Edição 128
A subida do IGP-M, que num primeiro momento ampliou o número de fundos atrelados a esse indicador, já começa a produzir um efeito contrário ao inicial. Nas últimas semanas, várias instituições encerraram captações para os seus fundos de IGP-M, temerosas dos efeitos que uma eventual mudança no comportamento desse índice, de ascenção para queda, poderia ter. Nessa situação, clientes que estão no fundo em busca apenas de rentabilidade e não de proteção de passivos, poderiam pedir resgate em massa e forçar a instituição a vender títulos de longo prazo com prejuízos, produzindo cotações negativas e prejuízos aos clientes que ficassem.
“Qualquer notícia de deflação poderia gerar uma onda de resgates, num fundo que opera basicamente com papéis de longo prazo” explica o vice-presidente da BBA Investimentos, Diniz Bernardo Nunes. O BBA fechou os dois fundos de IGP-M que tinha, um FIF e um FAC, que somavam patrimônio de R$ 52 milhões.
A preocupação em inibir a volatilidade estava presente já na política de constituição dos fundos do BBA Investimentos. Por essa política, nenhum aplicador poderia deter mais de 3% do patrimônio do fundo. “Tentamos, desde o início, evitar que houvesse concentração para que os resgates não causassem impacto nas cotas dos que ficassem”, explica Nunes. “Mas começaram a entrar investidores de curto prazo e resolvemos encerrar a captação”.
O que acontece é que o mercado de IGP-M é formado basicamente por papéis de longo prazo, de no mínimo 1 ano de prazo, e não há um mercado secundário constituído para negociar esses papéis em caso de necessidade de venda antecipada. Assim, no caso de surgir essa necessidade de venda para fazer frente a resgates, a saída é vender com grandes prejuízos e repassar esses prejuízos às cotas restantes.
Outro que também encerrou as captações do fundo de IGP-M foi o Banco do Brasil, deixando de receber novos aportes para o BB Atuarial no início de novembro. Entretanto, na mesma data o BB criou um novo fundo de IGP-M, o BB Atuarial LP, só que esse com uma carência de seis meses para o primeiro resgate. “Os fundos de índice de preços são para proteção e não para especulação”, diz o diretor de administração da BB DTVM, Nemésio Altoé.
“Como o IGP-M é razoavelmente previsível, mantendo-se a liquidez diária haveria uma tendência de migração para ele toda vez que se percebesse que sua tendência é de alta e um resgate massivo toda vez que se percebesse que sua tendência é de baixa”, explica Altoé. “Quando o dólar começa a cair, como já se sabe que logo à frente o IGP-M cai também, uma carência mínima pode evitar que os aplicadores saquem antes”.
O BB Atuarial foi fechado com um patrimônio de R$ 707 milhões, enquanto o BB Atuarial LP captou apenas R$ 6 milhões no seu primeiro mês de mercado. “O perfil do Atuarial LP é para o investidor que quer ter um hedge em IGP-M e não para o investidor que quer remunerar o fluxo de caixa da sua empresa”, diz Altoé.
Outra instituição que também encerrou um fundo em IGPM é a Caixa Econômica Federal. No final de setembro último a Caixa fechou a captação do Patrimônio, um FIF de R$ 1,06 bilhão e ticket mínimo de R$ 100 mil. Continua a operar, no entanto, o Capital, um fundo de ticket mínimo de R$ 1 mil que a Caixa havia aberto no final de agosto e que hoje já possui patrimônio de R$ 2,5 bilhões.
“Por enquanto não estamos pensando em fechar a captação do Capital, mas eventualmente podemos vir a pensar nisso”, admite o vice-presidente da Caixa Asset, Edson de Oliveira Jr. Segundo ele, a rede de varejo da Caixa tem sido orientada a mostrar aos aplicadores que o Capital é um fundo que pode ter volatilidade alta e que a rentabilidade atual pode não se manter. Em Outubro, o Capital rendeu 4,88% enquanto o Patrimônio rendeu 6,10%.