Edição 120
Apesar da instabilidade da economia e da cobrança de Imposto de Renda sobre a área de previdência privada, definida pela Resolução 2.222, as empresas que atuam com planos abertos junto ao segmento corporate estão tendo o que comemorar. O motivo é simples: essas empresas, depois da corrida do final do ano passado para abrir novos planos para clientes corporativos interessados em usufruir das vantagens da 2.222, que encerravam-se em 31 de dezembro, finalmente estão colhendo os frutos e faturando alto.
Muitos clientes corporativos optaram por contratar planos no final do ano passado com aportes simbólicos, apenas para garantir a imunidade tributária para os aportes que fariam em nome dos participantes registrados até 31 de dezembro do ano passado. Para os novos participantes, registrados a partir de 1º de janeiro deste ano, as contribuições das empresas seriam tributadas.
Com isso, as corporações que contrataram planos no ano passado conseguiram fugir da nova carga tributária. Em alguns casos, as contribuições iniciais foram de apenas R$ 1, daí o surgimento da expressão “plano de um real”. Depois de garantir a isenção, as empresas realizaram com mais calma as campanhas de adesão e iniciaram de fato as contribuições para os novos planos. Algumas já estão em processo de divulgação e adesão e outras ainda estão definindo os prazos para começar a contribuir e recolher os aportes dos funcionários, o que deve ser realizado nos próximos meses.
“Houve uma forte corrida no final do ano passado, mas os novos planos começaram a funcionar de fato somente no primeiro semestre de 2002”, explica Sérgio Angelim, diretor de previdência da Real Seguros e Previdência. Vindo da área de asset do ABN AMRO, o banco controlador da Real Seguros e Previdência, Angelim tem a missão de cuidar do contato com as empresas e os fundos de pensão. Ele montou uma estrutura com 6 gerentes regionais para atender o nicho de corporate e fundos de pensão e pretende aumentar ainda mais a equipe até o final do ano. “Hoje administramos 13 planos empresariais e queremos fechar o ano com, no mínimo, o dobro disso”, revela Angelim.
A empresa começou a atuar no segmento corporate no início do ano passado, mas foi apenas no final de 2001 que os primeiros contratos foram assinados. Ajudada pela Resolução 2.222, a Real foi contratada por doze empresas que aceleraram seus projetos de criar planos de previdência e realizaram aportes simbólicos para seus funcionários, das quais oito já iniciaram o processo de adesão junto a eles. Outras quatro ainda não definiram o início do recolhimento das contribuições.
Uma das empresas que contrataram a Real é a Amil, líder no mercado de medicina de grupo. Também em função da nova regra tributária, a Amil acelerou o projeto que culminou com a criação de um novo plano de previdência oferecido para seus mais de 6 mil funcionários. O contrato com a Real foi assinado em dezembro do ano passado, mas o seu plano só começou a receber as contribuições normais no início deste ano.
Anteriormente a Amil já possuía um plano de previdência, que era administrado pela própria seguradora do grupo. “Decidimos mudar a forma de administração de nosso plano, pois nossa expertise é medicina de grupo e não previdência”, explica Aloma Sueli Oliveira, gerente geral da Amil Seguradora. O plano antigo da Amil já contava com uma reserva de R$ 20 milhões, que está sendo transferida para a Real. A expectativa é que o plano novo receba contribuições da ordem de R$ 1,5 milhão anuais. Devido à grande quantidade de funcionários e ao volume de contribuições, a Amil contratou um PGBL com fundo exclusivo junto à Real Previdência, cuja gestão de recursos será feita pelo ABN AMRO.
Salto – Outra que atua forte no mercado de planos abertos corporativos é a Cigna Previdência, que confirma os bons resultados do primeiro semestre. A Cigna foi contratada por 15 empresas no final do ano passado, mas só começou a receber os aportes normais a partir do início deste ano. Isso representou um salto de mais de 15% no número de clientes empresariais, que pulou de 90 para 105, revela o presidente da empresa, Eduardo Bom Ângelo. “Muitos clientes que estavam estudando a criação de planos realizaram a contratação antecipada de nossos serviços, para fugir da tributação”, confirma Bom Ângelo. Os planos corporate administrados pela empresa totalizam reservas de R$ 90 milhões, com cerca de 8 mil participantes.
