Disputa para consolidar mercado | Com o aumento de exigências e c...

Edição 370

Scripilliti,Estevao(Bradesco) 24set 01A disputa entre as entidades multipatrocinadas de previdência fechada por administrar planos de fundações de menor porte está cada vez mais acirrada. Em meados de setembro a Vivest anunciou que ganhou a concorrência para administrar o plano da Alpargatas, uma entidade com 16,4 mil participantes e R$ 471 milhões de patrimônio. Dois meses antes a Itajubá Fundo Multipatrocinado tinha anunciado a conquista dos planos da Supre e da Copa Energia, com patrimônios de R$ 330 milhões e R$ 122 milhões, respectivamente. E o Bradesco terminou de abocanhar a administração de dois novos planos de empresas multinacionais, sendo a primeira a Alcoa Previ e a segunda uma empresa do setor automotivo cujo nome ainda pode revelar.
Além desses três competidores, que formam o pelotão de frente da competição, há outros fundos multipatrocinados menores mas nem por isso com menos apetite para morder uma fatia desse mercado. É o caso da Viva Previdência, da MAG Fundo de Pensão e da Família Prev, além de alguns específicos que atuam na disputa por planos complementares de entes federativos, um filão que a Emenda Constitucional 103 abriu ao obrigar estados e municípios que possuem Regimes Próprios de Previdência Social (RPPS) a oferecer previdência complementar aos servidores que ganham acima do teto do INSS.
“A concorrência realmente é grande. Tem alguns que estão se dispondo a ser consolidadores maiores, que botaram dinheiro e investiram em tecnologia com esse objetivo, como é o nosso caso, e outros três ou quatro novos entrantes que vieram com apetite e estão fazendo coisas diferentes”, analisa o diretor da Bradesco Vida e Previdência, Estevão Scripilliti. “Acho bom, isso dá uma oxigenada e quem ganha, no final do dia, são os RHs das empresas, que passam a ter mais opções e cada vez melhores serviços.”

Acima de R$ 15 bilhões – A Bradesco Vida e Previdência tem dois planos multipatrocinados focados em previdência fechada, que são praticamente iguais, denominados MultiBra e Multipensions. O primeiro foi criado em 1979 e só passou a fazer parte da estrutura do Bradesco em 2015, quando o banco comprou o HSBC e a área do multipatrocinado veio junto, enquanto o segundo foi criado pelo próprio banco em 1991 para atender aos clientes empresariais da casa que queriam oferecer um fundo de pensão aos seus funcionários. Juntos eles administram hoje cerca de R$ 14 bilhões em patrimônio de planos de previdência fechada, relativos a 200 grupos econômicos diferentes. “Mas vamos superar os R$ 15 bilhões nos próximos meses com a entrada dos dois novos patrocinadores, cujos patrimônios somados representam algo em torno de R$ 1,5 bilhão”, contabiliza Scripilliti.
Apenas a Alcoa Previ vai aportar R$ 806 milhões no Multipensions, valor apurado na data de 16 de setembro último. Segundo comunicado da fundação divulgado aos participantes em seu site, “com o objetivo de modernizar nossos processos e continuar garantindo as melhores estruturas de serviços, atendimento e governança, informamos que, neste mês, demos início à migração do modelo do plano de previdência complementar da Alcoa Previ de entidade fechada para multipatrocinado. A instituição selecionada após longo processo de seleção foi o fundo Multipensions Bradesco.”
Segundo Scripilliti, a idéia é manter os dois planos, o Multipensions e o MultiBra, funcionando em paralelo. “O custo de fazer uma fusão não vale a pena. Seria um processo muito oneroso, teria que falar com todos os patrocinadores, então a gente preferiu manter as duas estruturas”, explica.
Embora funcionando em paralelo, eles operam de forma unificada e usando as áreas de prospecção de novos clientes, o operacional e o regulatório de forma comum. “Todas as estruturas são consolidadas. A única diferença entre os dois planos é que se reportam de forma independente aos patrocinadores, que são diferentes”, explica.
Segundo ele, em ambos os planos o foco principal são fundações já constituídas, com patrimônio na casa de “algumas centenas de milhões”, cujos patrocinadores perceberam nos últimos anos que o “custo de observância” de manter uma entidade própria pode representar um “desvio do seu core business”. Embora o grupo administre alguns planos de Benefício Definido (BD), conquistados no passado, atualmente o foco são planos de Contribuição Definida (CD). “Hoje em dia é basicamente só planos CD’s.”
Como credenciais, a área de prospecção de novos clientes costuma colocar sobre a mesa primeiramente a longevidade dos planos, o MultiBra com 45 anos de existência e o Multipensions com 33 anos. “É o primeiro atributo que mostramos, que estamos nesse negócio há décadas”, conta Scripilliti. “O segundo atributo, e acho que isso vale também para os outros multipatrocinados que disputam o mercado conosco, é o benefício de uma redução de custo de observância para a empresa, o que é um importante argumento de convencimento”.
Segundo o diretor do Bradesco Vida e Previdência, “a gente tem encontrado bastante receptividade às nossas idéias por parte dos departamentos de recursos humanos e financeiros de muitas empresas, e até algumas que ainda não tinham pensado na alternativa da terceirização gostaram da ideia e querem nos ouvir”, conta.
Em relação à gestão dos ativos dos planos, ele explica que todos os mandatos são discutidos de forma bilateral com os patrocinadores, mas em geral tudo aquilo que pode ser feito de forma competitiva pela Bram, a asset do grupo Bradesco, fica dentro de casa, e o que a Bram não tem expertise é feito fora. “A gente costuma falar para os patrocinadores que se o custo e a performance forem parecidos, é muito mais fácil para a gente fazer dentro de casa, mas se tiver alguma coisa diferente, que a gente não consegue fazer na Bram, aí zero problema, vamos buscar a gestão de casas especializadas”, diz.
Colocando em números, ele diz que atualmente cerca de 85% dos recursos sob administração do Multipensions/MultiBra são feitos pela Bram e os 15% restantes por assets externas, especializadas em diferentes estratégias.

