Edição 115
Nos últimos anos, embora a tendência à consolidação da indústria de gestão de recursos tenha sido predominante, também tem aumentado o número de pequenas assets. Independentes das grandes placas do mercado, sem rede de varejo e com um foco especializado, essas pequenas assets têm conseguido sobreviver e até crescer apesar das baixas taxas de administração que persistem no mercado atual. São as chamadas assets especialistas.
Em comum, elas possuem uma estrutura administrativa enxuta, clientes qualificados e um foco em produtos de maior especialização, normalmente na área de renda variável ou derivativos, que possibilitam cobrar taxas de administração mais elevadas e performance. Em sua grande maioria foram formadas por profissionais oriundos de assets maiores, que viram na nova estrutura de profissionalização que começa a existir no mercado brasileiro de gestão de recursos a oportunidade de criar o seu próprio negócio.
Algumas deram verdadeiros saltos em períodos muito curtos. É o caso da ASM, que com pouco mais de um ano de vida já conseguiu amealhar R$ 300 milhões em recursos sob gestão. Criada no final de 2000 por ex-diretores do Fleming Graphus, banco que havia sido comprado internacionalmente pelo Chase (hoje JP Morgan), a ASM foi à luta em busca dos clientes institucionais e dos clubes de investimento oferecendo produtos especializados. Conseguiu. “Nosso desempenho poderia ter sido ainda melhor se não fossem as dificuldades do ano passado, como a crise da Argentina, o racionamento, o atentado terrorista nos EUA e os problemas de regulamentação com as MP 2.222 e 2.829”, avalia Marco Aurélio Grillo, o M da ASM. “Mas, levando em conta a existência desses fatores, estamos satisfeitos com o resultado”.
Já a ARX, nascida no início do ano passado de uma associação de profissionais vindos dos bancos Boa Vista, J.P. Morgan e Opportunitty, acumula R$ 425 milhões sob gestão. Num primeiro momento a empresa optou por fazer a gestão de fundos exclusivos para grandes clientes institucionais, mas logo a seguir decidiu colocar dois fundos seus no mercado, um para pessoas físicas e outro para jurídicas, os ARX Hedge. “Desde o seu início, eles já acumulam ganhos de 145% do CDI”, conta o sócio José Alberto Tovar, vindo da área comercial do JP Morgan.
“Montamos um grupo bastante heterogêneo, tanto para atender aos grandes investidores institucionais e pessoas físicas de alta renda quanto para participar do grid de distribuição dos grandes conglomerados”, afirma Tovar. “Queremos que os nossos produtos sejam um complemento dentro da estratégia desses grandes gestores. Nossa filosofia de gestão em renda fixa e renda variável é o grande diferencial da ARX”.
Há muitos outros novos nomes no universo de gestão de recursos, ainda pouco conhecidos, entre eles: Direcional; AAA; Macro; ClickInvest; Maturity; Nobel; Tempo Capital; e Claritas. A maioria surgiu recentemente, como resultado das mudanças do mercado brasileiro, mas além delas há um outro universo de gestores de pequeno e médio porte, com atuação mais antiga no mercado, e que também começam a colher os resultados de um mercado mais profissional. Atuando com produtos especialistas e voltados ao atendimento de nichos específicos do mercado, elas estão vendo o seu mercado ampliar-se, ao invés de fechar-se, como muitos supunham que aconteceria com a consolidação da indústria.
Independentes – Na nossa última edição Top Asset listamos 40 assets com menos de R$ 1 bilhão em recursos administrados, das quais metade é completamente independente de grupos financeiros. Algumas são recém-nascidas, como é o caso da ASM, da ARX e das demais citadas acima, mas outras já atuam há muitos anos no mercado, como é o caso da Dynamo, da Mercatto e da Investidor Profissional, para citar apenas algumas. A outra metade, essas ligadas de alguma forma a grupos financeiros tanto nacionais quanto internacionais, a maioria também possui um perfil de asset especialista, com foco em clientes ou produtos específicos.
Essa é a forma que encontraram para sobreviver e crescer. “As estruturas do mercado estão ficando mais sofisticadas, as especializações estão surgindo e isso garante um espaço para as assets mais focadas”, avalia o diretor da Pavarini Asset, Renato Ópice Sobrinho. A Pavarini Asset, com R$ 40 milhões sob gestão, foi criada há cerca de 5 anos a partir da estrutura da Distribuidora Pavarini – que já existia há mais de 20 anos. “Nossa especialidade é a gestão de produtos de renda variável”, conta Ópice Sobrinho.
Segundo ele, com as sucessivas crises dos últimos anos, o mercado de renda variável perdeu um pouco a importância para os institucionais. Agora, com a atual estabilidade e a perspectiva da queda das taxas de juros, esse período desfavorável pode estar chegando ao fim. “Daqui para frente a situação vai mudar. A economia está mais forte, o sistema cambial está melhor, e isso deve levar a uma melhora do mercado de ações”, considera Ópice Sobrinho, torcendo para que essa melhora abra novas perspectivas para as assets especialistas.
Essa é também a opinião do diretor de gestão de renda variável da Mercatto Asset Management, Régis Abreu. Segundo ele, a tendência é de um crescimento do mercado de renda variável e de uma valorização dos gestores especialistas na área. Vindo do Santander Asset, onde cuidava da área de gestão de renda variável, ele está trazendo um novo foco à Mercatto, até recentemente conhecida como uma asset especializada em hedge fund. “Temos uma grade bastante diversificada, mas ainda continuamos tendo como ponto forte a gestão de derivativos”, diz Abreu.
