Novos rumos em 2012 | Serpros cria manuais para o dia a dia da ge...

Edição 235

O Serpros – Fundo Multipatrocinado entrou em 2012 com uma política de investimentos mais sucinta e mudanças principalmente nos segmentos de renda variável e estruturados. As alterações passam pela inclusão de um limite mínimo para a exposição a ações e pelo aumento da alocação-alvo em investimentos estruturados. Além disso, a entidade está promovendo a terceirização da carteira de ações e ampliando a participação do crédito privado no portfólio de renda fixa.

Thadeu Duarte Macedo Neto, diretor presidente do fundo de pensão, afirma que foi feito um enxugamento da política de investimentos do Serpros. “A política anterior era muito extensa. Agora, está bem mais resumida, basicamente atendendo ao que a 3.792 exige”, diz ele, referindo-se à Resolução número 3.792 do Conselho Monetário Nacional (CMN). Macedo completa que tudo aquilo que não tratava de questões diretamente ligadas às exigências da legislação foi retirado da política e contemplado em dois manuais elaborados pela entidade – o manual de investimentos e o manual de crédito.

O diretor presidente do Serpros explica que os manuais são como “anexos da política”. A diferença é que, da forma como as informações estavam antes, qualquer alteração operacional de gestão de recursos tinha de passar pelo conselho deliberativo para ser aprovada, dado que toda mudança na política deve ser autorizada pelo órgão. “Isso engessava demais o dia a dia”, aponta ele.

Eloir Cogliatti, diretor de investimentos da fundação, cita alguns exemplos de informações que foram retiradas da política e incluídas em manual: critérios e modo de contratação de agentes terceirizados – como gestores, custodiantes e administradores – e análise de crédito. “Além de ‘o que’, a política também contemplava o ‘como’. Essa parte do ‘como’ é que foi para os manuais”, resume ele. A primeira versão dos manuais já foi apresentada ao conselho deliberativo do Serpros. Agora, alguns ajustes estão sendo feitos no material, que voltará a ser apreciado pelo órgão.

Estruturados – Do lado das mudanças de alocação, foi promovido um aumento no objetivo de exposição ao segmento de investimentos estruturados, sendo que a classe que mais se beneficiará disso será a dos fundos imobiliários. As alocações-objetivo definidas para a aplicação de recursos dos planos em investimentos estruturados vai de 0,97% a 7%, variando de acordo com o plano. Atualmente, os recursos garantidores do Sepros somam algo em torno de R$ 3,2 bilhões.

Eloir Cogliatti afirma que o Serpros pretende focar mais nos fundos imobiliários do que em Fundos de Investimento em Participações (FIPs). Isso porque o volume de recursos que a entidade está disposta a destinar ao segmento de estruturados não é tão grande a ponto de permitir, ao mesmo tempo, uma diversificação entre vários FIPs e uma cota representativa em cada um desses fundos. “Como a intenção não é concentrar os investimentos em poucos fundos, teríamos de pulverizar os recursos entre vários FIPs. Com isso, nossa participação seria sempre muito minoritária, o que acaba restringindo as vantagens do ponto de vista da governança”, argumenta o diretor. Em suma, a preferência do Serpros pelos fundos imobiliários em detrimento dos FIPs se deve ao entendimento, por parte da entidade, de que os principais FIPs oferecidos pelo mercado exigem um grande investimento para que a participação da fundação possa ser considerada relevante a ponto de influenciar na estratégia das empresas adquiridas.

Cogliatti acrescenta que nos fundos imobiliários não existe esse tipo de problema. “São fundos de recebíveis. Não existe essa questão da governança”, compara. Além do mais, a fundação considera que esses fundos possuem uma “rentabilidade atraente e exigem um nível de acompanhamento mais compatível com os controles que a entidade já faz em sua carteira imobiliária”. O diretor completa que o Serpros está traçando cenários e analisando dois fundos imobiliários para possível investimento.

Terceirização – No segmento de renda variável, uma das novidades é a adoção do limite inferior. Isso quer dizer que pelo menos uma parte da carteira de investimentos estará alocada em ações. Antes, havia somente o teto, mas não o piso para o segmento.

