Visão Prev aplicou a metodologia para promover o casamento entre ativos e passivos nos planos CD. “Utilizamos algumas premissas, inclusive com base na série histórica dos planos, e alongamos o nosso ativo para fazer um casamento quase perfeito com o passivo. Vimos, por exemplo, como os participantes costumam preferir receber sua renda e que percentual realiza o resgate da sua conta, e a partir daí fizemos algumas projeções”, conta o vice-presidente.

O estudo foi feito há mais de um ano, e a Visão Prev montou uma carteira de NTN-Bs de longo prazo. “Na realidade, como nós fizemos um estudo de ALM para casar o ativo com o passivo, nosso objetivo é carregar esses títulos e levá-los até o vencimento, de acordo com o vencimento do passivo”, informa Pezzuto.

Quem também fez um estudo de ALM, nesse caso há cerca de dez anos, foi a Fundação Sistel de Seguridade Social. Carlos Alberto Cardoso Moreira, diretor de investimentos e finanças da entidade, revela que o estudo feito em 2002 para o maior plano da fundação, um BD de R$ 11,5 bilhões, utilizou premissas ultraconservadoras para a época, considerando uma taxa de juro real de 3% para o reinvestimento. “Achávamos que seria difícil a taxa atingir um nível tão baixo, mas hoje vemos que chegou perto. A adoção dessa premissa se mostrou bastante positiva nos dias de hoje e permitiu a estruturação de uma carteira que atualmente nos deixa bem posicionados”, observa o diretor. Ele acrescenta que em 2008 e, principalmente, em 2009, com a abertura das taxas, a Sistel aproveitou para reforçar o alongamento de sua carteira.

Moreira informa que cerca de 3% do patrimônio do plano BD está em títulos públicos com vencimento nos próximos dois anos e meio. “São aproximadamente R$ 360 milhões”, detalha o diretor, acrescentando que quase 80% dos títulos públicos detidos pela fundação têm vencimento depois de 2020. Ele diz que o volume com vencimento no curto prazo é relativamente pequeno e que os juros dos cupons dos títulos que a fundação tem em carteira dão a liquidez necessária para o pagamento dos compromissos do plano BD. No caso dos sete planos CD e de Contribuição Variável (CV) administrados pela Sistel, que somam R$ 3 bilhões em recursos, a média dos vencimentos equivale a 5,5% do patrimônio. Na média dos planos CD e CV, a alocação é de 88% em renda fixa (sendo 5% disso em crédito privado), entre 10% e 11% em renda variável e 1,5% em empréstimos aos participantes.

Bolsa – Apesar da situação relativamente confortável, Moreira diz não ignorar a preocupação com a queda da taxa de juros e o consequente aumento da dificuldade para rentabilizar o patrimônio dos fundos de pensão. “Infelizmente, não tem milagre. Teremos de absorver mais risco”, constata o diretor. Tanto é que, nos planos CV, a Sistel já fez incursões no crédito privado e elevou a exposição a Bolsa para a média atual de 10%.

A intenção é aumentar as alocações em renda variável, mas primeiro é preciso ter sinais mais claros de para onde o mercado acionário caminha. “Mais para frente, devemos elevar o investimento em ações. Mas é preciso que haja uma base mais consolidada do cenário e de como o Brasil está inserido nessa crise internacional”, pondera Moreira.

Vale lembrar que no início deste ano a Sistel selecionou a Bram – Bradesco Asset Management para gerir um mandato IBrX-50 Ativo de aproximadamente R$ 80 milhões. No fim do ano passado, a fundação avaliou seus gestores de renda variável e decidiu que era hora de substituir um deles, cujo nome não foi revelado por Moreira.

Quem também promoveu mudanças recentemente na renda variável foi a Visão Prev – neste caso, no referencial de mercado usado para medir a performance da carteira. Marcelo Pezzutto conta que até o ano passado a fundação trabalhava com 100% de IBrX-100 como benchmark para seus investimentos em ações. “Desde o começo deste ano nós passamos a trabalhar com 50% de IBrX-100 e 45% de Idiv, o índice de dividendos”, revela ele, completando que os 5% restantes estão atrelados ao índice de small caps. O vice-presidente argumenta que as ações de empresas que pagam bons dividendos têm uma volatilidade menor no mercado – não sobem tanto quando há boom na Bolsa, mas também não têm uma queda tão acentuada quando o mercado despenca. “Por isso, colocamos quase metade da nossa carteira em ações que estão no Idiv. Já as small caps são empresas com um potencial de crescimento que nós queremos aproveitar”, explica.

