Hora do acerto de contas | Maioria das fundações acha improvável ...

Edição 109

A pouco menos de um mês para encerrar 2001, as fundações já se debruçam sobre as planilhas para avaliar os estragos de um ano excepcionalmente incomum. Poucas têm o que comemorar. Apesar da substancial melhora do desempenho do mercado de ações em outubro e em novembro, reduzindo a perda do Ibovespa acumulada no ano à metade, de 30% para 15%, a performance média dos fundos de pensão ainda está bastante aquém das metas atuariais. Balanço preliminar feito pela Fundação Eletros com 350 fundações mostra que a rentabilidade média acumulada até novembro é de 8%, contra uma meta de 14% (se o indexador for o INPC), ou de 16% (IGP-M). As carteiras de renda variável dos 350 fundos avaliados tiveram desempenho médio negativo de 5,2% até novembro, contra um Ibovespa acumulado de 15%, enquanto as carteiras de renda fixa alcançaram rentabilidade de 14,8%; os imóveis, 5,7%; e os empréstimos a participantes, 11,5%.
A rentabilidade média de 8% nominais acumulada até novembro é bem mais confortante que os 4,5% registrados até o final de setembro, mas ainda assim não permite a ninguém um sono mais tranqüilo. Jair Ribeiro, gerente de risco da Eletros, que reuniu os dados com base na alocação de recursos dos fundos de pensão divulgados para a SPC, lembra que se forem considerados os provisionamentos do IR, os rendimentos são ainda mais baixos: média de 6,1%. Para Ribeiro, mesmo as fundações que têm 100% dos investimentos na renda fixa terão dificuldade para atingir a meta. O CDI acumulado até novembro registra rentabilidade de 15,6%, contra meta atuarial de 16,2% (IGP-M), e de 13,9% (INPC). Ou seja, qualquer exposição em Bolsa, ainda que pequena, prejudica a carteira como um todo. Ribeiro está convicto de que 2001 será mesmo de prejuízos. Até mesmo a carteira global da Eletros registrava rentabilidade acumulada de 13,1% contra uma meta atuarial de 13,9%, no final de novembro.
Eliane Lustosa, diretora de investimentos da Petros, já esteve mais pessimista há dois meses. Agora, confia que a meta atuarial será atingida se o Ibovespa subir cerca de 10% em dezembro. Mesmo com operações lucrativas na carteira de giro, que resultaram em ganhos de até 50% até o final de setembro, a rentabilidade da carteira de renda variável da Petros fechou outubro negativa em 11,6%. Os ganhos na carteira de giro foram obtidos basicamente com venda de ações da Copel ON, adquiridas em dezembro do ano passado. Outra operação lucrativa foi a venda da participação na Americel e Telet (ganhos de 280% e 175% sobre o valor das ações contabilizados em dezembro de 2000), que resultou num ganho de 4% na carteira de participações da Petros. Mas, em um ano sombrio, e praticamente perdido para as fundações, estar exposto em 25% na renda variável, como no caso da Petros, é fator quase irreversível para bater a meta. Resta torcer.
Já Marcelo Neves, gerente de investimentos da Fundação São Rafael, dos empregados da Xerox, não consegue ser otimista. “Tudo o que tinha de dar errado deu”, desabafa. Mesmo com baixa exposição em Bolsa – 13% na renda variável – será difícil cumprir a meta. A São Rafael acumula rentabilidade negativa de 19% na carteira de renda variável até o final de outubro, mas o rendimento total da carteira estava positivo em 8,1%, contra meta atuarial de 14,4% (IGP-DI) no mesmo período. A saída para driblar um ano como este foi investir em papéis indexados ao IGP-M. A carteira de renda fixa, com rendimento de 14,6%, praticamente empatou com a meta, mas o mau desempenho da Bolsa jogou a rentabilidade para bem abaixo da meta (8,1%).
A Valia ainda não computou os dados de novembro, mas até o final de outubro sua rentabilidade era de 14,85%, contra meta atuarial de 14,80%. Para o diretor de investimentos e finanças da Valia, Manoel Cordeiro, “o resultado é bastante satisfatório” se levar em conta que o indexador da meta atuarial é o IGP-DI, que registrou alta (9,37%) bem mais acentuada que o INPC (7,25%) no acumulado até outubro. O fundo de pensão dos empregados da Vale do Rio Doce conseguiu rentabilidade positiva de 13,4% na renda variável. Uma proeza se comparado ao desempenho médio das carteiras das fundações, de 15,4% negativos até outubro. Só na carteira de giro, a rentabilidade foi de 10%, mas o ganho maior veio da venda da participação da Americel e Telet (por R$ 34,5 milhões), que representou lucro três vezes maior se considerado o valor de mercado das ações (R$ 8,1 milhões) e de quase o dobro do total investido (R$ 17,9 milhões). Também os investimentos em project finance proporcionaram à fundação rentabilidade de 18,8% ou cerca de 150% do CDI. Ainda na renda variável, as aplicações na carteira institucional, que priorizam os investimentos de longo prazo, perdeu 3%.

