Mais que o retrato das carteiras de investimentos e dos passivos atuariais dos fundos de pensão brasileiros, uma pesquisa da Abrapp (Associação Brasileira das Entidades Fechadas de Previdência Complementar) pretende apontar as principais tendências de mudança para os próximos anos. Em parceria com a Gama Consultores Associados e a distribuidora Itajubá, a enquete mapeou as carteiras de ativos de acordo a todos os segmentos da Resolução 3792, além de recolher informações sobre as perspectivas para as políticas de investimentos para o futuro.
“As entidades responderam não apenas como estão hoje alocados seus ativos entre os vários segmentos, mas também de que forma executam a administração dos mesmos, os estilos de gestão e os principais benchmarks, além de informações sobre o passivo”, diz Antônio Fernando Gazzoni, sócio-diretor da Gama Consultores Associados e um dos responsáveis pelo trabalho. A pesquisa foi elaborada com informações de mais de 100 fundos de pensão que somam patrimônio em conjunto de cerca de R$ 500 bilhões.
“Além do retrato atual, os fundos de pensão também responderam como pretendem investir seu patrimônio no futuro. Foi bastante interessante constatar uma nova perspectiva do sistema em face da nova realidade dos juros no Brasil”, diz Carlos Garcia, sócio-diretor da Itajubá e que também participou da coordenação do projeto. Ele acredita que os resultados prévios da pesquisa, que ainda estavam em fase final de tabulação quando a edição foi fechada, apontam para o tamanho e as tendências da mudança que as carteiras dos fundos de pensão estão passando atualmente e continuarão nos próximos anos. Os principais resultados serão apresentados no Congresso da Abrapp.
Intitulada Raio X do Sistema de Previdência Complementar, a pesquisa traz ainda a forma de alocação dos recursos com três opções: própria, terceirizada ou mista. Relaciona também a forma de gestão dos recursos com a modalidade dos planos de benefícios. Na questão da diversificação dos ativos, foram recolhidas informações sobre perspectivas de ampliação não apenas nos segmentos maiores de renda fixa e variável, mas também em investimentos estruturados, ativos no exterior e imóveis. “A proposta foi relacionar as novas tendências de gestão dos ativos com as estratégias previdenciárias, seja por modalidade de planos, ou na reorganização destes, seja em processos de cisão, fusão, incorporação e retirada de patrocínio”, diz Gazzoni.
Meta atuarial – A questão das mudanças nas taxas de desconto das metas atuariais foi um dos focos principais da pesquisa. “De acordo aos resultados, temos dados que mostram que a maioria dos fundos de pensão já trabalha com o balizamento da taxa de juros do plano em no máximo 5,5%. Esse valor já está no retrovisor das fundações”, afirma o sócio-diretor da Gama. Ele explica que já não há muitas resistências em cortar a taxa em 0,5 ponto percentual, salvo alguns planos e fundos de pensão que tenham problemas localizados.
“Acredito que haverá uma transição pacífica do sistema para reduzir a taxa de 6% para 5,5% de acordo ao prazo de 3 anos da regulamentação”, diz Gazzoni. O consultor faz referência à proposta da Previc (Superintendência Nacional de Previdência Complementar) apresentada na última reunião do conselho nacional (CNPC) realizada no início de outubro.
Se há algum consenso em torno da taxa de desconto, o mesmo não acontece na questão da longevidade. Existe uma proposta que prevê a adoção da tábua AT 2000 em substituição à AT 83, utilizada por grande parte dos planos de benefícios. “A preocupação é se não estamos pisando demais no acelerador na questão das tábuas. Pois tudo isso envolve um aumento de custos que pode ser desnecessário”, comenta Gazzoni.
Neste campo, a pesquisa também recolheu informações sobre o aumento da longevidade da população dos planos de benefícios. “Pretendemos trazer informações que possam dar subsídios mais claros para a necessidade de mudança na tábua. Acredito que o mais importante é realizar testes de aderência caso a caso”, defende o sócio-diretor da Gama. A pesquisa ainda deve trazer informações sobre os estudos de ALM (Asset Liability Management) e da Supervisão Baseada em Risco (SBR) tanto para os ativos quanto para os passivos.
A coleta de informações foi realizada através de uma plataforma web, que podia ser acessada por distintos profissionais de um mesmo fundo de pensão. É um sistema online que permite o preenchimento em diversos momentos pelas diferentes áreas da fundação, antes de seu envio final.