Pezzutto conta que a parcela de Idiv no benchmark da Visão Prev para renda variável pode aumentar um pouco. “Essa elevação está em estudo, mas não deve acontecer este ano. Talvez isso ocorra em 2013”, sinaliza.

O vice-presidente diz que a ideia da entidade é ser ainda mais conservadora nas operações de renda variável. “Como uma entidade de previdência que tem que olhar para o longo prazo, o fato de quase metade do nosso referencial de mercado ser em dividendos é algo prudente. Impacto do comportamento da Bolsa sempre tem, é inevitável, mas o Idiv, apesar de estar em terreno negativo, tem sofrido menos que o Ibovespa e que o IBrX-100. O reflexo é menor”, ressalta Pezzutto.

Alternativas – Também está em estudo na Visão Prev a estreia da entidade no segmento de investimentos estruturados. Hoje, o patrimônio da fundação está alocado 93% em renda fixa, 6,5% em renda variável e 0,5% em empréstimos a participantes.

O vice-presidente afirma que o fundo de pensão tem em carteira alguns títulos públicos curtos, que vencem em 2013, 2014 e 2016, e está em busca de oportunidades no mercado para reaplicação dos recursos. “Alguns exemplos de prospecção são fundos florestais, fundos de investimento imobiliário e CRIs [Certificados de Recebíveis Imobiliários]. Começamos alguns estudos com objetivo de diversificação porque, de fato, com o vencimento desses títulos no curto prazo, nós vamos ter que buscar outras formas de aplicação”, admite Pezzuto.

A Sistel também está ampliando o leque de classes de ativos analisadas para possivelmente receber investimentos. Um exemplo citado por Carlos Alberto Cardoso Moreira é o de Fundos de Investimento em Direitos Creditórios (Fidcs) lastreados em recebíveis imobiliários.

“Estamos olhando alguns produtos estruturados para provavelmente fazer alocação. É preciso avaliar bem qual o investimento adequado para o nosso perfil. É mais difícil nós entrarmos no segmento de private equity, por exemplo, porque somos um fundo maduro”, justifica o diretor.

Fundos de Investimento em Participações (FIPs), fundos imobiliários e multimercados serão o destino de recursos que o Economus – Instituto de Seguridade Social levantará a partir da venda de parte dos títulos públicos federais curtos detidos pela entidade.

Segundo Paulo Julião, diretor financeiro da fundação, o Economus possui investimentos em títulos públicos NTN-B e NTN-C, com vencimentos entre 2017 e 2045, que representam cerca de 50% do total de investimentos da entidade, no montante de R$ 2,115 bilhões. A maior parte desses títulos é composta por NTN-Cs, com vencimento em 2017, 2021 e 2031, classificados na categoria de títulos mantidos até o vencimento e cujo cupom médio de aquisição é de IGP-M + 10,22% ao ano.

“Esses títulos fazem parte do ‘resultado a realizar’, previsto no já revogado artigo 5º da Resolução CGPC nº 04, que consiste em fazer o registro contábil da diferença auferida entre o valor presente do título, calculado considerando as características de aquisição, e o seu presente, considerando a taxa de desconto do plano de benefícios”, informa Julião. Ele acrescenta que pela condição peculiar dessas NTN-Cs, que foi devidamente autorizada pela então Secretaria de Previdência Complementar (SPC), é mais provável que esses títulos sejam levados até os vencimentos. “Contudo, devido ao fechamento das taxas de mercado, não podemos descartar a hipótese de migrá-los da categoria de títulos mantidos até o vencimento para a categoria de títulos marcados a mercado, ampliando o excelente resultado dessa carteira e possibilitando o reinvestimento antecipado, com melhores condições”, ressalva o diretor.

Julião completa que os títulos mais curtos, com vencimento em 2017, foram transferidos para a categoria de títulos marcados a mercado no final de 2011, o que propiciou um excelente resultado para o Economus em 2012, até o fechamento do mês de maio. “Ainda em 2012, pretendemos vender parte desses títulos para compor o fluxo de caixa necessário para investimentos em fundos estruturados (FIP, FII e FIM), com os quais o Economus já possui compromisso de investimentos ou que estão em fase de análise para aplicação”, sinaliza.