Empréstimo reduz perdas – A Derminas, fundo dos empregados do DER-MG, soube tirar proveito da segurança de emprestar dinheiro aos participantes. A rentabilidade acumulada na carteira de empréstimos registra desempenho positivo de 16,05%, contra uma rentabilidade negativa de 25,47% na renda variável até o final de outubro. A carteira de empréstimos atinge 3,3% do patrimônio mas será ampliada para 10%. “O risco é zero e o retorno são vantajosos”, justifica Adilson Andrade Soares, contador e um dos responsáveis pela área de investimentos. Os participantes pagam juros de 2,5% mensais com prazo de até 24 meses. Até outubro deste ano pagavam taxas de juro mensais de 1,5% mais a variação do INPC. O rendimento da carteira total acumula 10,01% até outubro, contra meta atuarial de 13,68% (INPC mais 6%).
A Celos, fundo de pensão dos empregados da Celesc, acumulava até o final de outubro rentabilidade de 6,58% na carteira total, quase sete pontos percentuais abaixo da sua meta atuarial (IGP-M mais 6% ao ano), que contabilizava 13,37% no mesmo período. Com as altas de 6,8% da Bolsa em outubro e de 13,8% em novembro, a fundação aproveitou para fazer troca de ações e tentar reduzir o prejuízo na carteira de renda variável, que era de 10% até o final de outubro. Segundo Zumar Pereira, gerente de investimentos da Celos, os papéis mais girados nos últimos dois meses foram Telemar, Telesp Celular, Brasil Telecom e Ambev. A carteira global acumulava rentabilidade de 8,7% até outubro, contra uma meta atuarial de 13% (IGP-M) mais 6% ao ano. O Geap, fundo de pensão multipatrocinado por empresas públicas federais, registrava até o final de outubro rentabilidade de 6,08%, contra meta atuarial de 13,68% (INPC mais 6%). César Buzin, consultor de investimentos, prevê um “empate” da meta atuarial com o desempenho global da carteira se o Ibovespa atingir a marca dos 14.500 pontos.
Segundo o consultor da Performance Portfolio, Everaldo França, com as prováveis perdas de rentabilidade este ano, algumas fundações já estão contabilizando as perdas atuariais em seus planos de benefício definido e calculando o impacto que terá sobre os custos dos planos no ano que vem. Ele recomenda o aumento de papéis indexados a índices de inflação na carteira para ajudar no cumprimento da meta atuarial. Para o consultor da William M. Mercer, Lauro Araújo, é sempre bom lembrar que, no longo prazo, o retorno das aplicações em ações supera o da renda fixa. Quem manteve uma alocação de 25% na renda variável e de 75% na renda fixa nos últimos 25 anos obteve retorno de 15% acima do IPC da Fipe, contra um retorno de 9,17% no mesmo período para quem ficou 100% na renda fixa.