Edição 116
Mercado promissor, emprego garantido e boa remuneração. Esta trinca de atributos tem levado um bom número de jovens a optar por uma faculdade de ciências atuariais na hora de escolher a profissão. A remuneração é considerada acima do padrão verificado em outras áreas. Nos últimos três anos houve uma evolução no salário médio anual desses profissionais na ordem de 50%. Com pouca oferta no ramo, um atuário recém-formado tem rendimento médio anual de R$ 21.600,00, o que representa um salário mensal de quase R$ 1.800,00. “ Dependendo do grau de experiência, esse valor pode chegar a até R$ 14 mil mensais”, comenta o vice-presidente da Canada Life Vida e Previdência, Julio Cesar Felipe.
Apesar dos salários atraentes, o nível de desistência dos cursos é elevado. Nas primeiras quatro turmas de Ciências Atuariais da Universidade Federal do Ceará (UFC), por exemplo, de 25 alunos que entraram, apenas 8 terminaram. A média de candidatos por vaga nessa mesma universidade foi de 7 para 1 no vestibular do ano passado.
Vários fatores têm impulsionado o mercado de atuários, cujo primeiro grande impulso veio com a implantação do Real, em 1994. Com a estabilidade proporcionada pelo Real, que deu às empresas uma maior capacidade de planejamento, o setor segurador experimentou um grande crescimento junto aos segmentos industrial e comercial. Além disso, com o aumento do número de roubo de carros, houve um crescimento também no segmento de pessoas físicas, fazendo com que a demanda por profissionais de atuária explodisse no setor de seguros. “No caso de roubo de um automóvel segurado, o profissional de atuária calcula as tarifas para que a empresa seguradora não saia no prejuízo”, explica o coordenador do MBA em Gestão Atuarial e Financeira da Universidade de São Paulo (USP), Luiz João Corrar.
Além do setor de seguros, também houve uma explosão de demanda por esses profissionais para os mercados de previdência fechada e aberta, para calcular os planos. Outros setores que recentemente passaram a demandar profissionais de atuária foram os institutos de previdência de estados e municípios e os sindicatos e associações de classe.
Buscar recém-formados nas faculdades é o caminho natural de consultorias, seguradoras e assets. “A contratação de trainees acontece com bastante regularidade”, afirma o atuário Emílio Recamonde Capelo, também coordenador do curso na UFC. Além de vagas para recém-formados, o mercado para os profissionais plenos e sêniors é bastante disputado por empresas que estão chegando.
A canadense Canada Life Pactual desembarcou no País em 2000 entusiasmada com a expectativa do mercado segurador local e se estruturou com uma equipe de cinco atuários para os ramos de vida e previdência. A busca pelos profissionais com perfil ideal, no entanto, não foi fácil. “Se já é pequeno o número de atuários, o número daqueles que se dedicam ao ramo previdenciário é ínfimo”, desabafa Felipe.
Para o diretor do Instituto Brasileiro de Atuária (IBA) e dono da consultoria HR, Heitor Rigueira, há uma certa dose de exagero quando se pensa que a procura pelos cursos de Ciências Atuariais deve se estender por muito mais tempo. “O mercado não é assim tão grande”, garante o atuário Rigueira. “Não sou pessimista, mas realista”, diz ele. “Além disso, há um certo clima de indefinição no ar, com mudanças na legislação que rege os fundos de pensão, o que deve dificultar um pouco esse mercado”, aposta.
Empolgação – A UFC inaugurou o curso de Atuária em 1993 e, depois de uma longa burocracia (deu entrada a três processos de reconhecimento para o Curso), ele foi reconhecido apenas em dezembro do ano passado, com validade por cinco anos. Até agora, a universidade cearense formou 32 atuários, que já obtiveram o registro profissional no Ministério do Trabalho e no Instituto Brasileiro de Atuária, ambos no RJ. Todos estão empregados e quase todos exercendo a profissão, conforme conta o atuário Capelo.
Com duração mínima de cinco anos, o curso de atuária da UFC tem as seguintes disciplinas: Matemática, Estatística, computação, atuária, demografia, direito, economia, contabilidade e administração e finanças.
O coordenador do MBA em Gestão Atuarial e Financeira da USP, Luiz João Corrar, acha que a proliferação de faculdades em todo o País – nem todas com bom nível de ensino – pode estar comprometendo a boa formação desses profissionais. “Dificilmente um profissional recém-formado tem uma visão geral da ciência atuarial. A deficiência é técnica ou na área de negócios, mais conhecida por lidar na administração dos ativos e controladoria de fundos de pensão e seguradoras. Falta o meio-termo”, revela Corrar, lembrando que a procura por MBA em Ciências Atuariais ainda é pouco concorrida. Na USP a média é de 3,1 candidatos/vaga.
O MBA em Ciências Atuariais da USP tem duração de um ano e meio e é feito em convênio com a Fipecafi (Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas, Contábeis, Atuariais e Financeiras), mas o diploma é expedido pela universidade. Se não é motivada pelo concorrido vestibular, a baixa procura pode estar relacionada ao custo – os interessados desembolsam R$ 17.500 por três semestres. Para ingressar, o interessado no MBA deve ter concluído graduação em qualquer área, passar por um exame de currículo, por uma entrevista e submeter-se a uma prova de múltipla escolha nas disciplinas língua inglesa, matemática financeira, cálculo, estatística e finanças.
Segundo o professor Corrar, a classe é muito eclética. “Temos muitos engenheiros, economistas, médicos – que dirigem planos de saúde –, advogados e mesmo atuários buscando enriquecer a profissão”, diz. O MBA da USP já formou dez turmas, das quais a primeira foi fechada para 30 dirigentes e atuários da fundação CESP.