Gestão diferenciada por plano | Fundação Celos realiza segregação...

CUNHA: perfis adequados de riscoSANTORO: controle operacionalEdição 238

 

O Celos, fundo de pensão da Celesc, está promovendo um intenso processo de reestruturação de sua gestão de investimentos. As mudanças começaram a ser estudadas em 2010, mas foi no final do ano passado e no início de 2012 que se concretizaram por meio da segregação real dos ativos para cada um dos planos de benefícios da fundação. A reestruturação não para por aí, pois a direção do Celos planeja realizar estudos de Asset Liability Management (ALM) para seus dois planos de benefícios, para depois mudar a alocação dos recursos de acordo com as necessidades dos passivos.

A fundação acumula patrimônio de R$ 2,7 bilhões, dos quais R$ 2,2 bilhões são ativos alocados no mercado financeiro e imobiliário. Outros R$ 500 milhões são dívidas da patrocinadora (Celesc – Centrais Elétricas de Santa Catarina). A principal mudança promovida até agora pela área de investimentos da fundação foi a segregação real dos ativos referentes aos planos de Benefício Definido (denominado transitório) e de Contribuição Variável (chamado de misto). O plano do tipo BD concentra cerca de 20% do patrimônio da fundação. “O plano transitório tem maior número de aposentados e assistidos e menor longevidade. Por isso, deve seguir um perfil de risco mais conservador”, diz Marcos Alberto da Cunha, gerente de investimentos do Celos.

O plano misto foi criado em meados da década de 1990 e recebeu a migração de participantes do plano BD. Atualmente, acumula maior parte do patrimônio do fundo de pensão (cerca de 80%). “O plano misto é mais novo, tem maior número de participantes ativos e pode assumir maiores riscos com investimentos de prazo mais longo”, afirma o gerente. O executivo explica que uma das motivações para a segregação dos ativos é a possibilidade de realizar uma gestão diferenciada para cada um dos planos, mais adaptada ao perfil de cada um.

“Como temos planos de benefícios com características bastante diferentes, vimos que era mais saudável promover uma segregação real dos ativos. Com isso, ganhamos maior capacidade de aplicar uma política de investimentos diferenciada para cada plano”, reforça. A mudança na alocação dos recursos, porém, ainda não começou, pois depende da realização de estudos de ALM para cada um dos planos. Durante o mês de junho, o fundo de pensão está recebendo e analisando propostas de consultorias para selecionar uma delas para preparar o estudo.

Ao longo do segundo semestre serão avaliadas as premissas dos planos de benefícios. Só depois disso é que será iniciada a fase de reestruturação da alocação dos recursos, com a finalidade de melhorar a aderência às necessidades do passivo. “Depois da realização do ALM é que teremos uma visão mais aproximada das reais necessidades para cobrir os passivos ao longo do tempo”, explica Cunha.

De qualquer forma, o processo de segregação dos ativos já provocou uma intensa reestruturação das áreas da fundação. “Tem sido uma mudança administrativa grande, com a implantação de sistemas e controles mais eficientes”, afirma o gerente. A segregação dos ativos inclui a identificação dos recursos logo na entrada, ou seja, na origem de cada plano. Para isso, foi necessário reorganizar toda a parte operacional e de gestão de recursos do fundo de pensão.

Novas carteiras –A nova estrutura dos investimentos do fundo de pensão adotou um modelo classificado como de segregação mista. Foram criados FICs exclusivos (fundos de investimentos em cotas) para cada segmento de aplicações. “O novo desenho incluiu a criação de fundos que chamamos de vértice, que aplicam os recursos em cotas de outros fundos de investimentos do mercado”, aponta . Cada um dos FICs é dividido de forma a balancear os recursos de cada plano de benefícios. Por exemplo: o FIC de renda variável pode ter 90% das cotas para o plano misto e 10% para o plano transitório.

Antes da implantação do novo modelo, a fundação contava tanto com fundos exclusivos quanto com carteiras próprias compostas por aplicações em fundos abertos. “Era um modelo que dificultava o acompanhamento e identificação dos recursos de cada plano de benefícios”, diz o gerente. Com o novo sistema, o controle operacional e contábil é mais fácil, com menor risco de erros.

“A segregação real dos ativos permite melhor diferenciação de estratégias específicas para cada plano. O controle operacional fica mais fácil e minimiza os riscos de erro de cálculo da cota”, explica Raphael Santoro, consultor sênior de investimentos da Mercer.

A Mercer já realizava consultoria de investimentos para o Celos e também foi responsável por auxiliar a fundação no processo de segregação real das carteiras. “Temos percebido maior interesse de alguns grandes fundos de pensão em promover o processo de segregação real dos ativos, principalmente depois da crise financeira mundial de 2008”, indica Santoro. O consultor acredita que os grandes fundos de pensão, que possuem planos tipo BD, é que apresentam melhores condições para promover esse tipo de mudança. Ele defende também que o processo representa um passo importante em direção à blindagem dos riscos do plano de Benefício Definido.

“Entidades com grandes planos BD conseguem mais vantagens com a segregação e ao mesmo tempo podem arcar com o aumento do custo de gestão”, diz o consultor da Mercer. É que a segregação real e a implantação de novas carteiras requerem um custo diferenciado de gestão. “São novos custos de auditoria e registro na CVM [Comissão de Valores Mobiliários], entre outros. Acredito que é vantajoso para os fundos de pensão maiores”, ressalta Santoro.

Segregação virtual – Para as pequenas e médias entidades, a saída é trabalhar com um sistema de segregação virtual dos ativos para cada plano. “É uma questão de escala: a segregação virtual tem um custo menor, apesar de maior risco operacional”, compara o consultor. Em todo caso, seja real ou virtual, existe a indicação da Resolução 3.792 do Conselho Monetário Nacional (CMN) no sentido de efetuar o controle da gestão dos ativos para cada plano de benefícios.

Além da resolução, a Superintendência Nacional de Previdência Complementar (Previc) tem cobrado dos fundos de pensão que o controle seja realizado de forma diferenciada. Ainda que a segregação real não seja obrigatória, a contabilidade precisa ser segregada.

A segregação real permite a aplicação de uma política de investimentos mais diferenciada e ajustada às necessidades dos diferentes passivos das entidades se comparada com o processo virtual. “A segregação real traz uma série de vantagens, desde uma facilidade para a marcação dos ativos na curva, quanto um melhor acompanhamento do desempenho dos gestores de acordo com o mandato de cada fundo de investimento ou carteira”, afirma Santoro.

Com a diferenciação das carteiras, é possível definir melhor as estratégias passiva e ativa dos gestores. “A segregação real facilita a implantação de estratégias específicas. Fica mais fácil diferenciar as estratégias de gestão e cobrar os resultados dos gestores, consequentemente, com taxas mais ajustadas”, acrescenta o consultor. Uma das preocupações dos fundos de pensão, que tem aumentado desde a crise de 2008, é a definição de estratégias ativas de gestão, que tragam resultados acima do benchmark e justifiquem as taxas de administração cobradas. O processo de segregação permite ainda a adoção de estratégias passivas, mais conservadoras, em geral voltadas para os planos BD, com custos menores.