Edição 243
Algumas das maiores Entidades Fechadas de Pre-vidência Complementar (EFPC) do Brasil já começaram a se preparar para o novo desafio de investir no exterior. Além da Previ, outras três gigantes tem objetivo de comprar ativos em outros mercados: Funcef, Valia e Forluz. Elas estão em diferentes estágios do processo, mas é possível que os primeiros negócios aconteçam já em 2013.
A Valia, quinta maior do país, já decidiu pela criação de uma gerência de investimentos no exterior liderada por Ana Claudia Nolte. É ela a responsável pelos estudos e mapeamentos do tema que são feitos atualmente pela fundação. “Estamos tentando entender melhor como funciona o mercado internacional. Em termos de produto, de lógica, classe de ativos, uma preparação minha também”, afirma a futura gerente, Ana Cláudia Nolte.
O diretor de Investimentos e Finanças da Valia, Maurício Wanderley, prefere não falar em datas e valores, tem o discurso afinado com Ana Cláudia Nolte e diz que o momento é de conhecer melhor o terreno. Ele afirma, porém, que se engana quem pensa que a fundação vai ao exterior apenas em busca de diversificação. “Lá fora existem diversas classes de ativos que tem bom retorno. Acho que é um pouco cedo para indicar que tipo pode ser o mais acertado, estamos com a mente aberta pra olhar todas as oportunidades.”
A crise que atinge os países e os mercados desenvolvidos, segundo os executivos, é encarada com naturalidade pela fundação e não seria impedimento que os investimentos fossem feitos. “Em 2008, nós vimos a crise como oportunidade. Oportunidades existem em várias classes de ativos diferentes, às vezes são até maiores nestes momentos difíceis”, diz Maurício Wanderley.
A favor de uma flexibilização da legislação, que atualmente não permite a criação de fundos exclusivos no Brasil para investimento no exterior (ver box), Maurício Wanderley diz que a Valia se prepara para fazer seus investimentos dentro das atuais regras, sem esperar mudanças. Wanderley fala ainda das dificuldades de se encontrar outras fundações com o mesmo interesse na hora de investir. “A dificuldade é encontrar alguém com as mesmas necessidades. Nós vamos comprar aquilo que for identificado como fazendo sentido para nós, não o que está disponível. Não basta ter a mesma tese de investimento, tem que ter o mesmo horizonte, a mesma aversão a risco, familiaridade com classes de ativos. São muitas variáveis, claro que dificulta.” Ele reitera, porém, que, apesar de ser um dificultador, isto não impede a transação.
A Funcef é outra que já criou seu grupo de estudos. Conversa sobre o tema desde 2009. A fundação patrocinada pela Caixa, terceira maior do Brasil, diz ainda estar em fase de estudos, mas admite que discute o tema com outras EFPC, possíveis parceiras em investimentos futuros. Os primeiros passos da internacionalização das entidades devem ser cautelosos, na opinião do diretor de Investimentos da Funcef, Maurício Marcellini. “As fundações devem iniciar este movimento investindo em estruturas menos diversificadas. Não acho que hedge funds, por exemplo, seja o mais apropriado para o primeiro passo.”
Falando especificamente sobre as intenções da Funcef Marcellini dá pistas sobre como pode ser a estratégia da fundação. “Acho que o primeiro passo seria uma estratégia de diversificação para carteira de renda variável buscando teses específicas em setores que não estão presentes no nosso mercado ou diversificação em países pouco correlacionados com a bolsa brasileira. Nosso estudos estão caminhando nesta direçao.”
A Forluz está a procura de parceiros para a viabilizar o investimento fora do Brasil. A fundação, patrocinada pela Cemig, é a décima maior do país com um patrimônio de
R$ 11 bilhões e também está de olho nas oportunidades dos mercados externos.
Grupo de fundações – O diretor de Investimentos e Controle da entidade, Rodrigo Eustáquio Barata, conta que a intenção é constituir um grupo de fundos de pensão que tenham planos de estrear no segmento de investimentos nos mercados lá fora já em 2013. A ideia é começar com 1% a 2% do patrimônio da fundação. “Queremos diversificar e desconcentrar do ‘risco Brasil’. Já temos um limite aprovado para os investimentos no exterior na política de investimentos que vai até o teto de 10% permitido pela legislação. Mas não vamos começar com montantes altos. Existe uma fase inicial de aprendizado, para conhecer os mercados e veículos lá fora. Estamos ainda estudando, fundos com hedge ou sem hedge, mais ou menos agressivos.”
Com a diversificação para ativos negociados fora do Brasil a Forluz continua um processo de descorrelação com índices nacionais. Em 2009, a carteira de renda variável da Forluz estava 100% concentrada em gestão atrelada ao Ibovespa. Atualmente a carteira de renda variável é de 50% indexada ao Ibovespa e 50% com mandatos de valor. Cerca de 10% da gestão da carteira é realizada internamente, o restante é terceirizado.