Mendes,Walter(Vivest) 22julMudando a estratégia – Na Vivest, a estratégia de buscar novos patrocinadores externos nasceu em 2018, quando o presidente Walter Mendes assumiu o comando da casa. A Vivest, uma fundação 55 anos de vida, até a chegada de Mendes administrava apenas planos de empresas do setor elétrico, muitas das quais foram criadas por fatiamentos da sua primeira patrocinadora, a Cesp, que inclusive deu o primeiro nome da entidade, Fundação Cesp. A partir dos anos 1990, com o programa de desestatização do setor elétrico, novas elétricas foram criadas e passaram a compor o quadro de patrocinadoras da Funcesp.
A mudança de nome para Vivest aconteceu em meados de 2020 já como parte da estratégia de Mendes de atrair patrocinadoras de outros segmentos econômicos, deixando de ser dependente apenas do setor elétrico. “Hoje temos 15 patrocinadoras, das quais 10 são originárias, digamos assim, e cinco vieram de outros setores econômicos nos últimos anos”, conta Mendes.
A primeira nova patrocinadora fora do setor elétrico foi a Sabesp, que criou um plano CD com a Vivest em 2019, quando terceirizou a gestão de seu plano de saúde à fundação, pois legalmente a administração de planos de saúde só pode ser feita por entidade que administre também a área previdenciária. Atualmente, apenas esse CD é oferecido aos novos contratados pela empresa de saneamento. Em seguida, em setembro de 2021, já rebatizada como Vivest, a fundação conquista a administração do plano da Ford, automobilística que então deixava o País. Em fevereiro de 2022 ganha a gestão do plano da Vem Conveniência, joint venture da Vibra (antiga BR Distribuidora) com as Lojas Americanas e em julho de 2023 ganha a gestão do plano da Roche, indústria farmacêutica global. Por último, anunciou há um mês que abocanhou o plano da Alpargatas.
O foco de atuação da Vivest na busca de novos patrocinadores são entidades de patrocínio privado, com planos de contribuição definida ou contribuição variável e patrimônio entre R$ 300 milhões e R$ 3 bilhões. “Estamos trazendo empresas e planos com bastante participantes, normalmente patrocinados por multinacionais ou empresas nacionais de grande porte, que não acrescentam risco adicional ao nosso portfólio”, explica Mendes.
Segundo ele, além de uma experiência de 55 anos no setor e de seu porte, com R$ 37,5 bilhões em recursos administrados e quase 59 mil participantes, a Vivest oferece às empresas interessadas em terceirizar seus planos previdenciários um histórico limpo de autuações. “Não temos nenhum auto de infração em 55 anos de história, nunca tivemos nenhuma ressalva em balanço”, orgulha-se Mendes.
Além disso, a rentabilidade de seus planos é exemplar. Comandada por uma equipe que teve Jorge Simino à frente nos últimos 18 anos, até meados deste ano quando aposentou-se e foi substituído por Paulo Werneck, a área de investimentos da Vivest foi sempre um benchmark do setor. Num período de 20 anos, até dezembro do ano passado, a rentabilidade média anual ficou em 14,5%, para uma meta atuarial média de 13,2%. “Talvez seja um dos mais importantes credenciais”, diz Mendes.
Assim como os multipatrocinados Multipensions e MultiBra, a Vivest também passou ao largo da disputa por captação de Regimes de Previdência Complementar (RPC), planos a serem criados obrigatoriamente por entes federativos que possuam servidores ganhando acima do teto do INSS. “É um segmento no qual nós não temos expertise, não temos vantagens competitivas. Não dá prá atirar prá todo lado”.
No segmento de planos instituídos, entretanto, a fundação já fincou o pé, com um plano família abrigado na Abrapp, que já conta com R$ 70 milhões de patrimônio. Criado em maio de 2019, o Familinvest é oferecido aos familiares dos participantes dos 25 planos da entidade (alguns patrocinadores possuem mais de um plano). “A gente imagina que possa chegar a R$ 100 milhões rapidamente, mas é um crescimento muito paulatino, muito lento”, diz.
Crescer no segmento de instituídos não está no radar da fundação, apesar de manter o Familinvest para atender os participantes dos demais planos patrocinados. “Não é uma área que esteja no nosso foco, não vemos grande potencial, mas se a perspectiva mudar nós acompanharemos”, afirma.