Já em seu quarto ano de vida, a Mercatto tem hoje quase R$ 600 milhões sob gestão, sendo 50% provenientes de fundos de pensão e os outros 50% da área private. Desde sua criação, como uma empresa especialista em hedge fund, ela buscou ampliar o seu leque de produtos na área de renda variável e agora está partindo para a área de fundos fechados. Sua última aquisição é o ex-presidente da CVM, Thomas Tosta de Sá, trazido para desenvolver fundos fechados (private equity, governança corporativa, venture capital) voltados a grandes investidores.
“A nossa estratégia de crescimento é buscar os clientes institucionais, tanto os fundos de pensão quanto as seguradoras, com produtos especializados e que sejam a cara desses clientes”, conta Abreu. “A consolidação da indústria de asset é uma realidade, mas há bastante espaço para o crescimento das assets com especialização e foco”.
Segregação – Além de operar com o foco bem preciso em clientes e em produtos, muitas assets perceberam que uma janela de oportunidade se abria com a segregação da indústria entre gestão, controladoria e custódia. Com o oferecimento pela Mellon Brascan, ex-Dreyfus Brascan, de serviços na área de administração e controladoria (ver quadro), e a exigência por parte da Secretaria de Previdência Complementar (SPC) de custódia externa dos recursos das fundações, os riscos corporativos da gestão diminuíram. A gestão, assim, passou a valer pela sua capacidade de obter retornos consistentes e não mais pela placa em si.
“Decidimos criar a ASM Asset porque percebemos que o mercado passou a ser muito mais profissional, o que abria espaço para uma empresa com foco em produtos especializados”, recorda Marco Aurélio Grillo, da ASM. “Estamos desenvolvendo aqui o mesmo trabalho que já fazíamos no Fleming, só que com uma estrutura mais enxuta”. A ASM conta com uma equipe de 18 profissionais, dos quais 10 estão voltados ao atendimento dos clientes e os demais 8 à atividades de suporte.
No caso da ARX são 15 pessoas envolvidas na operação, incluindo atendimento a clientes e suporte. Para José Alberto Tovar, diretor da asset, a separação das atividades entre controladoria, custódia e gestão é positiva. “Com a controladoria e a custódia independentes, realizadas por grandes instituições, desapareceu o risco corporativo da atividade de gestão, o que é bom para as pequenas assets”, diz ele. “O fator limitante permanece sendo a compressão das taxas de administração no segmento institucional”.
Taxas – As taxas caíram tanto que duas assets especializadas nesse segmento, a Santos e a BMG, estão buscando diversificar sua clientela para ter um mix de taxas mais atraente. Com R$ 532 milhões e R$ 428 milhões sob gestão, respectivamente, os fundos de pensão representam para elas 85,4% e 81,3% do total administrado, de acordo com o último Top Asset.
Elas querem sair dessa concentração. No caso da BMG, a estratégia tem sido buscar novos mercados, como a área de previdência aberta e o private, com taxas mais atraentes. A asset firmou, há cerca de dois anos, um acordo com a Cigna para distribuir os seus fundos de PGBLs e está firmando novos acordos com bancos que atuam junto ao segmento private para colocar os seus fundos. “O segmento de private está, gradativamente, abrindo as suas portas para assets especialistas”, diz o diretor comercial da asset, Bruno Amadei.
Segundo ele, a receita para a sobrevivência de uma asset de pequeno porte é a especialização. “Por tradição e especialização, sempre estivemos presentes no segmento de fundos de pensão com produtos ligados a renda variável ou que envolviam riscos de mercado”, conta Amadei. “Queremos nos firmar como uma instituição focada em determinados nichos e com produtos especialistas”.
A Santos Asset vai na mesma direção. Especialista em gestão de recursos de fundos de pensão, a empresa está tentando diversificar e criou recentemente uma equipe voltada especificamente ao atendimento de clientes private. “A concentração num tipo único de clientes é perigosa”, considera o diretor da empresa, Eduardo Novo. “Crescemos junto aos institucionais mas agora vamos diversificar um pouco, para o lado private. Mas sabemos que o futuro está na especialização”.
Segregação beneficia a todos
A Mellon Brascan já tem R$ 9 bilhões em recursos sob administração fiduciária, dos quais 30% são provenientes de seis fundos de pensão e 70% captados junto a 24 assets, incluindo a sua própria, com R$ 2,4 bilhões. Para o diretor comercial da Mellon Brascan,
Roberto Pitta, a segregação da indústria está crescendo e a administração fiduciária separada tende a tornar-se o padrão entre as assets de pequeno e médio porte nos próximos anos, assim como entre muitos fundos de pensão.
De acordo com Pitta, a segregação das atividades permite reduzir os custos seja para a asset seja para os fundos de pensão. “Quando uma asset faz a administração e a gestão ao mesmo tempo, além de ter de cobrar mais pelo serviço ela não consegue dar ao investidor todas as garantias de um grande grupo”, explica ele. “Quando as duas atividades são separadas, além do investidor obter uma redução dos custos com o gestor ainda tem a garantia de que qualquer problema que ocorra na área de administração fiduciária será coberto por nós”.
Segundo ele, a administração fiduciária inclui todo o serviço de back-office das operações realizadas, incluindo a sua checagem para ver se está de acordo com o mandato do cliente, a marcação dos papéis a mercado etc. Se houver erros na marcação a mercado, por exemplo, e algum órgão regulador vier a multar, a Mellon se responsabiliza pelo pagamento da multa.
Neste ano, a Mellon Brascan quer dobrar os recursos sob administração fiduciária, passando dos atuais R$ 9 bilhões para R$ 18 bilhões ao final do ano.