Incorporação bilionária | Fundo de pensão da BRF recebe transferê...

Francisco Ferreira AlexandreEdição 248

 

Depois de incorporar o plano de benefício definido da antiga Sadia no final do ano passado, o fundo de pensão BFPP (patrocinado pela BRF – antiga Brasil Foods) está começando a aplicar uma nova política de investimentos para a carteira transferida, avaliada em R$ 2,2 bilhões. Junto aos cerca de R$ 350 milhões que já constituíam o patrimônio do fundo de pensão, a nova política de investimentos, que vale para o período de 2013 a 2017, deve impulsionar mudanças graduais na composição de um portfólio de R$ 2,55 bilhões. Além disso, o fundo da BFPP recebeu também a transferência de cerca de R$ 40 milhões de planos do tipo PGBL (Plano Gerador de Benefício Livre), que eram administrados pelo HSBC, que os funcionários da antiga Sadia vinham participando nos últimos anos.

Após a incorporação dos planos, a BFPP ficou com um patrimônio que a coloca no seleto grupo das 40 maiores fundações do país. O processo de reestruturação dos fundos de pensão da Sadia (Fundação Attílio Fontana) e da Perdigão é uma decorrência da fusão de suas patrocinadoras. A fusão das duas gigantes do setor alimentício a partir de 2009 deu origem à Brasil Foods, a maior exportadora e produtora de carnes processadas do mundo e a segunda maior empresa alimentícia do Brasil – atrás apenas da JBS Friboi. Antes disso, a Perdigão já era uma empresa em que os grandes fundos de pensão, como a Previ, Petros e Valia, detinham o controle acionário.
Sob o comando de Nildemar Secches, executivo de confiança indicado pelas fundações, a companhia foi crescendo e acumulando resultados positivos, até chegar ao ponto de promover a fusão com a principal concorrente, a Sadia. Recentemente Nildemar anunciou sua aposentadoria e deu lugar a Abílio Diniz, no comando do conselho de administração da BRF.
Além de Nildemar, um outro executivo menos conhecido, também teve papel importante em todo o processo de fusão. Francisco Ferreira Alexandre, foi diretor de administração da Previ durante oito anos, de 2003 a 2010. Na época, ele ocupava a vice-presidência do conselho de administração da Perdigão, como representante da Previ, e manteve a mesma posição após a fusão e o surgimento da Brasil Foods (até abril de 2011). Como vice-presidente do conselho, ele foi designado para coordenar o processo de reestruturação dos fundos de pensão das duas empresas. No início de 2012 ele coordenou um estudo que indicou a incorporação do plano da Fundação Atíllio Fontana (FAF), da antiga Sadia.
Como consequência do processo, o executivo foi indicado para ocupar o cargo de diretor superintendente da BFPP, assumindo em novembro do ano passado. A data coincidiu com a incorporação efetiva do plano e dos recursos da FAF pelo fundos de pensão da BRF com a aprovação da Previc – Superintendência Nacional de Previdência Complementar. Antes disso, a BFPP contava com patrimônio de pouco mais de R$ 300 milhões e cerca de 16 mil participantes. Com a incorporação, foram somados os recursos provenientes do plano da antiga Sadia, e ainda um plano do tipo PGBL, que era oferecido para os funcionários novos da empresa.
O plano da Sadia, administrado pela Fundação Atíllio Fontana, era do tipo benefício definido e estava fechado para novas adesões. Como alternativa, a empresa vinha oferecendo um PGBL para os novos funcionários, que contava com administração da seguradora do HSBC. Os funcionários da Sadia tiveram a opção de transferir o PGBL para o plano de contribuição definida (CD) administrado pela BFPP. “Tivemos um alto índice de transferência do plano aberto para a BFPP, cerca de 90% dos participantes decidiram aderir. Acredito que eles verificaram que o fundo de pensão registrou alta rentabilidade nos últimos anos, além de oferecer uma taxa de administração bem mais baixa que o PGBL”, diz Francisco Alexandre.
Ele explica que o custo administrativo da BFPP alcançou níveis reduzidos, em torno de 0,31% ao ano. “O baixo custo administrativo é possível devido ao ganho de escala obtido com maiores volumes de recursos”, diz o diretor superintendente.
Atualmente a BFPP conta com cerca de 35 mil participantes, dos quais 5,3 mil são assistidos.
