Edição 79
O maior fundo de pensão brasileiro, a Previ (do Banco do Brasil) acaba de encerrar as eleições mais disputadas de sua história. Das quatro chapas inscritas, três tinham reais chances de vencer. A vitória coube à chapa 5, Unidade em Defesa da Previ, que recebeu 40,15% dos votos e elegeu os diretores Sérgio Ricardo Rosa e Erik Persson e mais cinco conselheiros, dentre os quais o ex-diretor de Planejamento Arlindo Magno de Oliveira, que passa a ocupar um lugar no conselho deliberativo. Dos 118 mil participantes
com direito a voto, 80 mil ou 68% se mobilizaram para votar, superando a presença média de 50% das últimas
eleições.
Em disputa estavam as diretorias de Participações e de Planejamento, duas vagas no conselho deliberativo e três assentos no Conselho Fiscal. Mais que isso, estava em jogo a gestão de um patrimônio de mais de R$ 32 bilhões, dos quais cerca de R$ 8 bilhões estão investidos em participações de mais de 100 empresas. Foi a primeira vez que os cargos dos diretores de Planejamento e Participações, antes ocupados respectivamente por Arlindo Magno e Vitor Paulo Gonçalves, foram decididos em processo eleitoral.
Os dois diretores dividiram palanques opostos nesta eleição, ao contrário de quando foram eleitos em 1996, quando saíram na mesma chapa. Na época, a eleição ainda era para diretor deliberativo. “A eleição ganhou uma importância nunca antes vista porque o novo estatuto da Previ conferiu importantes atribuições aos diretores”, conta Sérgio Rosa (ver entrevista como ele na página 8). A diretoria de Planejamento ficou encarregada de elaborar as diretrizes de investimentos do fundo enquanto a de participações se responsabiliza pela gestão da carteira de imóveis e das participações em em-
presas.
Quando o novo estatuto da Previ foi aprovado, no final de 1997, houve a incorporação dos cargos de diretores deliberativos em três novas diretorias: a de Seguridade, Planejamento e Participações. Antônio Nogueirol passou a ocupar a diretoria de seguridade até a realização da eleição em 1998, quando entrou o novo diretor Henrique Pizolato. Os outros diretores deliberativos, Arlindo Magno e Vítor Paulo, assumiram as diretorias de planejamento e participações, respectivamente, e continuaram nos cargos até a realização da recente eleição. Os dois antigos companheiros de chapa começaram a assumir posições opostas dentro da Previ em relação a temas como os critérios para a escolha de conselheiros de empresas e os limites das aplicações em renda variável e renda fixa do fundo.
No processo de formação das chapas, Arlindo Magno conseguiu concentrar apoio do movimento sindical e de tendências mais moderadas do PT e do PCdoB. Então, juntamente com Sérgio Rosa, presidente da Confederação Nacional do Bancários, e de Erik Persson, líder sindical da região sul do país, articulou a chapa 5 e candidatou-se ao posto de conselheiro deliberativo. A chapa defendeu, entre outras coisas, a redução do tamanho da carteira de renda variável com a migração de ativos para a renda fixa, assim como foi definido no plano de investimentos da Previ no início deste ano.
Vítor Paulo foi buscar apoio com o ex-deputado Augusto Carvalho, do PPS e da Associação Nacional dos Funcionários do Banco do Brasil (Anabb) para formar a chapa 7, Força e Confiança, que acabou recebendo 26,53% dos votos. O dirigente reforçou a necessidade de manter e até ampliar os investimentos do fundo em empresas e no setor produtivo da economia, alegando que as receitas da Previ ainda superam as despesas com bene-fícios.
Houve ainda espaço para a formação de outra chapa, a de número 3, Antes que Seja Tarde, também oriunda do movimento sindical e de correntes de partidos de esquerda. Essa chapa contou com a participação de membros das correntes mais radicais do PT e foi liderada pelo atual suplente do conselho deliberativo da Previ, Fernando Amaral. A chapa 3 recebeu 22,46% dos votos e defendeu a não-participação da Previ no processo de privatização, entre outras propostas.
A eleição contou ainda com a presença da chapa 1, formada majoritariamente por aposentados e que recebeu apenas 4% dos votos. Liderada pelo ex-presidente do conselho da Anabb, Isnard Kisner Kosby, a chapa 1 ressaltou a independência
do grupo em relação a correntes sindicais e partidárias.
Unidade – A vitória da chapa comandada por Arlindo Magno permite a unificação da atuação dos três diretores eleitos da Previ. Os diretores de Participações, Planejamento e Seguridade pertencem atualmente a uma mesma corrente dentro do fundo de pensão. As outras três diretorias (Presidência, Investimentos e Administrativa) são indicados pela patrocinadora, o Banco do Brasil, que confirmou no final de maio a permanência do atual presidente, Luiz Tarquínio Ferro, para um mandato de mais quatro anos, até 2004. O diretor de investimentos, Gilberto Audelino Corrêa, também foi reconduzido ao posto, mas seu mandato termina em 2002. A única alteração ocorreu na diretoria administrativa, com a entrada de Nélio Henriques de Lima no lugar de diretor José Marques, que foi para a área de estratégia de marketing do banco. Com 25 anos de Banco do Brasil, o novo diretor da Previ ocupava o cargo de superintendente de negócios com o governo.
Apesar da proximidade política dos três diretores eleitos, algumas posições suas coincidem com as do diretor presidente atual. É o caso da exposição dos ativos à renda variável, cujos percentuais eles avaliavam serem altos demais e propunham rebaixar gradativamente, no que coincidem com a posição do atual presidente da entidade, Luiz Tarquínio Ferro.
Em relação ao processo de privatização, o embate promete ser um pouco mais problemático, pois a chapa que venceu a eleição tem restrições ao processo de privatização. “Defendemos a realização de parcerias da Previ com empresas públicas e somos contra o avanço da privatização”, afirma o gaúcho Erik Persson, novo diretor de planejamento da Previ. Outra proposta defendida pelo diretor é a implantação de um sistema de orçamento participativo que permitirá a participação dos funcionários do Banco do Brasil na definição dos gastos e investimentos da Previ.
QUEM ASSUME NA PREVI
Diretor de Participação: Sérgio Ricardo Rosa – funcionário do Banco do Brasil desde 1980, formado em jornalismo pela Universidade de São Paulo, foi vereador durante os anos de 1995 e 1996 pelo Partido dos Trabalhadores. Atualmente ocupa o cargo de presidente da Confederação Nacional dos Bancários e é diretor do Sindicato dos Bancários de São Paulo.
Diretor de Planejamento: Erik Persson – formado em economia, trabalha há 23 anos como funcionário do Banco do Brasil, foi organizador do comitê gaúcho em defesa dos bancos públicos contra a privatização. Atualmente é diretor da Federação dos Bancários do Rio Grande do Sul.
Conselho Deliberativo: Arlindo Magno de Oliveira e José Roberto do Amaral
Conselho Fiscal: Elídia Resula Ulerich Bonfim, Fernanda Duclos Carísio e Sergio Lopes de Farias