Chateaubriand,Roberto(Itajuba) 24setDobrar de tamanho – A Itajubá Fundo Multipatrocinado (IFM) é outra que tem jogado pesado para crescer junto aos pequenos planos que querem terceirizar a gestão do passivo. O fundo conta hoje com cerca de 55 patrocinadores, que somam mais de 70 mil participantes ativos e 3,2 mil assistidos, conta o superintendente do fundo, Roberto Chateaubriand. Segundo ele, o patrimônio consolidado do fundo é de R$ 8,8 bilhões, representando um crescimento de 167% nos últimos três anos, desde que foi comprado do Itaú no final de 2021, então com um patrimônio de R$ 3,3 bilhões. O objetivo é dobrar de tamanho nos próximos três anos, alcançando R$ 16 bilhões.
A IFM é uma das três partes que compõe a Itajubá Administração Previdenciária (IAP), um guarda-chuva que abriga além da IFM também a Multipla (patrocinada por Sesc, Senac e Federação do Comércio) e a GebsaPrev (patrocinada pela GE, com três planos). Nos últimos anos a IFM tem conquistado importantes planos, como os patrocinados pela Kenvue (um spin-off da Johnson & Johnson), pelas farmacêuticas Sandoz e Pfizer e pela empresa de eletricidade EDP, que terceirizou a gestão da sua fundação Enerprev.
As duas últimas conquistas da IFM foram a Fundação Supre, patrocinada pela empresa de telecomunicações Sercontel, de Londrina, e o plano da Copa Energia, patrocinado pela empresa de distribuição de GLP do mesmo nome, com patrimônios de R$ 330 milhões e R$ 122 milhões, respectivamente.
O foco da IFM está em fundações de patrocínio privado, que são regidas pela Lei Complementar 109, sem qualquer direcionamento em relação à regiões geográficas ou a setores econômicos. Assim como os multipatrocinados do Bradesco e da Vivest, a IFM também não pretende disputar os RPC junto aos entes federativos. “Não são o nosso foco”, diz.
Já em relação aos instituídos, a entidade lançou no ano passado um plano família abrigado na Abrapp, cujos trâmites legais levaram seis meses para serem finalizados e que recebeu o primeiro aporte em setembro. “É um plano que a gente consegue efetivamente segmentar, oferecendo planos individuais e até para empresas através de portabilidade”, explica Chateaubriand. “A gente tem uma oportunidade aí, porque muitos participantes acabam querendo um plano para oferecer aos familiares”.
Segundo o diretor da IFM, os 30 anos do plano completados neste ano são uma credencial bastante importante na hora de prospectar clientes. “Eu acho que isso traz muita credibilidade”, diz. Ele comenta que paralelamente à essa longevidade o plano traz inovações tecnológicas importantes, como o IAP-Prev, um sistema que permite a interação e comunicação com todos os stakeholders, como patrocinadora, atuários etc. “Qualquer informação importante que transita na companhia, todos ficam sabendo”, explica.