A mudança teve como fundamento um novo ALM feito pela fundação. Cogliatti explica que o ALM anterior seguia o modelo determinístico, enquanto o novo é estocástico. Jordanno dos Santos, gerente executivo de institucionais do Risk Office, explica algumas diferenças entre os modelos de ALM. “O determinístico é mais simples, tem um custo menor e leva um tempo menor para execução. Por outro lado, ignora o risco de mercado e o risco atuarial, não permite avaliar o risco de liquidez nem determinar a probabilidade do risco de insolvência da entidade ao longo do tempo e apresenta resultados pouco conclusivos”, aponta. Já o estocástico, segundo Santos, incorpora o risco de mercado e o risco atuarial, permite determinar a probabilidade do risco de insolvência da entidade ao longo do tempo, apresenta um resultado realista e conclusivo e possibilita avaliar o risco de liquidez – apesar de ter um custo maior, um prazo de execução mais extenso e um grau mais alto de complexidade (isso vale para o modelo estocástico tanto do lado do ativo como do passivo, conforme modelo desenvolvido e recomendado pelo Risk Office).

“Na nova metodologia de ALM, as simulações mostraram que a melhor alocação prevê uma exposição mínima a renda variável”, afirma Eloir Cogliatti, do Sepros. Os limites inferiores de alocação para os planos BD e CD variam entre 3% e 12%, enquanto que o limites superiores foram definidos para o Plano I BD em 17% e para o Plano II CD em 35%.

A entidade também está caminhando para a terceirização de seu portfólio de renda variável. Do total aplicado no segmento, R$ 60 milhões já são geridos por terceiros, enquanto R$ 210 milhões permanecem na carteira própria do Serpros. Os fundos de investimento que receberão os recursos apresentam as mais variadas estratégias, contemplando desde produtos indexados ativos (Ibovespa e IBrX) até fundos de small caps.

Cogliatti diz que por enquanto não é possível saber com quantos gestores terceirizados o Serpros deve trabalhar na renda variável. Ele adianta que, com o auxílio do Risk Office, a fundação já selecionou alguns fundos, cujos gestores estão passando por due diligence. “Depois dessa segunda etapa é que se dará a contração de fato dos terceiros”, informa o diretor. A expectativa é que nos próximos meses seja concluída a seleção de novos fundos para compor a carteira terceirizada.

O diretor comenta que a terceirização vale a pena uma vez que o investimento em ações tem exigido cada vez mais especialização e conhecimento por parte dos analistas. “Muitas vezes treinamos e qualificamos um funcionário para isso mas, como somos uma fundação, acabamos perdendo as pessoas para o mercado, que paga salários mais altos. Por isso, concluímos que é melhor aproveitar a expertise dos gestores, pagar a taxa de administração e deixar que eles façam os investimentos”, justifica ele.

Crédito – Já na renda fixa, o Serpros apostou em uma reestruturação da área de gestão. Em 2010, a fundação promoveu a segregação entre as equipes de controle de risco e análise de risco, reforçando a área de análise. Isso porque, com os títulos públicos federais não sendo mais suficientes para o atingimento das metas atuariais, a tendência é que o crédito privado ganhe espaço no portfólio de renda fixa do fundo de pensão.
Cogliatti aponta que hoje a renda fixa está 70% alocada em dívida pública e 30% em crédito privado. Daqui em diante, a ideia é deixar em títulos públicos marcados a mercado somente o necessário para garantir liquidez imediata aos planos. E foi justamente por esse aumento da importância do crédito privado na carteira de investimentos que a entidade decidiu criar um manual que trata especificamente dessa classe de ativos.

Em busca de equilíbrio
Os planos de Benefício Definido (BD) do Serpros encontram-se em situações opostas de desequilíbrio. Enquanto o PS-I está deficitário em R$ 150 milhões, o PS-II acumula superávit de R$ 250 milhões.
De acordo com a entidade, a utilização do superávit será definida até dezembro deste ano. As possibilidades são reduzir as contribuições e/ou melhorar os benefícios. “Para isso, a entidade teria de adotar a AT-2000 no lugar da tábua atual, a AT-83, e a taxa real de juros de 5%, ao invés da atual de 6%”, informa a fundação.
Já a proposta de saldamento do PS-I, visando ao equacionamento do déficit, foi aprovada pela patrocinadora, que a encaminhou para análise da Secretaria do Tesouro Nacional (STN) para posterior envio ao Departamento de Coordenação e Governança das Empresas Estatais (DEST). Após aprovação das propostas pela STN e pelo DEST, o processo será encaminhado para análise da Superintendência Nacional de Previdência Complementar (Previc). A implementação da proposta será realizada após a aprovação pela autarquia especial.