Política de investimentos – A carteira de investimentos do plano transferido da FAF está passando por um processo de reestruturação gradual. As mudanças estão sendo delineadas pela nova política de investimentos aprovada no final do ano passado e que valem para o período de 2013 a 2017. A maior concentração em renda fixa, cerca de 78% que prevaleceu até o final de 2012, deve sofrer redução, até chegar a cerca de 65%. Em compensação, a renda variável deve crescer dos atuais 14% para cerca de 20%. As mudanças principais, porém, concentram-se nas carteiras de imóveis e estruturados. Ambos segmentos devem dobrar de tamanho, saindo de 3,5% para cerca de 7% cada um.
A carteira transferida ainda está praticamente igual à situação que a recebemos. Mas agora estamos começando a promover as mudanças, iniciando pela carteira de imóveis”, diz Francisco Alexandre. Ele conta que já foi realizada a compra de um imóvel comercial na região do Brooklin (avenida Verbo Divino esquina com Nações Unidas) no valor de R$ 14 milhões. “Já adquirimos uma lage comercial e estamos analisando outros dois imóveis corporativos em São Paulo”, diz. Os outros dois imóveis estão localizados na avenida Paulista e outro na Faria Lima. “Acreditamos que o mercado de imóveis ainda apresenta boas perspectivas no segmento de edifícios corporativos de alto padrão”, explica.
A política de aumento dos imóveis e investimentos estruturados está enquadrado no contexto de taxas de juros mais baixas dos títulos públicos e da renda fixa em geral. O segmento de fundos estruturados também é uma alternativa para a BFPP, ainda que a fundação não tenha iniciado processo de avaliação de fundos e gestores. “Estamos deixando os investimentos estruturados para uma segunda fase de avaliação”, diz o diretor superintendente.
Outro segmento que a fundação da BRF está analisando é o de renda variável. A entidade deve selecionar um fundo da asset MSquare, que conta com distribuição da Itajubá. “Estamos buscando fundos de valor, que possam trazer um ganho diferenciado na renda variável”, diz Francisco Alexandre. Ele explica que a carteira de renda variável deve reduzir gradualmente a indexação ao Ibovespa e IBrX – índices mais tradicionais da bolsa – em direção a uma gestão mais ativa e diferenciada. Neste sentido, outro projeto da fundação é a abertura de uma carteira própria de ações, que adote um modelo de análise fundamentalista, a partir do segundo semestre de 2013 ou início do próximo ano.
Equipes – Por enquanto, as equipes dos fundos de pensão da BFPP e Atíllio Fontana foram mantidas integralmente. Para a direção da BFPP, foram aproveitados um diretor de cada fundação, para a área de benefícios e outro para investimentos. “Decidimos manter as duas equipes, pois os sistemas ainda estão rodando separados. A unificação dos sistemas dever ser concluída no final do primeiro semestre deste ano”, diz Francisco Alexandre.
Ele comenta que é importante manter as equipes, pois é a forma mais adequada de preservar a experiência na gestão dos planos das entidades. Desta forma, os profissionais têm condições de resgatar o histórico de problemas e mudanças que sofreram os planos de benefícios e o relacionamento com os participantes.

Perda de participantes e recursos de unidades vendidas

As mudanças nos fundos de pensão da BRF não envolvem apenas ganho de escala. Também há algumas perdas, decorrentes de unidades que tiveram que ser vendidas por determinação do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) do Ministério da Justiça. É que devido a um termo de ajuste de conduta que surgiu no processo de fusão das patrocinadoras, a BRF foi obrigada a alienar algumas unidades da Sadia – abatedouros de frangos e suínos.
Como os compradores dos abatedouros não têm fundo de pensão e nem tiveram a iniciativa de criar planos de previdência, a Fundação Atíllio Fontana (FAF) teve que entrar com pedido de retirada parcial de patrocínio, relacionado às unidades vendidas – Duque de Caixas (RJ), Três Passos (RS) e Brasília (DF). No total, saíram cerca de 1700 participantes da fundação, que possuem reservas de seus planos da ordem de R$ 18 milhões. O processo de retirada de patrocínio foi aprovado pela Previc no início de maio.
A FAF ainda continua existindo como entidade fechada, mas também está em processo de incorporação pela BFPP. O que foi incorporado em um primeiro momento foi seu plano de benefícios, mas nos próximos meses deve ser finalizado o processo que envolve a entidade, que deixará de existir totalmente.