Edição 100
Mesmo com o avanço do processo de consolidação que ocorre na área de gestão de recursos, algumas empresas de menor porte conseguem mostrar que há espaço para elas no mercado. O caminho da rentabilidade é o da especialização, como já ocorre com as empresas de menor porte dos Estados Unidos. É justamente esse o caminho que escolheram as brasileiras Fator, Dynamo e Investidor Profissional, que devido a uma atuação voltada para fundos de governança corporativa tornaram-se verdadeiros modelos do mercado.
“Para nós, o mais importante não é o aumento do patrimônio, pois nossa lucratividade não se baseia no ganho de escala. Somos sócios no resultado da gestão e dividimos a rentabilidade obtida acima da performance”, diz Mauro Cunha, sócio-diretor da Investidor Profissional, a IP.
Essas assets, que administram recursos médios de R$ 700 milhões, sabem que a especialização é o único meio de resistir à consolidação. Sua estratégia é investir em ações de empresas com potencial de valorização no longo prazo, participando na tomada de decisões dessas empresas através das suas posições acionárias. Ao conseguir êxito nas estratégias das empresas escolhidas, elas turbinam a rentabilidade dos seus fundos de ações de baixa liquidez que aplicam nessas empresas.
Para essas empresas, a gestão é tudo. Assim como as suas semelhantes nos EUA, no Brasil elas terceirizam todas as atividades não ligadas essencialmente à gestão, como os serviços de custódia e back-office, concentrando-se na gestão dos recursos. Além disso, elas amarram o dinheiro dos seus sócios ao dos investidores, pois os primeiros normalmente investem nas mesmas ações das empresas que compõem os fundos que vendem.
Para fazer valer os direitos de seus clientes, que geralmente ocupam a posição de acionistas minoritários, as assets unem essas posições acionárias e decidem junto com as empresas qual o melhor para os seus acionistas. Enquanto a maioria das empresas brasileiras ainda reluta em adotar regras de boa governança corporativa, esses gestores foram os pioneiros na adoção destas práticas e já as utilizam há quase dez anos nas empresas nas quais mantêm participação.
São vários os exemplos de casos bem-sucedidos, No final de 1998, a Dynamo liderou um acordo de acionistas junto à Eternit, controlada pelo grupo francês Saint Gobain, que resultou, de lá para cá, na distribuição de R$ 270 milhões em dividendos, mais do que o seu valor atual em bolsa (R$ 255 milhões). Segundo o sócio-gestor da Dynamo, Pedro Damasceno, a empresa gerava um fluxo de caixa alto, mas não tinha um projeto de reinvestir seus recursos líquidos. “E isso não era uma prática saudável para os acionistas”, explica Damasceno.
Em uma atuação conjunta com outros investidores, a Dynamo costurou um acordo que determinou a distribuição dos dividendos. Os investidores dos fundos da Dynamo tinham 22% do capital votante da empresa.
Naquele mesmo ano, a Investidor Profissional obteve uma vitória importante para os investidores dos seus fundos e acionistas minoritários da Freios Varga. Depois que a empresa norte-americana Lucas Verity comprou a Freios Varga, em meados de 1997, a administração da companhia ficou mais voltada aos interesses dos acionistas no exterior, o que levou a IP a pedir o fechamento de capital da empresa.
A direção da Lucas Verity resistiu ao acordo, com o argumento de que os minoritários não tinham assento no Conselho e não poderiam influenciar na tomada de decisões. Para preservar os direitos dos acionistas, a IP uniu os investidores da empresa, na sua maioria fundos de pensão, num mesmo fundo, o IP Foco 3, que somou dois
terços das ações
em circulação da Freios Varga, Com isso, ganhou o direito a um assento no Conselho Fiscal.
No final de abril de 1999, as ações da Freios Varga foram vendidas a R$ 80,00 o lote de mil, contra R$ 20,00 que valiam em outubro de 1998, no início das negociações. Uma valorização de 300% num período de seis meses.
Outra que tem conseguido boas valorizações para as posições minoritárias de seus clientes é a Fator. Recentemente, a Cimento Itaú resolveu fechar seu capital em bolsa, oferecendo, em agosto do ano passado, R$ 320,00 pelo lote de mil ações aos minoritários. Como esses não aceitaram, considerando o preço baixo demais, a Cimento Itaú negociou e chegou a um preço de R$ 400 por lote de mil. Segundo a diretora da Fator, Roseli Machado, que coordenou as negociações pelo lado dos minoritários, esse avanço da posição dos controladores foi fundamental e será decisivo na hora do leilão de compra, no próximo dia 12 de julho, na Bovespa.
Outro feito recente da Fator, esse conjuntamente com a Bradesco Templeton, foi conseguir que a Randon, fabricante de auto-peças, aderisse ao Nível 1 de negociação da Bovespa.
São inúmeros os casos em que a atuação desses gestores especializados é decisiva na defesa dos interesses dos minoritários. No início do ano passado, a Dynamo e a Investidor Profissional conseguiram que ações de empresas como o grupo Ultra e Livrarias Saraiva incluíssem em seus estatutos o “tag along”, regra que dá o direito de venda pelo mesmo preço pago ao controlador, em caso de fechamento de capital da empresa.
“O grupo Ultra é o único fundo que dá 100% de tag along aos seus acionistas”, orgulha-se o gestor da Dynamo, Pedro Damasceno. Na Livrarias Saraiva, o tag along é de 90%, diz o gestor da IP, Mauro Cunha.
A Dynamo administra hoje R$ 750 milhões no Dynamo Puma, um fundo de valor e liquidez. “É o maior fundo de renda variável do mercado”, diz o gestor Pedro Damasceno. A Fator administra R$ 200 milhões nos fundos Sinergia e a Bradesco Templeton, R$ 344 milhões.
Renda variável, negócio para o futuro
Na avaliação do diretor para a América Latina da empresa de consultoria Barra, Fernando Lifsic, a expansão dos gestores especializados em renda variável no Brasil só não é maior porque o mercado brasileiro tem poucos ativos neste segmento. “Não há espaço para abrigar um número muito grande de assets especializadas”, diz. Segundo ele, nos Estados Unidos a diversificação é bem maior porque existem inúmeras classes de ativos que permitem a formação de diversas famílias de fundos de renda variável.
Para o consultor, o crescimento de assets especializadas neste segmento só vai ser possível quando a economia voltar a crescer de forma mais consistente, proporcionando também o aumento do volume para a gestão de recursos de terceiros.
Marcelo Rabbat, sócio-consultor da Prandini, Rabbat & Associados, prevê que o futuro das assets especializadas em renda variável só vai ser mais brilhante quando os juros do país entrarem em processo definitivo de queda.
Para o consultor Rogério Werneck, da Agrif, empresa especializada na avaliação de risco de fundos de investimentos, enquanto nos Estados Unidos as assets conseguem ganhar dinheiro trabalhando apenas para investidores institucionais, no Brasil a sobrevivência para quem trabalha apenas com esse grupo de investidores está cada vez mais difícil.