Novos concorrentes também miram crescimento do mercado

DevaiJr,Silas(Viva) 21mai 02Fora do pelotão principal, novos concorrentes como a MAG Previdência e Viva Previdência, entre outros, também buscam se assenhorar de uma fatia desse mercado em consolidação. Eles sabem que os potenciais clientes estão em busca de terceirizar a gestão dos planos, primeiramente, por uma questão de custos. “A manutenção da governança de um fundo de pensão não é barata, ela é cara”, diz Silas Devai Junior, presidente da Viva Previdência. “Se você não tem muita escala, fica difícil mesmo”.
A Viva, que se classifica como uma fundação multipatrocinada e multiinstituída, possui seis planos, dos quais cinco ativos e um fechado. O Viva Empresarial abriga servidores do fundo Geap Autogestão em Saúde, funcionários da Funpresp-Jud e também da própria Viva; o Viva Federativo abriga planos de previdência de entes federativos; o Viva Futuro é direcionado aos associados dos Conselhos Regionais de Odontologia, de Administração e de Contabilidade; o Viva Pecúlio, que está fechado, é direcionado a várias associações e sindicatos de trabalhadores; o AnaparPrev é voltado aos associados da Anapar; e o IBAPrev é voltado aos associados do IBA.
Segundo Devai Jr, a Viva possui atualmente cerca de 35 mil participantes e patrimônio consolidado de R$ 3 bilhões. No planejamento estratégico da entidade, a prioridade é aumentar a adesão de participantes dentro dos atuais planos. “A gente entende que está ai o maior potencial de crescimento”, explica.
Isso não quer dizer que a entidade abandonará a busca por novos planos ou mesmo por novas empresas. Manterá prospecções em todas as frentes onde atua, incluindo as pequenas fundações de patrocínio público ou privado, assim como planos patrocinados de entes federativos e planos instituídos de associações. “A gente não tem, teoricamente, nenhuma discriminação contra nenhum setor”, diz.

Martins,LuisRicardoMarcondes(Abrapp) 19dezSaindo do rouba–monte – Já para a MAG Fundo de Pensão, mais do que consolidar pequenas entidades que estão em busca de redução de custos, a estratégia é propor novos planos para empresas menores. “Assim, a gente sai desse jogo de rouba-monte”, diz o presidente do multipatrocinado, Luís Ricardo Martins. “Para isso, evidentemente, a gente precisa de uma agenda de fomento, a gente precisa de políticas públicas para alcançar novas empresas, novos participantes.”
A MAG Fundo de Pensão administra atualmente cerca de 12 planos, sendo sete de patrocinadores/instituidores regulados pela Lei Complementar 109 e cinco de entes federativos regulados pela Lei Complementar. No total, o patrimônio consolidado administrado por ela é de cerca de R$ 200 milhões.
Assim como a Viva Previdência, a MAG Fundos de pensão também não tem vedação a nenhum segmento, incluindo em sua estratégia de crescimento tanto empresas menores com potencial de patrocinar planos de previdência quanto estados e municípios que já estão criando seus fundos mas ainda não aderiram à nenhuma Entidade Fechada de Previdência Complementar (EFPC).
Para Martins, uma medida salutar seria flexibilizar o uso dos recursos de Plano de Gestão Atuarial (PGA), de forma à que as entidades pudessem dispor desses recursos para ações de marketing e prospecção de novas empresas/patrocinadores. Além disso, ele cita a necessidade de mudança na obrigatoriedade de oferecer a previdência dos planos de estados e municípios apenas aos funcionários que ganham acima do teto do INSS. “Na verdade, isso é um obstáculo. Um obstáculo sobre o qual a gente precisa fazer um debate, né?”