A Santher, uma das maiores fabricantes nacionais de papéis de uso descartável (papel higiênico, absorventes, guardanapos, toalhas e lenços de papel), contratou a Cigna para administrar um novo plano de previdência para seus 1.300 funcionários. “Estudávamos o projeto desde 1997 e os acionistas entenderam que o final do ano passado era o momento certo para iniciar o plano de previdência, devido às mudanças nas regras tributárias”, revela Miguel Francisco Feres, gerente corporativo de RH da Santher. O executivo explica que se não fosse o surgimento da nova legislação, os estudos teriam se prolongado pelo menos por mais um semestre.
Em dezembro do ano passado foi assinado o contrato com a Cigna e, para inaugurar o plano, foi depositada uma contribuição simbólica de R$ 50 por funcionário. Com a isenção tributária garantida, a empresa teve mais tempo de realizar a campanha de divulgação e adesão no primeiro trimestre deste ano e as primeiras contribuições normais começaram a ser realizadas a partir de abril passado.
A expectativa é que o total de contribuições represente um ingresso de cerca de R$ 340 mil anuais. “Uma das vantagens da Cigna em relação aos outros concorrentes é a possibilidade de escolher os gestores dos fundos”, diz Feres, da Santher. Outro motivo apontado pelo executivo para a contratação da seguradora é a taxa de administração, uma das mais competitivas do mercado.
Opções – O plano da Santher é do tipo PGBL e o participante tem a opção de escolher o tipo de fundo de investimento no qual quer aplicar suas reservas. A Cigna oferece nove opções de fundos, do mais conservador ao mais agressivo, entre 4 gestores diferentes – BMG, Itaú LAM, SSB Citi e BankBoston.
A adesão ao novo plano foi de praticamente 100%. Além dos 114 funcionários de alta gerência e diretoria elegíveis para o PGBL, que recebem acima de R$ 2.500 mensais e para os quais a empresa contribui na mesma proporção do seu aporte (até um máximo de 5% do salário), também ao restante do quadro funcional é oferecido um plano com benefício mínimo.
Avaya troca fundos fechados por PGBLs
A corrida para a contratação de planos de previdência aberta antes da virada para 2002 também atingiu algumas empresas que já possuíam fundo fechado. A Avaya, provedora de redes de voz e dados, encerrou seu plano que era administrado por entidade fechada e abriu um PGBL com a Cigna. O projeto foi implementado em prazo recorde: um mês e meio. “Para fugir da tributação resolvemos acelerar nossa mudança de plano. Engatamos da primeira para a quinta marcha”, revela Thiago Licias de Oliveira, consultor de RH da Avaya. O consultor explica que se não fosse a criação da nova regra tributária, o processo de mudança deveria durar mais de um ano.
A exemplo de outros planos criados no final do ano passado, o da Avaya nasceu com uma contribuição simbólica de R$ 50 por funcionário. No começo deste ano foi feita uma campanha de divulgação do plano junto aos empregados e, após o processo em que recebeu 80% de adesão, começaram os aportes normais em fevereiro. O pedido para a retirada de patrocínio do plano antigo e transferência de recursos para o PGBL já estão na Secretaria de Previdência Complementar, que ainda não aprovou a migração das reservas.
De acordo com Oliveira, os principais motivos para a migração do plano fechado para o aberto foram a necessidade de redução de custos e a vontade de modernizar o tipo de benefício oferecido. “Os custos de administração caíram cerca de 40% com a mudança para a previdência aberta”, diz.
Além disso, o novo PGBL abriu a possibilidade para o funcionário escolher o perfil de risco do fundo no qual serão aplicadas suas contribuições. São nove perfis de risco, administrados por quatro gestores diferentes. “A participação do empregado na escolha do perfil de risco do fundo faz com que ele preste mais atenção ao plano”, afirma o consultor de RH da Avaya.
Outra vantagem sobre o plano fechado é a sua flexibilidade e dinamismo. No PGBL da Avaya, por exemplo, o funcionário pode levar 100% das contribuições da empresa e as suas próprias depois de 5 anos de contribuição. No fundo fechado, apenas agora foram aprovadas as regras da portabilidade.
Como resultado da maior flexibidade do novo plano aberto, a adesão dos funcionários da Avaya subiu de 40% no plano fechado para 80% no aberto. Do total de 160 empregados da empresa, 130 participam atualmente do PGBL.
A Avaya contou com a consultoria da Mony (Mutual of New York) para realizar a transferência do plano. A escolha da Cigna foi motivada por dois fatores principais: as atraentes taxas de administração e o relacionamento que a Avaya já mantinha com a seguradora em alguns países. “Temos uma importante parceria com a Cigna no mercado internacional e queremos aprofundar nosso relacionamento no Brasil”, explica Oliveira.